A talhe de foice
Por Machado da Graça
A decisão do Conselho Constitucional de apenas permitir que concorram às próximas eleições presidenciais 3 dos 9 candidatos, deve ser considerada de duas diferentes perspectivas: a jurídica e a política.
Em termos jurídicos não me quero alargar muito, porque para isso me não considero devidamente habilitado. No entanto, apesar disso, devo dizer que a argumentação do conselheiro Manuel Franque, no seu voto de vencido, me parece bastante convincente.
Outras vozes que se pronunciaram, no mesmo sentido de Franque, reforçam a posição de que o Conselho Constitucional, agora já sem Rui Baltazar, começou a seguir um caminho preocupante em relação ao que à democracia moçambicana diz respeito.
Mais um tijolo no edifício do monopartidarismo que parece estarmos a reconstruir.
Mas há um aspecto jurídico que me parece bastante curioso. O Conselho Constitucional enviou à Procuradoria Geral da República documentação sobre os actos, aparentemente criminosos, dos candidatos agora afastados da corrida. Para que sejam criminalmente punidos.
Só que, se bem percebo, os três candidatos aprovados têm, também, milhares de boletins de apoio à candidatura com exactamente os mesmos problemas criminais dos outros.
Portanto, espero para ver se o Dr. Paulino tem a coragem suficiente para não só levar a tribunal os 6 rejeitados como também os 3 aprovados mas que, aparentemente, terão cometido os mesmos crimes, embora em menor percentagem.
Agora, vendo a coisa da perspectiva política, tenho a sensação que isto muda de figura.
Até há pouco tínhamos um candidato da Frelimo contra 8 da oposição. Isto é, a oposição ia muito dividida ao confronto com Armando Guebuza. E essa divisão só o podia beneficiar.
Com a saída dos 6 reprovados, as perspectivas em frente dos eleitores afunilam-se muito.
Quem vota na Frelimo, continuará a votar em Armando Guebuza. Mas todos os que votavam nos 6 recusados vão ter que reformular os seus votos para um dos dois oposicionistas que restam. E isso vai, certamente, reforçar a sua posição.
E eu diria que esse reforço irá, tendencialmente, para Daviz Simango e não para Afonso Dhlakama.
Este último, com uma pontaria certeira para disparar contra os próprios pés, veio a público saudar a decisão do Conselho Constitucional. Logo aí, até onde percebo, perdeu o apoio de todos os partidários dos 6 reprovados. Até mesmo aqueles 11 apoiantes legais do senhor Viana.
Depois disso, e porque ainda tinha um pé sem tiro, Afonso Dhlakama afirmou, segundo o Magazine Independente, que irá mandar prender Armando Guebuza no caso de ele, Dhlakama, ser eleito Presidente. E lá ficou furado o outro pé.
Ao criar uma perspectiva de agitação política com esta ameaça, o líder da Renamo está a afastar todos aqueles eleitores que colocam, acima de tudo, a estabilidade e a paz no país.
E tudo isto só pode beneficiar a candidatura de Daviz Simango, que continua a manter posições não agressivas contra outros políticos, a ponto de já ter declarado publicamente que perdoou aos assassinos dos seus pais.
Pelo que se pode perceber das suas biografias, os três candidatos estão separados por fossos de cerca de 10 anos: 66 para Guebuza, 56 para Dhlakama e 45 para Simango. Este último tem a possibilidade, portanto, de convencer o eleitorado jovem de que é o mais capacitado para responder aos seus interesses e inquietações. E para o fazer abandonar a posição de abstenção a que se tem remetido, cada vez mais, de eleição em eleição.
Uma herança da participação de muitos dos actuais MDMs nas fileiras da Renamo, me parece que deve ser abandonada, se o novo partido quiser ganhar forças também nas fileiras da Frelimo.
A Renamo apareceu numa posição de direita para se contrapor à Frelimo, de esquerda.
Só que a Frelimo há muito abandonou as suas posições de esquerda. É hoje um partido de capitalismo selvagem, onde a maior parte das preocupações sociais foram deitadas para a valeta sem dó nem piedade.
E isso me parece implicar uma reformulação de posições do MDM, e do seu líder, no contexto nacional actual.
De qualquer forma, a redução do número de candidatos à Presidência a estes 3 pode vir a ser desastrosa para Afonso Dhlakama, se o eleitorado lhe fizer o mesmo que fez ao seu candidato Manuel Pereira no município da Beira.
A ver vamos...
