segunda-feira, agosto 17, 2009

O partido único existe (final)

Descentralização vs domínio opressivo

A expansão da governação democrática descentralizada é bastante apreciada pelos autores do relatório, porém contrapõem que o domínio opressivo de um partido e o sistema eleitoral de representação proporcional com base em listas partidárias fechadas favorecem a fidelidade em relação ao centro decisório. “Os interesses políticos tornaram-se mais enraizados e menos responsáveis e, no geral, o sistema tornou-se menos competitivo e menos inclusivo”, concluem. Acrescem que num contexto de uma cidadania não crítica, as deficiências na governação permitem que a corrupção floresça, enfraquecem o consenso em relação às regras de jogo constitucionais e diminuem o apoio à democracia como um sistema político de eleição.
Os autores do relatório dizem que embora existam divisões internas dentro do partido Frelimo, é pouco provável que as mesmas conduzam à criação de um outro partido, “desde que os seus dirigentes mantenham o controlo do Estado e da sua máquina”. Apoiando-se nos dados de um inquérito da Afrobarómetro, o documento recorda que parte significante da população moçambicana não está empenhada numa competição democrática, situação que não se espera que venha a mudar a curto prazo.
“Cerca de 33% dos moçambicanos aprovariam uma forma de Governo em que apenas um partido se candidatasse às eleições e conquistasse o poder e quatro em cada 10 moçambicanos não se oporiam à abolição de eleições e do Parlamento, deixando o Presidente (da República) como único órgão decisório”, escrevem os autores para quem a fraca afluência dos eleitores nas eleições de 2004 poderá ser um indício de falta de confiança nas eleições multipartidárias.

Forças de Segurança

Quanto às forças de segurança, o relatório indica que após o Acordo Geral de Paz (1992) o exército foi reduzido imenso visando desmantelar as ameaças ao regime civil.
“As Forças Armadas de Defesa de Moçambique (FADM) possuem actualmente uma força estimada em cerca de 10.000 elementos. A reestruturação manteve efectivamente os soldados nos seus quartéis”, lê-se no relatório.
A indicação de novo ministro de Defesa Nacional e do novo Chefe do Estado-Maior, respectivamente Filipe Nhussi (um civil) e Paulino Macaringue, é interpretada pelos autores do relatório como uma necessidade de dar uma maior ênfase nas habilidades técnicas e na gestão profissional nas formas armadas.
Apesar das garantias dadas em Roma de integrar combatentes de ambos os lados num órgão unificado, o relatório diz que a grande maioria das forças da ex-guerrilha da Renamo não chegou a ser integrada. A forças residuais estacionadas em Maríngue na província de Sofala (estimadas em 150 homens armados) são disso exemplo paradigmático.
“A Renamo racionalizou a existência da sua força tornando-a numa “guarda presidencial” para o seu líder, Afonso Dhlakama, mas o Governo continua a defender que esta disposição contida no Acordo de Roma expirou após a realização das eleições de 1994", escrevem, alertando que “as frustrações mal contidas” e a presença de forças da oposição armadas e mobilizadas no país é potencialmente desestabilizadora.
Quanto à Polícia, o relatório indica que tal como se constatou durante os períodos eleitorais, as forças policias revelam parcialidade a favor da Frelimo e estão propensas ao abuso político, “uma vez que podem ser usada indevidamente como um instrumento de apoio a um regime autoritário”. Outra questão levantada prende-se com a capacidade das forças policiais e a sua propensão à actos de corrupção.
“(…), a corrupção na Polícia, o conluio e a impunidade criaram uma percepção pública de que a Polícia não é profissional, é violenta e não é digna de confiança”, lê-se.

Competição nos negócios

A concorrência no ambiente de negócios parece ser menos restritiva, mas o relatório escreve que vários interlocutores descreveram o circulo interno da Frelimo como um grupo de oligarcas cujos interesses empresariais penetram na maior parte dos negócios e transacções de alto valor em Moçambique.
De acordo com o documento, a transformação da elite política da Frelimo em elite de negócios foi acelerada pela concessão de empréstimos sem juros ou empréstimos a taxas de juro nominais oferecidas pelo antigo banco do Estado e pelo Banco Austral. “Este grupo também beneficiou imenso da privatização da economia”, apontam os autores, sublinhando que uma legislação sólida sobre conflitos de interesse e vontade de aplicar essa mesma legislação é necessária em Moçambique.
(SAVANA, 07.08.2009)

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