Por Mouzinho de Albuquerque
Primeiro reafirmar aqui que tenho por vezes dificuldades em aliar as razões aos factos, quando se fala particularmente de algumas decisões que se consideram pouco acertadas no processo da nossa governação, como esta que vou abordar a seguir. Sendo contra, como quase a maioria dos residentes da cidade de Nampula, importa na realidade que me debruce hoje sobre uma que acaba de acontecer na urbe.
Talvez valha a pena começar dizendo que o 25 de Junho de 1975, dia da proclamação da nossa independência, foi feito para libertar as pessoas, neste caso o povo moçambicano da humilhação colonial, foi feito para o que o povo se encontrasse de novo com a sua dignidade depois de muito sofrimento e sacrifício.
Foi o dia da explosão de um povo unido que naquele momento a queda do regime opressor era a queda dum passado de silêncio, arrogância, cumplicidades e hipocrisia.
O facto é que, desde há algumas semanas, na chamada capital do norte, a cidade de Nampula, o tema central ronda em torno do palácio do governador da província, tudo porque depois de em tempos idos terem sido retiradas as cancelas das vias que passam nas imediações do referido palácio, por não justificar a sua existência, uma medida que foi bem acolhida e elogiada pelos citadinos e não só, as cancelas voltaram a serem colocadas, desta feita humanas, para de novo impedir a circulação de peões nos passeios exteriores do palácio.
É com perplexidade crescente que as pessoas olham e comentam essa decisão, tanto é que, além de não justificar, em função da actual conjuntura política do país, a sinistralidade no nosso país é cada vez mais um mote de grande preocupação e todas as atitudes em prol da prevenção de acidentes de viação são sempre bem vindas. Segundo esta linha de ideias, esta decisão constitui um sério risco tendo em conta que põe as pessoas a disputarem o espaço na estrada com viaturas, visto tratar-se de uma das principais vias da cidade. Impõe-se assim que a medida seja prontamente corrigida, em benefício da confiança mútua e a bem dos citadinos.
Como está dito, a colocação de “cancelas” humanas para vedar o acesso que as pessoas tinham aos passeios da residência oficial do governador provincial está a ser o tema de conversa em todos os locais de concentração pública e as opiniões já são unânimes. A frase “já passou o tempo de arrogância e de humilhação, não reanimem a memória dos tempos tristes”, serve cada vez mais para elucidar o descontentamento sobre esta medida que colheu de surpresa os nampulenses.
Penso, porém, que tudo isto é passageiro e que a esperança há-de voltar ao coração dos residentes da cidade de Nampula, retirando-se de novo as “cancelas” humanas dos passeios exteriores do palácio do nosso governador provincial, para que o povo não continue a assistir aquilo que acontece ali.
Fonte: Jornal Notícias - 05.05.2011
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