quinta-feira, julho 14, 2016

Líder da contestação social no Zimbabwe foi detido

Pastor Evan Mawarire cai nas mãos da polícia na véspera de novas greves

Um dos líderes do movimento de contestação social de que o Zimbabwe é palco há duas semanas, o pastor Evan Mawarire, foi detido hoje, na véspera de novas greves, afirmou o seu advogado à agência France Presse.
"Ele foi detido e acusado de incitação à violência pública" após ter respondido a uma convocação da polícia em Harare, precisou Harrison Nkomo.
Uma greve geral, acontecimento inédito no Zimbabwe desde 1989, levou ao encerramento de numerosas lojas, escolas, bancos, tribunais e serviços administrativos na última Quarta-feira, enquanto os transportes colectivos estiveram paralisados.
À greve seguiu-se vários dias de manifestações, incluindo de funcionários públicos que não receberam salários no mês de Junho.
Outras manifestações estão previstas para amanhã e Quinta-feira, num clima de desafio crescente ao regime do Presidente Robert Mugabe, de 92 anos e no poder há 36.
O pastor batista Evan Mawarire, de 39 anos, ganhou nome rapidamente ao divulgar um vídeo na Internet, em Abril, onde atacava a corrupção e a má gestão do governo, numa altura em que o Zimbabwe enfrenta uma grave crise económica e seca.
O vídeo, no qual Mawarire tinha uma bandeira do Zimbabwe, deu origem ao 'hashtag (rótulo – palavra-chave antecedida pelo símbolo #)' ThisFlag (esta bandeira), que se tornou um símbolo do movimento de contestação.
As manifestações, cujos vídeos divulgados na Internet mostram a repressão da polícia, revelam a frustração crescente da população, num país em que 90% dos trabalhadores não têm um emprego formal.
Num vídeo divulgado antes da sua detenção, o pastor Mawarire apela à continuação das greves e a não-violência.
"Sem violência, cidadãos (...) Optamos pelas greves porque é tudo o que podemos fazer para que o governo nos ouça", declara.
A semana passada, o Presidente Mugabe voltou a atribuir às potências ocidentais a responsabilidade pelo atraso no pagamento dos funcionários públicos.
"O pagamento dos salários pode ser adiado devido às sanções", disse Sexta-feira numa reunião política.
As sanções, impostas pelos países ocidentais devido a violações dos direitos humanos no Zimbabwe, apenas visam o Presidente e a sua equipa.
No Domingo, o ministro da Informação, Christopher Mushow, declarou que as autoridades vigiavam "todos os que abusam dos 'media' sociais para provocar agitação no país" e o governo advertiu que quem quer que partilhasse materiais "subversivos" seria detido.


Fonte: O PaísO País – 12.07.2016

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