O SILÊNCIO preocupante que reina no seio das instituições do Estado, como é o caso das Alfândegas e as direcções provinciais da Agricultura e da Indústria e Comércio, em Nampula, à volta do caso dos 600 contentores suspeitos de contrabando de madeira, retidos pelas autoridades aduaneiras no passado dia 8 de Julho, no porto de Nacala, não só alimenta especulações de vária ordem, como também desacredita o principio de funcionamento da administração pública, segundo o qual os actos e acções das instituições públicas carecem de publicitação.
Na tentativa de perseguir o intrincado assunto, a nossa Reportagem ligou na manhã de quarta-feira para a Direcção das Alfândegas de Nacala, com o intuito de colher mais subsídios à volta do processo de reverificação dos 457 contentores, dos 600 inicialmente publicitados, contendo madeira em situação de exportação ilegal, pedido que não foi satisfeito, alegadamente porque o director se encontrava reunido.
Ainda ontem, quinta-feira, deslocámo-nos à cidade de Nacala-Porto, que dista cerca de 200 quilómetros, para falar com o director, pretensão que uma vez mais não foi satisfeita, porque, desta feita, a secretária não sabia dizer se o director estava ou não na cidade de Nacala.
Por seu turno, uma fonte das Alfândegas que quando se despoletou o caso assumiu algum “protagonismo” ao fornecer dados à comunicação social, disse-nos que não podia ser útil porque foi-lhe recomendado para não falar à Imprensa.
Enquanto isso, nos Serviços Distritais das Actividades Económicas, através do posto fitossanitário que funciona a nível do porto de Nacala, entidade que devia emitir o certificado de origem da madeira ora retida, igualmente ninguém está autorizado a falar sobre o assunto.
No porto de Nacala, onde nos dirigimos para saber se os armadores dos dois navios que iriam transportar a madeira já pagaram as taxas que deviam por permanência acima do tempo admitido, sacudiram o capote empurrando-nos para as Alfândegas.
O silencio institucional que este caso instalou em Nacala tem sido, porém, quebrado por fontes paralelas, as quais sustentam que está-se perante uma “ mega-operação” fraudulenta com interesses definidos de delapidar o Estado.
Consta que na véspera da apreensão dos contentores algumas das altas chefias da delegação regional norte das Alfândegas teriam sido vistas no complexo “Naherenque” com um cidadão de nacionalidade chinesa que se presume seja o proprietário da Casa Bonita Internacional, presumivelmente com fortes interesses na carga de madeira.
De referir que dias depois da retenção dos navios foram criadas equipas multissectoriais de inspecção que, volvidos alguns dias, relaxaram o grau do seu envolvimento no esclarecimento do caso.
De recordar que esta não é primeira vez que são apreendidos contentores com madeira em situação de exportação ilegal no porto de Nacala.
Numa das ocasiões que isso aconteceu foi em 2007, quando foram apreendidos 500 contentores, a segunda em 2008, desta feita estavam em causa 750 contentores. Estes dois casos terminariam com a madeira a deteriorar-se e outra vendida em hasta pública, por decisão do tribunal aduaneiro.
Fonte: Jornal Notícias - 22.07.2011
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