Há dois ou três anos renunciou
a sua militância na Frelimo e juntou-se ao MDM. Como é que se sente já que a
realidade mostra que quem desafia a Frelimo é sujeito a perseguições e, nalguns
casos, até à morte.
Espiritualmente estou bem. Agora, pressões, perseguições e retaliações de
quem tem o poder não faltam. Aliás, se isso não acontecesse seria algo atí-
pico. Acho que este não é o fórum próprio para eu detalhar isso, mas as pessoas
que estão ao meu lado e acompanham o meu dia-a-dia sabem o que estou a passar.
Não sei se isto é eterno ou passageiro, mas vou me aguentando e confiante no
amanhã porque ninguém é capaz de adivinhar o que vai acontecer.
Em que consistem os actos de
discriminação, perseguições e chantagens de que está a ser vítima desde que
renunciou a sua militância na Frelimo?
Não vou dar detalhes neste fórum. Contudo, todos os moçambicanos atentos
sabem o que é característico na Frelimo quando alguém não partilha os mesmos
ideais.
A Frelimo persegue todos que optam por dizer não a ela. Todo o cidadão que
descorda da forma de ser e de estar da Frelimo é vítima de perseguição. Se não
tiver sorte até é liquidado fisicamente. Temos vários exemplos de assassinatos
políticos que até hoje ninguém de direito explicou ou esclareceu. A Frelimo, se
não consegue te liquidar fisicamente, assassina-te profissionalmente,
moralmente, socialmente e politicamente. Este é o modus operandi do regime com
quem discorda da sua forma de pensar.
Desde a sua criação, a Frelimo sempre se guiou através de princípios
anti-opositores e isso tem tendências de atingir níveis mais preocupantes nos
últimos anos.
Nos dias de hoje, o futuro destinado aos opositores da Frelimo é duro.
A sua exclusão do Conselho de
Estado é o exemplo dessas perseguições e retaliações?
As coisas não começam aí. Quando concorri para deputado, houve grande investimento
do regime para que eu não entrasse. Todo o mundo viu que a minha não entrada no
Parlamento pelo MDM nãoderivou do voto popular, mas do poder que investiu um
mar de recursos materiais e financeiros para que isso não acontecesse.
Aliás, não duvido que parte das dívidas que estão agora a sufocar o Estado
e ao povo moçambicano tenham ido financiar a campanha eleitoral da Frelimo. Daí
que a Frelimo não quer uma auditoria forense internacional das dívidas porque
teme que a verdade se exteriorize.
No Conselho de Estado também foi a mesma coisa. Veja que para além do
direito legal que a bancada do MDM tinha para propor uma figura ao Conselho de
Estado era vontade da bancada da Frelimo que isso acontecesse. Porém, quando
souberam que essa figura era Jorge Frangoulis mudaram de opinião e investiram
para que essa figura não entrasse. Hoje estão satisfeitos porque o objectivo
deles é me ver feito um mendigo e andar na rua a cantar. Contudo, estão
enganados porque isso não vai acontecer. Tenho forças suficientes para
sobreviver até onde poder e acredito em Deus.
Há correntes que se queixam de
alguma ditadura no MDM. Encontrou um ambiente que desejava? A sua entrada não
foi desconfiada?
Encontrei um ambiente salutar e não estou arrependido. Estou satisfeito com
a minha decisão. Gozo de todas as minhas liberdades, incluindo de exprimir tudo
o que eu penso e sou compreendido.
Se o MDM lhe propor como
candidato à presidência do município de Maputo nas autárquicas de 2018
aceitaria o desafio?
De hoje até lá muita coisa vai acontecer pelo que não posso dizer se
aceitaria ou não. Antes de se tomar uma decisão há passos antecedentes. Existe
a vontade do partido, a vontade da minha família e o meu espírito. São esses
termos de referências que determinam a tomada de certa decisão. Mesmo para me
filiar ao MDM sentei com a minha família, apresentei a questão, analisaram e
disseram que se essa é a minha decisão estava livre de materializar.
A verdade é que até ao momento não se vislumbra esse cenário. Porém, se for
proposto vou ponderar e tomar a decisão seguindo os termos de referências que
disse antes.
In Savana – 08.07.2016
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