Por Roger Godwin
Os Irmãos Muçulmanos, uma confraria islâmica que conduz o Egipto para um profundo abismo está, definitivamente, a tentar penetrar no norte do continente africano, aproveitando as “revoluções” que ali eclodiram faz agora sensivelmente dois anos.
Depois de terem conquistado o direito a estar no poder, por via do seu triunfo nas eleições realizadas no Egipto, os Irmãos Muçulmanos estão a consolidar posições na Tunísia e preparam-se, paulatinamente, para dirigir os destinos da Líbia.
Formada no Egipto, esta confraria, que inicialmente defendia um islamismo moderado, aos poucos transformou-se, radicalizando algumas posições, ao ponto de ser hoje uma das mais intransigentes defensoras da “sharia”, a lei islâmica que impõe uma série de limitações às mais variadas formas de expressão livre, em domínios como a educação, a cultura e a própria sociedade política.
Depois de terem falhado as suas tentativas de chegar ao poder nalguns países árabes, como o Iémen, a Síria e o Bahrein, os Irmãos Muçulmanos apostam agora na sua expansão para o interior do continente africano, havendo indícios da sua influência em países como a Somália, Eritreia, Níger e Nigéria, e as certezas de estarem fortemente implantados na Tunísia, Líbia e Egipto, não se sabendo se os seus projectos incluem incursões mais para o sul do continente. Actualmente, depois de consolidado o seu contestado poder no Egipto, a confraria está apostada em chegar ao poder na Líbia, aproveitando a desorganização ainda reinante e que se instalou após a morte de Muammar Kadhafi.
A estratégia que está a ser utilizada na Líbia foi a mesma que teve grande sucesso no Egipto e começa por intensas e bem organizadas campanhas de aliciamento junto da juventude, sobretudo a feminina.
A coberto do Partido da Justiça e Construção, que ajudou a criar, os Irmãos Muçulmanos vão reforçando a sua presença junto da juventude estudantil e penetrando nos bairros mais pobres das grandes cidades, oferecendo, gratuitamente, diversos tipos de serviços de assistência social que ajudam a minorar as dificuldades existentes e que resultam de um certo vazio de poder que surgiu após a queda do anterior regime. Nas eleições realizadas em Julho de 2012 os Irmãos Muçulmanos conquistaram apenas meia dúzia de lugares no parlamento, o que contrasta com os estrondosos triunfos obtidos na Tunísia e no Egipto. Esse resultado, que para quem não conhece a situação interna na Líbia pode ser considerado um desaire foi, na verdade, uma vitória não só porque o partido apenas havia sido formado quatro meses antes das eleições como, também, os próprios Irmãos Muçulmanos terem sido banidos e proibidos de se expressar durante o regime de Muammar Kadhafi.
Desde as eleições os Irmãos Muçulmanos, cuja organização central está sedeada no Egipto, abriu escritórios em todo o território líbio de forma a conseguir uma maior penetração junto da população. Em relação às outras organizações islâmicas que tentam aproveitar a actual situação na Líbia, os Irmãos Muçulmanos têm a vantagem de terem uma organização com experiência política e possuidora de quadros capazes de desempenhar actividades sociais mobilizadoras em termos de votos eleitorais. Actualmente, os Irmãos Muçulmanos já controlam política e religiosamente cidades como Benghazi e Misrata, a segunda e a terceira do país, estando agora a apontar as suas baterias para a capital, Trípoli.
Nesta sua estratégia de expansão, os Irmãos Muçulmanos contam com a valiosa ajuda da cadeia de televisão Al Jazeera, pertencente ao governo do Qatar e que de forma sistemática defende as posições expressas pela confraria e relacionadas com os conflitos no Egipto e nalguns países africanos que estão sob o seu ponto de mira.
Financiados por influentes homens de negócios do mundo árabe, os Irmãos Muçulmanos apostam na sua penetração junto das massas populares para a transmissão de mensagens religiosas que, mais tarde, conectam com as suas intervenções políticas, conseguindo com isso combater alguns poderes instituídos como sucede, por exemplo, na Nigéria, onde, sob o argumento de se distanciarem dos radicais do Boko Haram, estão a conseguir apoio internacional que os coloca ao nível do governo no que respeita à busca de uma solução pacifica para o problema do terrorismo. Os diferentes países africanos, mesmo os que não estejam localizados a norte do continente, não podem menosprezar o poder que os Irmãos Muçulmanos representam, devido, precisamente, à sua capacidade de penetração junto dos grupos islâmicos que pululam um pouco por toda a África. A sua invejável robustez financeira e poder organizativo são argumentos que fazem da confraria um dos grandes desafios para a estabilidade ao nível de todo o mundo. Mesmo países como os Estados Unidos têm tido enormes dificuldades em lidar com este fenómeno que está profundamente enraizado, também, no seu próprio território.
Anualmente, as universidades norte-americanas estão a licenciar estudantes oriundos do mundo árabe que, mais tarde, são potenciais dirigentes da confraria, sendo disso o maior exemplo o actual Presidente do Egipto, Mohammed Morsi, um homem que acabou os seus estudos nos Estados Unidos e que os próprios americanos apoiaram para suceder a Hosni Mubarak, com quem, agora, não sabem muito bem como lidar para evitar a total e radical islamização do país.
A mínima distracção em relação a este fenómeno político mascarado de religioso pode significar a assumpção de riscos imensos para países onde as populações ainda são sensíveis a diverso tipo de propaganda demagógica.
Fonte: Rádio Mocambique - 03.02.2013
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