Maputo, 05 mar (Lusa) - O escritor moçambicano Mia Couto considera que o discurso contra a pobreza em Moçambique "é pobre, repetitivo, fundamentado em chavões" e, por isso, não toca na realidade e não convence as pessoas.
Falando na semana passada numa aula inaugural na Escola de Comunicação e Artes da Universidade Eduardo Mondlane, intitulada "Da cegueira coletiva à aprendizagem da insensibilidade", Mia Couto criticou o facto de em Moçambique não se produzir um discurso inovador.O escritor e biólogo atribuiu esta situação à falta de um certo modelo de educação e a uma maneira de criar um espírito produtor de pensamento, que, considerou, não contribui para a elaboração de um pensamento próprio, produtivo e crítico.
"Hoje, parece-me que a maior pobreza que Moçambique tem é não produzir um discurso inovador. Mesmo o discurso contra a pobreza é um discurso pobre, repetitivo, fundamentado em chavões. E, por isso, não toca na realidade, não convence as pessoas, não vai a fundo dos assuntos", disse Mia Couto.
Desde a subida ao poder, em 2005, o Presidente moçambicano, Armando Guebuza, elegeu o combate à pobreza como a principal prioridade do seu Governo, contudo, dados do Instituto Nacional de Estatística de Moçambique indicam que a miséria tende a aumentar no país.
"O meu medo é que criemos uma espécie de tela, um cenário e pensemos que toda a gente acredita e, de repente, acontece qualquer coisa que nos faz alertar que, afinal, a situação não é tão feliz e boa assim, como aconteceu com as manifestações" de 01 e 02 de setembro de 2010, disse Mia Couto.
Moçambique tem, no entanto, feito descobertas de importantes minérios, que, segundo analistas económicos, poderá contribuir para o desenvolvimento do país.
Questionado sobre o impacto destas descobertas na redução da pobreza e desenvolvimento do país, o escritor moçambicano disse estar otimista com os investimentos que têm sido feitos na indústria extrativa.
"O país tem recursos. Há investimentos. Há sinais de crescimento económico. Mas isso não basta. A ideia de que isso só é uma garantia de que vamos chegar a esse tal futuro sem problemas, para mim não é suficiente. Mas sou muito otimista", disse Mia Couto.
Contudo, assinalou: "se houver estabilidade e possibilidade de que este país não entre numa convulsão, Moçambique pode ser um país bem diferente deste quadro que estou a referir, de uma África que se contenta com pouco e que pensa que a miséria é a sua maneira de existir".
MMT.
Lusa/Fim
Fonte: Notícias Sapo 05.03.2012
Sem comentários:
Enviar um comentário