segunda-feira, julho 11, 2016

António Jorge Frangoulis: A minha filiação ao MDM deixou a Frelimo nervosa

Há dois ou três anos renunciou a sua militância na Frelimo e juntou-se ao MDM. Como é que se sente já que a realidade mostra que quem desafia a Frelimo é sujeito a perseguições e, nalguns casos, até à morte.

Espiritualmente estou bem. Agora, pressões, perseguições e retaliações de quem tem o poder não faltam. Aliás, se isso não acontecesse seria algo atí- pico. Acho que este não é o fórum próprio para eu detalhar isso, mas as pessoas que estão ao meu lado e acompanham o meu dia-a-dia sabem o que estou a passar. Não sei se isto é eterno ou passageiro, mas vou me aguentando e confiante no amanhã porque ninguém é capaz de adivinhar o que vai acontecer.

Em que consistem os actos de discriminação, perseguições e chantagens de que está a ser vítima desde que renunciou a sua militância na Frelimo?

Não vou dar detalhes neste fórum. Contudo, todos os moçambicanos atentos sabem o que é característico na Frelimo quando alguém não partilha os mesmos ideais.
A Frelimo persegue todos que optam por dizer não a ela. Todo o cidadão que descorda da forma de ser e de estar da Frelimo é vítima de perseguição. Se não tiver sorte até é liquidado fisicamente. Temos vários exemplos de assassinatos políticos que até hoje ninguém de direito explicou ou esclareceu. A Frelimo, se não consegue te liquidar fisicamente, assassina-te profissionalmente, moralmente, socialmente e politicamente. Este é o modus operandi do regime com quem discorda da sua forma de pensar.

Desde a sua criação, a Frelimo sempre se guiou através de princípios anti-opositores e isso tem tendências de atingir níveis mais preocupantes nos últimos anos.
Nos dias de hoje, o futuro destinado aos opositores da Frelimo é duro.

A sua exclusão do Conselho de Estado é o exemplo dessas perseguições e retaliações?

As coisas não começam aí. Quando concorri para deputado, houve grande investimento do regime para que eu não entrasse. Todo o mundo viu que a minha não entrada no Parlamento pelo MDM nãoderivou do voto popular, mas do poder que investiu um mar de recursos materiais e financeiros para que isso não acontecesse.
Aliás, não duvido que parte das dívidas que estão agora a sufocar o Estado e ao povo moçambicano tenham ido financiar a campanha eleitoral da Frelimo. Daí que a Frelimo não quer uma auditoria forense internacional das dívidas porque teme que a verdade se exteriorize.
No Conselho de Estado também foi a mesma coisa. Veja que para além do direito legal que a bancada do MDM tinha para propor uma figura ao Conselho de Estado era vontade da bancada da Frelimo que isso acontecesse. Porém, quando souberam que essa figura era Jorge Frangoulis mudaram de opinião e investiram para que essa figura não entrasse. Hoje estão satisfeitos porque o objectivo deles é me ver feito um mendigo e andar na rua a cantar. Contudo, estão enganados porque isso não vai acontecer. Tenho forças suficientes para sobreviver até onde poder e acredito em Deus.

Há correntes que se queixam de alguma ditadura no MDM. Encontrou um ambiente que desejava? A sua entrada não foi desconfiada?

Encontrei um ambiente salutar e não estou arrependido. Estou satisfeito com a minha decisão. Gozo de todas as minhas liberdades, incluindo de exprimir tudo o que eu penso e sou compreendido.

Se o MDM lhe propor como candidato à presidência do município de Maputo nas autárquicas de 2018 aceitaria o desafio?

De hoje até lá muita coisa vai acontecer pelo que não posso dizer se aceitaria ou não. Antes de se tomar uma decisão há passos antecedentes. Existe a vontade do partido, a vontade da minha família e o meu espírito. São esses termos de referências que determinam a tomada de certa decisão. Mesmo para me filiar ao MDM sentei com a minha família, apresentei a questão, analisaram e disseram que se essa é a minha decisão estava livre de materializar.
A verdade é que até ao momento não se vislumbra esse cenário. Porém, se for proposto vou ponderar e tomar a decisão seguindo os termos de referências que disse antes.


In Savana – 08.07.2016

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