SAVANA – 21.08.2009
Por Machado da Graça
A decisão do Conselho Constitucional de apenas permitir que concorram às próximas eleições presidenciais 3 dos 9 candidatos, deve ser considerada de duas diferentes perspectivas: a jurídica e a política.
Em termos jurídicos não me quero alargar muito, porque para isso me não considero devidamente habilitado. No entanto, apesar disso, devo dizer que a argumentação do conselheiro Manuel Franque, no seu voto de vencido, me parece bastante convincente.
Outras vozes que se pronunciaram, no mesmo sentido de Franque, reforçam a posição de que o Conselho Constitucional, agora já sem Rui Baltazar, começou a seguir um caminho preocupante em relação ao que à democracia moçambicana diz respeito.
Mais um tijolo no edifício do monopartidarismo que parece estarmos a reconstruir.
Mas há um aspecto jurídico que me parece bastante curioso. O Conselho Constitucional enviou à Procuradoria Geral da República documentação sobre os actos, aparentemente criminosos, dos candidatos agora afastados da corrida. Para que sejam criminalmente punidos.
Só que, se bem percebo, os três candidatos aprovados têm, também, milhares de boletins de apoio à candidatura com exactamente os mesmos problemas criminais dos outros.
Portanto, espero para ver se o Dr. Paulino tem a coragem suficiente para não só levar a tribunal os 6 rejeitados como também os 3 aprovados mas que, aparentemente, terão cometido os mesmos crimes, embora em menor percentagem.
Agora, vendo a coisa da perspectiva política, tenho a sensação que isto muda de figura.
Até há pouco tínhamos um candidato da Frelimo contra 8 da oposição. Isto é, a oposição ia muito dividida ao confronto com Armando Guebuza. E essa divisão só o podia beneficiar.
Com a saída dos 6 reprovados, as perspectivas em frente dos eleitores afunilam-se muito.
Quem vota na Frelimo, continuará a votar em Armando Guebuza. Mas todos os que votavam nos 6 recusados vão ter que reformular os seus votos para um dos dois oposicionistas que restam. E isso vai, certamente, reforçar a sua posição.
E eu diria que esse reforço irá, tendencialmente, para Daviz Simango e não para Afonso Dhlakama.
Este último, com uma pontaria certeira para disparar contra os próprios pés, veio a público saudar a decisão do Conselho Constitucional. Logo aí, até onde percebo, perdeu o apoio de todos os partidários dos 6 reprovados. Até mesmo aqueles 11 apoiantes legais do senhor Viana.
Depois disso, e porque ainda tinha um pé sem tiro, Afonso Dhlakama afirmou, segundo o Magazine Independente, que irá mandar prender Armando Guebuza no caso de ele, Dhlakama, ser eleito Presidente. E lá ficou furado o outro pé.
Ao criar uma perspectiva de agitação política com esta ameaça, o líder da Renamo está a afastar todos aqueles eleitores que colocam, acima de tudo, a estabilidade e a paz no país.
E tudo isto só pode beneficiar a candidatura de Daviz Simango, que continua a manter posições não agressivas contra outros políticos, a ponto de já ter declarado publicamente que perdoou aos assassinos dos seus pais.
Pelo que se pode perceber das suas biografias, os três candidatos estão separados por fossos de cerca de 10 anos: 66 para Guebuza, 56 para Dhlakama e 45 para Simango. Este último tem a possibilidade, portanto, de convencer o eleitorado jovem de que é o mais capacitado para responder aos seus interesses e inquietações. E para o fazer abandonar a posição de abstenção a que se tem remetido, cada vez mais, de eleição em eleição.
Uma herança da participação de muitos dos actuais MDMs nas fileiras da Renamo, me parece que deve ser abandonada, se o novo partido quiser ganhar forças também nas fileiras da Frelimo.
A Renamo apareceu numa posição de direita para se contrapor à Frelimo, de esquerda.
Só que a Frelimo há muito abandonou as suas posições de esquerda. É hoje um partido de capitalismo selvagem, onde a maior parte das preocupações sociais foram deitadas para a valeta sem dó nem piedade.
E isso me parece implicar uma reformulação de posições do MDM, e do seu líder, no contexto nacional actual.
De qualquer forma, a redução do número de candidatos à Presidência a estes 3 pode vir a ser desastrosa para Afonso Dhlakama, se o eleitorado lhe fizer o mesmo que fez ao seu candidato Manuel Pereira no município da Beira.
A ver vamos...
SAVANA – 21.08.2009
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