A classificação da
dívida soberana de longo prazo de Moçambique foi reduzida em dois níveis, pela
agência de notação financeira Moody’s, que justifica a decisão com a
probabilidade de o governo não conseguir proceder a reembolsos. O outlook é
negativo, o que significa que o rating pode descer mais. A Moody’s voltou a
cortar o rating de Moçambique,
desta vez do sétimo para o nono nível do chamado "lixo" [já que recai
na categoria de investimento especulativo], isto é, de Caa1 para Caa3.
Nesta categoria, a
agência considera que existe um elevado risco de incumprimento, já que a
capacidade de pagamento depende de condições favoráveis e sustentáveis.A
reflectir a sua decisão está a probabilidade de o governo moçambicano não
conseguir pagar as suas dívidas nas datas de vencimento, refere a agência no
relatório divulgado esta sexta-feira à noite. "As negociações quanto à
reestruturação da dívida soberana indicam que há menos probabilidades de o
governo honrar as suas obrigações de reembolso", sublinha a Moody’s.
De acordo com o
relatório, "é provável que a reestruturação resulte numa perda para os
credores e no incumprimento para o governo relativamente ao seu compromisso de
garante da dívida".A Moody’s prevê também que algumas ajudas financeiras a
Moçambique, que foram suspensas por doadores após o escândalo das dívidas
escondidas, não sejam retomadas num futuro próximo, o que contribui para
deteriorar este panorama.Além do corte da classificação soberana, a agência de
notação financeira considera "negativa" a perspectiva para o rating
do país.
O
"outlook" passa assim de "watch negative" [sob vigilância,
com implicações negativas], confirmando-se o pendor negativo.Quer isto dizer
que se mantém a possibilidade de a Moody’s voltar a descer a notação de
Moçambique. A diferença está no período temporal. Quando estava em "watch
negative", havia a possibilidade de ser tomada uma decisão no espaço de
três meses, e estando em "negative" essa decisão pode ser tomada até
seis meses.
Este
"outlook", salienta a Moody's no seu relatório, reflecte os riscos de
uma crescente litigância, que poderá acabar por levar a que o governo incumpra
não só em matéria de garantias da dívida mas também noutras classes de dívida.
Também a Fitch e a
S&P têm estado atentas – e a decidirem cortes de rating, bem como a
colocarem perspectivas negativas – no que respeita à dívida soberana de
Moçambique, depois de o governo ter reconhecido no final de Abril a existência
de dívida fora das contas públicas, no valor de 1,4 mil milhões de dólares
(1,25 mil milhões de euros), justificando com razões de segurança e
infra-estruturas estratégicas do país, o que levou o Fundo Monetário
Internacional (FMI) a suspender a segunda parcela de um empréstimo a Moçambique
e a deslocação de uma missão a Maputo.
Por estas dívidas
escondidas, Maputo pediu
mesmo desculpa ao país pelo facto de o governo não ter divulgado as
chamadas dívidas escondidas contraídas entre 2013 e 2014. Entretanto, um grupo
de doadores para o orçamento do país suspendeu também a sua ajuda. Os
"outlooks"O "outlook" pode ser positivo, negativo,
estável ou em evolução. No primeiro caso, a agência está a indicar que o rating
poderá subir. Se, pelo contrário, for negativo, significa que a notação poderá
descer.
Uma perspectiva
estável revela que há fortes probabilidades de a notação se manter no actual
nível quando a sua revisão for divulgada. Quando a perspectiva está em
evolução, significa que a agência não dá ainda uma indicação do sentido que
poderá tomar a sua decisão seguinte, pelo que a classificação tanto pode subir
como descer.A diferença entre a perspectiva negativa, positiva, estável ou em
desenvolvimento e a vigilância/sob avaliação ("watch") está no prazo
em que pode haver uma decisão em termos de notação.
A título de
exemplo, se uma perspectiva passar de negativa para "watch negative",
a probabilidade de a agência descer a notação mantém-se, mas o período temporal
em que pode surgir uma decisão é reduzido de seis para três meses.Em suma,
quando uma agência prevê que um rating pode ser alterado nos 6 a 24
meses seguintes, emite um "outlook" (perspectiva). Se considera que
pode haver acontecimentos ou circunstâncias susceptíveis de mexerem com a
classificação no curto prazo – normalmente no período de 90 dias – então pode
colocar o "rating" em "credit watch" (sob revisão). Jornal Negócios(Lisboa) – 08.07.2016 http://macua.blogs.com/moambique_pa...
Sem comentários:
Enviar um comentário