segunda-feira, agosto 31, 2009

AS CINCO DOENÇAS DO PAÍS

Por Viriato Caetano Dias

A doença de um país não está tão somente no desemprego ou na inoperacionalidade da sua justiça. Mas na capacidade do seu povo, quando esse renuncia ao pensamento e passa a seguir à senda da ignorância.

Para hoje trago à reflexão as cinco doenças do país. Cada um de nós, moçambicanos, possui uma forma diferente de ver o país que nos viu nascer e que é nosso por direito, proclamado de forma apoteótica na longínqua mas memorável data 25 de Junho de 1975. Cada um malha à sua maneira, conforme as circunstâncias em que vive, viveu e viverá. São pequenos os meus olhos para ver tudo, mas eles vêem aquilo que considero ser o meu estado da nação à nação. Assim, vão surgindo vários estados da nação, cada qual à sua maneira de ver e analisar o país. É neste contexto de pluralidade de ideias que me permito deixar algumas achegas sobre o “modus vivendi” do país e, se o “Sistema” concordar, tem aqui mais uma oportunidade soberana de administrar o medicamento certo.

A primeira doença – Os Políticos

Temos um país onde a política é diferente dos políticos. Uma coisa é ter uma política dourada com as mais belas palavras de um vocabulário de fazer inveja a outrem, outra coisa, porém, é ter os políticos que temos que mais não são uma autêntica desgraça. Preocupam-se com o poder e com as ambições pessoais. Não desejam senão subir mais alto e ocupar um lugar de destaque no trono da nomenclatura à custa do sofrimento de milhares de pessoas. Chegados lá, no top, esquecem-se, às vezes, de quem os elegeu. O país em 34 anos de história pariu mais políticas e políticos do que escolas. Para alguns, basta acordar e ir ao cartório mais próximo da sua residência, já têm o registo do seu partido, mais um no cemitério político nacional, cuja directrizes de orientação só eles é que compreendem. Para aqueles que cujo poder fora outorgado pelo povo para dirigir os destinos do país num determinado espaço de tempo, estes encarrapitam-se por lá estar, ignorando completamente as suas obrigações para quem os elegeu. Contentam-se com uma e outra inauguração, de algum empreendimento público ou privado, atribuindo-se a si mesmos a chancelaria da própria obra. Prontos, e fica-se por ai, para a história. São dirigentes de pequenas coisas e de grandes pormenores. Arrogam-se de serem o país, e dão-se a si a exclusiva e peremptória liberdade de fazer o que bem lhes interessa à margem da lei. São ambiciosos e aspiram pelo poder a qualquer custo.

Os meus olhos vêem, com algum desassossego e repulsa, o facto do partido no poder, a Frelimo, possuir um orçamento anual mais elevado do que a de um governo distrital, e ainda assim querem que o distrito seja o pólo de desenvolvimento! Não estamos perante um paradoxo político? Mas não é um orçamento para desbravar terras e abrir estradas, construir escolas, hospitais, melhorar as vias de acesso, expandir a rede de ensino e com qualidade, acabar com as hecatombes mental e material. Ainda que fosse, é um orçamento que estrangula cada vez mais o povo e abre caminhos para o ódio, a criminalidade, a inércia, a corrupção, o analfabetismo e a letargia mental. É um orçamento para os camaradas dar à volta ao país e ao mundo em busca de teorias e novas técnicas, quando se sabe que elas há já muito tempo foram descobertas. Estão nos anais dos encontros do partido, na Matola, ou onde quer que ela tenha sido realizado. Estão lá. É só ir desenterrá-las. A principal doença do país, convenhamo-nos, são os nossos políticos.

A segunda doença – A Educação

A fragilidade do nosso sistema de educação reside no facto de sermos sistematicamente imitadores como se não tivéssemos, a nível nacional, praxe para produzirmos ideias. Ideias essas que libertaram o país da canga colonial português. Mal a Europa lance um modelo novo no quadro das suas reformas curricular, o Ministério da Educação e Cultura, ao invés de olhar pelas circunstâncias internas, ou seja, a realidade do país, limita-se e levar à letra o modelo alheio. E os resultados estão à vista, é só o governo ir a qualquer estabelecimento de ensino, desde as escolas primárias, secundárias até as universidades, para ver “in-loco” que mais não faz o governo senão encher um tambor furado. É triste ouvir de um aluno da 4ª classe dizer que a capital de Moçambique é Eduardo Mondlane ou que Irão e Iraque são, provavelmente, dois irmãos que a minha ex.colega, numa das aulas de História Política, na universidade, em Maputo, teria ouvido falar no seu bairro T3. É preciso que o governo tome medidas imediatas para salvar a honra de alguns professos e profissionais deste sector, caso contrário, teremos um país com anéis de ouro (em termos de números de estabelecimentos de ensino), mas que vão criando feridas aos dedos.

Se perguntar a um professor (independentemente do nível em que ele lecciona), em Furancungo, na Província de Tete, ou em Mogovolas, na Província de Nampula, quando foi a última vez que foi a uma formação, conselho coordenador do sector ou a uma capacitação, a resposta é previsível, NUNCA. Contrariamente aos nossos dirigentes que passam a vida em conselhos coordenadores, reuniões, seminários, enfim, como disse, sumariamente, em busca do nada.

