Malabo, Guiné Equatorial (PANA) – O Presidente da Guiné Equatorial, Obiang Nguema Mbasogo, declarou-se segunda-feira consciente da possibilidade de o seu país conhecer situações como a da Líbia, em particular, ou do mundo árabe em geral, pelo que instou os seus concidadãos a preparar-se para tal eventualidade.
“O que está a acontecer na Líbia pode vir a acontecer também na Guiné Equatorial. Por isso, temos de ser vigilantes. Se vierem invadir-nos, temos que agir todos como soldados”, advertiu Nguema durante as celebrações do 25º aniversário da fundação do seu Partido Democrático da Guiné Equatorial (PDGE).
A cerimónia comemorativa deste aniversário do partido governante da Guiné Equatorial e liderado por Nguema, chegado ao poder em 3 de Agosto de 1979 por via de um golpe de Estado, foi transmitida em direto pela televisão estatal e paralisou o país por ser um feriado nacional.
Durante a sua alocução diante dos militantes e simpatizantes do PDGE, Nguema procurou inculcar na população nacional o espírito de “solidariedade e sentimento nacionalista como único instrumento para evitar que sejamos manipulados”.
Ele acusou o Ocidente de procurar apoderar-se das riquezas dos países africanos “para resolver os seus problemas de crises internas” quando, no seu entender, estes últimos “nunca foram de cobiçar ou invadir os recursos naturais das outras nações do mundo”.
Para ele, o problema da Líbia, por exemplo, “é económico e não político”, porque foi provocado e tem sido aproveitado pelos Estados europeus “para resolverem as suas crises financeiras”.
“Os Estados europeus apressaram-se a congelar os fundos líbios depositados nos seus bancos, não para resolver o problema da Líbia mas para solucionar as suas crises económicas e financeiras”, declarou o Presidente Nguema, frequentemente interrompido e ovacionado pela plateia.
Desvalorizou as acusações feitas contra ele como “ditador” por estar muito tempo no poder, notando que a sua permanência prolongada à frente dos destinos da Guiné Equatorial tem a sua explicação na “falta de alternativas” porque o país “não pode ser governado por incompetentes mas é o povo que escolhe aqueles que o deve governar”.
Falou igualmente daqueles que o qualificam de “Presidente mais rico do mundo” e afirmou que ele pessoalmente não via problema nenhum em ter um tal estatuto porque o seu país “é rico”.
“Acusam-me de ser o Presidente mais rico do mundo. Mas por que não o posso ser se o meu país é rico? Que nos deixem em paz”, sentenciou o estadista equato-guineense, atual presidente em exercício da União Africana (UA), que acaba de realizar a 17ª sessão ordinária em Malabo.
A visão de Obiang Nguema Mbasogo, enquanto presidente da UA, sobre os acontecimentos no mundo árabe, parece demarcar-se da letra e do espírito das decisões finais da 17ª cimeira da UA que ele albergou e que elogiam as sublevações populares ocorridas na Tunísia e no Egito.
O documento final desta cimeira considera como “evolução positiva” as situações registadas nestes dois países árabes da África Norte, saudando nomeadamente o “clima de liberdade, democracia e abertura política” resultante das revoluções que estas duas nações conheceram, abrindo caminho para “o respeito pelas liberdades fundamentais dos cidadãos e dos direitos humanos”.
Por outro lado, os discursos do presidente da Comissão da UA (CUA), Jean Ping, durante a abertura e o encerramento da cimeira foram também marcados por fortes elogios à chamada “Revolução Árabe”, nomeadamente os acontecimentos na Tunísia e no Egito que ele considerou como modelo para os restantes países do continente.
Segundo Ping, as mudanças ocorridas na Tunísia e no Egito “marcam uma nova progressão nos processos de democratização iniciados no continente desde os princípios dos anos 90”.
“Apesar das dificuldades inerentes a qualquer transição, a Tunísia e o Egito fizeram progressos notáveis e estes dois países conhecem hoje um clima inegável de liberdade e um debate pluralista, que são sinais de uma nova consciência cívica indispensável à consolidação da cultura democrática”, disse.
No entender de Jean Ping, as sublevações populares na África do Norte são, em parte, “a consequência das dificuldades com que andam confrontados os jovens, particularmente o desemprego, o que faz nascer neles um sentimento de marginalização”.
Ping foi mais longe ainda, afirmando que as revoltas populares ocorridas recentemente na África do Norte “devem ser encaradas como uma oportunidade para os Estados-membros (da UA) de renovarem o seu compromisso a favor da democracia e da boa governação, e implementar as reformas socioeconómicas que as circunstâncias exigem”.
Por Fred Cawanda,
Enviado especial da PANA em Malabo
Fonte: PANA press - 05.06.2011
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