terça-feira, maio 24, 2011

RENOVADAS AMEAÇAS DE XENOFOBIA NA RAS

Johanesburgo, 24 Maio (AIM) – Comerciantes estrangeiros residentes em vários subúrbios da cidade sul-africana de Johanesburgo encerraram os seus negócios e suspenderam todas as suas actividades em resposta a uma onda de ameaças e intimidações lançada, recentemente, por um grupo de comerciantes locais auto-intitulado Greater Gauteng Business Forum (GGBF) – Forum de Empresários do Grande Gauteng.

Em finais de Abril, o GGBF começou a distribuir cartas a comerciantes não sul-africanos em pelo menos nove subúrbios, concedendo um prazo de sete dias para abandonarem o país. A carta ameaça com uma acção drástica a quem desobedecer a ordem.

Siyat Sheik Ahmed, um somali dono de cinco estabelecimentos comerciais no subúrbio de Ramaphosa, leste de Joanesburgo, tomou a ameaça a peito. Ele era novo na zona quando, em Maio de 2008, eclodiu uma onda de violência contra estrangeiros que viviam nos diferentes subúrbios.

“Eles pilharam as nossas lojas e incendiaram-nas”, recorda Ahmed, acrescentando que “tivemos que fugir para salvar as nossas vidas”.

Contudo, volvidos seis meses Ahmed e os seus sócios regressaram a Ramaphosa para recomeçar tudo de novo e as suas lojas permaneceram abertas, mesmo depois das cartas ameaça do GGBF.

“Não temos apoio do governo, mas temos que sobreviver, e este é o negócio que sabemos fazer”, disse ele à IRIN

Eles finalmente encerraram as lojas volvidos sete dias. Enquanto isso, vários camiões transportando membros do GGBF regressarem com megafones proferindo ameaças de um banho de sangue.

Na altura em que chegou a polícia nessa tarde a situação estava calma, disse Ahmed, mas eles carregaram numa camioneta da polícia toda a mercadoria das suas lojas e levaram-na justificando que era uma “medida de protecção”.

Depois de duas semanas as lojas de Ahmed continuam encerradas porque a polícia ainda não devolveu as mercadorias, a maioria das quais produtos perecíveis.

“A pessoa trabalha duro para economizar, por vezes a pessoa dorme com fome, mas depois de tanta luta durante um ou dois anos, tudo voltou à estaca zero. É tão doloroso”, disse.

Segundo os advogados da Liga dos Direitos Humanos (LDH), uma ONG local, a resposta da polícia foi cosmética. Embora 71 membros do GGBF tenham sido detidos em Katlehong, um outro subúrbio a leste de Joanesburgo, acusados de intimidação, foram mais tarde postos em liberdade mediante o pagamento de uma pequena multa, e apenas nove membros do grupo foram detidos no Soweto.

“Estamos bem cientes que em Ramaphosa a polícia fechou os olhos às acções ilegais do GGBF e podem até tê-los apoiado na campanha de intimidação”, disse Kaajal Ramjathan–Keogh, chefe do Programa de Direitos de Migração na Liga dos Direitos Humanos.

Ahmed queixou-se de que a polícia acredita nas alegações feitas pelo GGBF de que estrangeiros estavam a abrir negócios sem as devidas licenças. Segundo investigações da LDH, todos os negócios afectados em Ramaphosa estavam a operar dentro da lei.

Um comunicado emitido pelo porta-voz da polícia de Gauteng. O Coronel Lungelo Dlamini, disse que a polícia, em Ramaphosa, tinha ajudado os estrangeiros a removerem as suas mercadorias quando os residentes os ameaçaram, e que a situação já era calma “devido às operações policiais na zona”.

ÍMAN DE IMIGRANTES

A África do Sul atrai imigrantes de toda a África e de outras partes do mundo, com a promessa de oportunidades económicas, mas atrai sobretudo refugiados e requerentes de asilo. Contrariamente a maioria dos países na região, a legislação sul-africana garante a este grupo liberdade de movimento e o direito a emprego e acesso a serviços sociais.

“É seguramente mais atraente do que ficar restrito a um campo de refugiados, onde a pessoa fica completamente dependente de doações internacionais”, disse Tiona Ghelli, porta-voz da Agência das Nações Unidas para Refugiados (ACNUR) na região.

“Como somalis, nós procuramos refúgio em todo o lado onde pudermos”, disse Diriye Dahir Mohamed, um proprietário de uma loja em Ramaphosa.

“Mas aqueles de nós que chegam a este país têm muito melhores oportunidades porque podemos abrir negócios. Nós estávamos a ganhar o nosso pão até quando o GGBF apareceu”.

Empresários tais como Mohamed podem ter sido vítimas do seu próprio sucesso. As suas lojas são muitas vezes maiores comparativamente as “barracas” informais dos locais e podem oferecer uma maior variedade de produtos a preços mais competitivos porque eles tendem a unir-se em grupos e comprar a grosso.

O porta-voz do GGBF, Lufuno Gogoro disse que o fórum foi lançado em Freedom Park, um subúrbio no sul de Joanesburgo, por agentes de negócios locais que se sentem ameaçados pelo aumento do número de negócios pertencentes a estrangeiros.

“Eles aparecem com um grande supermercado num zona residencial, eles colocam-no ao lado das nossas “barracas” e os seus produtos são baratos”, disse. “Para nós é como se eles estivessem a tentar controlar o sector dos pequenos negócios”.

Mas o receio compreensível de Gogoro de que a competição com estrangeiros está a colocar as pequenas lojas pertencentes aos locais em perigo de fechar foi-se revelando enquanto ele acusava os estrangeiros de vários crimes e de estarem a seguir uma agenda para desestabilizar o país. “Muitos deles estão aqui para nos tirar a liberdade para a qual nós lutamos duramente”, disse. “Queremos que eles sejam colocados num lugar onde possam ser monitorados”.

“FRUSTRADOS E ZANGADOS”.

Gogoro disse ainda que a decisão para distribuir cartas de “expulsão” a negociantes estrangeiros foi tomada quando os líderes do governo local demonstraram a sua incapacidade de responder aos seus pedidos de ajuda. “Nós não somos xenófobos, não queremos entrar em violência, mas se ninguém nos ajuda não posso pôr de lado essa possibilidade, porque as pessoas estão frustradas, estão zangadas”, disse.

Ele acrescentou que o fórum suspendeu temporariamente as suas actividades depois que a polícia concordou em os ajudar a visitar regularmente as lojas dos estrangeiros para garantir o cumprimento da lei.

Dlamini, do departamento da polícia, disse não ter conhecimento do referido acordo e Ghelli disse que a ACNUR pediu apoio à polícia para evitar o encerramento das lojas que operam legalmente.

Em alguns subúrbios, algumas lojas foram incendiadas, mas noutros como no Soweto, as lojas que haviam sido forçadas a encerrar já foram reabertas. Muitos dos afectados donos já constituíram advogados para os ajudarem a enfrentar o GGBF em tribunal.

Ahmed foi peremptório ao afirmar que ele tenciona encontrar formas de reabrir o seu negócio em Ramaphosa, mas Mohamed disse que não está a considerar recomeçar tudo de novo. Ele, também, perdeu todos os seus bens nos ataques de 2008 quando a sua loja, em Springs, a leste de Joanesburgo, foi incendiada. “Há pouca esperança. Não sei o que vou fazer”, disse.
(AIM)
Irin/bm/sg

Fonte: AIM - 24.05.2011

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