Não podemos perder de vista que os conhecimentos nascem das grandes questões com que a vida nos desafia, entrelaçando-se a própria vida, disse o conceituado investigador português Vítor Trindade. Para quem a educação é a chave de sucesso de qualquer país. Por isso, acrescenta, nos conhecimentos circulam histórias, nossas próprias histórias. Quando desistimos de transitar nestes elos, que tornam os conhecimentos vivos e pulsante, nas lições dos professores e dos estudantes, o ensino se afunda em valas, com prescrições e burocratizações, que formam uma terrível rede de cemitérios das letras mortas, que tanto ameaçam as aprendizagens e os ensinos. Um ensino é de qualidade quando consegue alcançar os objectivos a que se propôs.

Terceira doença – A Sociedade Civil Activa

A nossa sociedade civil activa está doente mais do que a gravidade da própria doença. Actualmente, a sociedade civil moçambicana, salvo raras excepções, está envenenada pela política. E é preciso desintoxicá-la quanto antes, sob pena de perderem-se de vista a propalada mas preciosa auto-estima. Nenhuma rede de corrupção seria possível no país se a sociedade civil activa fosse, efectivamente, implacável. Não somos capazes de reivindicar com sentido crítico as injustiças sociais que diariamente fazem vitimas um pouco por todo o país. Mas também não sabemos, em momento certo, aplaudirmos o que é feito com arte e profissionalismo, sem adulações, e que seja de interesse de todos. Por um lado é perceptível dentro da sociedade civil activa um grupo cada vez mais intelectivo, que fazem do pensamento uma profissão para mitigar parte dos desafios actuais que se impõem: a pobreza absoluta e a calamidade cerebral. Por outro lado, encontramos outro grupo, maioritário, parasita e completamente modorra. Estes são comparáveis ao caranguejo. Como dizia o saudoso militante da Frelimo, Rafael Magune, que certos jovens são tão precipitados como caranguejo, razão pela qual não dão saltos altos. Ficam-se pelos sonhos quiméricos e contemplativo. O caranguejo, nas palavras de um amigo, quando colocados numa bacia ou num balde, não fogem. Ainda quisessem, mas não podem, porque “pensam” pouco. Ora, quando um deles tenta escalar os limites do cerco, digo, da bacia, vem outro, uns tantos, em seguida, atrás deste, para deitar abaixo os planos do primeiro. Fica-se por ai até à refeição de quem pode. Coitado da gente do campo, estes limitam-se a inspeccionar o estado do tempo para a próxima sementeira, esperando que a sociedade civil activa acorde e ponha o país a andar para frente!

Quarta doença – A Economia

O país funciona, muitas das vezes, para não dizer sempre, como uma barriga alugada. Uma prostituta. Apenas servem, os investimentos nacional, para acomodar uma determinada nomenclatura nacional ou estrangeira. Não há ricos surpresas, nem emergentes, ou seja, não há novos ricos. Os ricos são os mesmos - aqueles que a história encarregou de libertarem o país das garras do leão -, mas passou para o pior, para as patas de um elefante. Se temos empresários emergentes eu diria, paradoxalmente, que sim. São aquele que dentre muitos conseguem amealhar, por influências partidária e não só, fornicoques de quem esteja a frente da “massa”, vulgos 7 milhões de meticais, abrindo barracas, fabricando “txovas”, enfim, mas com uma duração de meia dúzia de meses. Mal já anda o negócio. Mal é, também, a devolução do dinheiro do Estado. Mas também há casos esporádicos de retorno dos valores, poucos, muito poucos. Temos um ´país-cimitério´ de fábricas, industrias, lojas, oficinas paralisadas desde o tempo da guerra civil. Algumas delas nem sequer foram vitimas da guerra, mas sim da destruição do homem. A corrupção engoliu tudo. Estão lá, em Nampula, em Tete, em Manica, em Sofala, no Niassa e um pouco em todo o país, aquilo que custou caro à nação. Hoje só ficou o nome. Em principio fiquei, confesso, satisfeito quando ouvi que o ´pai da nação´ ficou rico vendendo patos. Não duvido porque, no negócio, cada um têm as suas formulas “mágicas” de enriquecimento e é importante que haja gente rica no país. Contudo, para o meu espanto, há um mês e picos das eleições, praticamente no fim do mandato do actual governo, a nossa economia continua a andar de corcova. Estamos na mesma, porquanto o país vive e viverá nos próximos 25 anos de doações estrangeiras, claro, se continuarmos a renunciar ao pensamento de trabalho e política de inclusão. Não cabe na cabeça de alguém, nem na minha, para quem conheça física ou virtualmente o país, que por cá, ainda haja gente a morrer de fomes. Um país rico e potencialmente forte em matéria de recursos naturais, hidrocarbonetos, minerais e humanos continua, porém, a viver de mãos estendidas. Há quem diga que estes recursos só existem no mapa. Incrível!!!

Quinta doença – A Justiça

Sabemos que o país não está bem. Sentimo-lo. A educação não está bem. A agricultura não está bem. A justiça não está bem. E quando o “vírus” chega à justiça pior ainda. Num país democrático e de direito como se pretende que seja o nosso, pode falhar tudo, menos a justiça. A nossa justiça precisa de muletas ou de um bom antídoto para que as coisas andem em trilhos certos. É preciso não renunciar ao pensamento, para construirmos um ESTADO MODELO de justiça e não só.
PS. Espero que a PRM tenha conseguido efectivamente construir uma cadeia de máxima segurança, durante o tempo em que Aníbal dos Santos Júnior, mais conhecido por Anibalzinho, esteve foragido da justiça, porque as que temos só é de segurança para ladrões de galinhas, e que tenha igualmente conseguido formar homens e cadeados robot, para não permitir outra fuga do visado e de qualquer outro meliante.

Viriato_caetano_dias@yahoo.com.br

1 comentário:

Viriato Dias disse...

Fica a reflexao.

Um abraço