Por Noé Nhantumbo
Numa dinâmica cheia de
protagonismo popular caiu um regime…
Chegará a vez de África…
Já ninguém pode negar que regimes
políticos podem cair sem intervenção de mãos externas. Corajosos e persistentes
ucranianos o demonstraram mais uma vez.
Não foi uma Primavera mas um
Inverno frio libertador que trouxe algumas verdades para a superfície. Afinal,
um regime não cai em virtude de subversão financiada através do exterior. Não
são as mãos externas o factor predominante para correcções políticas
necessárias onde a maioria de uma sociedade está descontente e desesperada. As
balas, snipers, tanques e canhões têm um efeito devastador mas não determinante
nem final quando a paciência de um povo está esgotada.
Importante para as oligarquias
africanas aprenderem que nada é eterno e nem suas maquinações serão capazes de
as manter no poder para todo o sempre.
Quando o presidente da Ucrânia
fugiu de Kiev, a capital, declarou tacitamente a derrota e com ela seguiu-se a
libertação de sua arqui-rival.
No panorama político africano
ainda se contra com o efeito analfabetismo político e predominância de
populações rurais ou ruralizadas contribuindo com o seu silêncio e receios para
manter no poder oligarquias parasitas e lesa-pátria.
Mesmo na ausência legal de
regimes vitalícios, vários são os casos de presidentes que não equacionam
deixar o poder. O populismo e apoio ocidental a Museveni do Uganda ou a
permanência no poder de Mugabe devem ser vistos como jogos políticos de pessoas
que se afastaram completamente daquilo que os levou ao poder. Na
impossibilidade de instaurar regimes feudais na sua verdadeira forma adoptaram
métodos insidiosos para se manterem no poder. Esposas, filhos, cunhados,
sobrinhos cumprem, na íntegra, o papel de protagonistas de impérios
económico-financeiros que asseguram a acumulação de riquezas à margem da lei.
Impera o nepotismo e “inside trading” ao mais alto nível.
Para completar o quadro,
utilizam-se os serviços de defesa e segurança, os serviços de inteligência para
controlar os opositores e instaurar um regime de terror para amordaçar as
populações.
África não deseja nem clama por
mudanças de regime encomendadas e financiadas por serviços secretos ocidentais
ou orientais. Não interessa aos africanos que a ordem pública seja alterada
para a emergência do caos, da violência sectária e a destruição de bens
públicos e privados. Não é do interesse dos africanos que o oportunismo
político abra espaços para a xenofobia e outras manifestações de intolerância.
É possível, através de passos
democráticos, desenvolver acções que levem a uma alternativa na governação.
A União Africana nos moldes em
que foi criada e atendendo a forma como os líderes dos diferentes países votam
e actuam no dia-a-dia constitui um escolho para a efectiva libertação do
continente.
Ultrapassar a fase de apoio aos
golpes de Estado “socializantes” e as encomendas golpistas ocidentais, como
parece serem os regimes protegidos, por países como a França, é urgente e
vital. Politicamente não se pode descurar de dar atenção especial ao modo como
operam as alianças e parcerias entre determinados governos do continente.
A oligarquia angolana, só para
dar um exemplo, não poderia sobreviver sem o apoio diplomático de seus pares em
África e no mundo.
Um regime como ao de Harare
sobrevive porque se encontra escorado num poderoso aparato militar e policias
constantemente oxigenado por benesses. Uma máquina de guerra pronta a ver seus
serviços utilizados além-fronteiras e paga a peso de ouro em dinheiro e em
espécie sabe que não pode continuar a gozar de seu estatuto sem a presença no
poder de “camaradas” como Robert Mugabe. Mesmo como idade de reforma e já não
gozando de boa saúde, esta figura é mantida no topo da hierarquia estatal como
garante da estabilidade e do status.
As doces palavras de inspiração
revolucionária e socialista a muito que foram esquecidas. O que conta e governa
é um capitalismo indisfarçável. Ranchos, farmes, participações em corporações
financeiras e mineiras, acções nas telecomunicações fixas e móveis, poder no
sistema judicial, na polícia, no exército e nos serviços secretos seguram o
regime. Quando necessário asfixia-se a oposição nem que se tenha que recorrer à
medida extremas como o assassinato político e mesmo massacres.
Evidentemente que isso tudo não é
politicamente sustentável e tendo em conta a história seus dias estão contados.
O poder tem a virtude de
entorpecer e cegar quando não escrutinado. Muito que se vêem em posições de
poder se esquecem dos mais elementares preceitos de governação e de manutenção
da estabilidade. Um jogo permanente de intrigas e manipulação da opinião,
cultivando e promovendo discórdias interétnicas concorre para vencer eleições
mascaradas e prenhes de ilícitos.
A democracia entanto que tal é
odiada e considerada uma importação do ocidente. Só que estas mesmas pessoas
que assim proclamam, não se coíbem de gozar e desfrutar as maravilhas
tecnológicas do ocidente como BMW e Jaguars. Não falta um vinho raro e caro em
suas mesas. O whisky velho faz parte de seu quotidiano assim como os mais caros
cognacs. Suas residências são mansões com mármore italiano. Suas férias e
aniversários são comemorados com artistas ocidentais cantando. Mesmo para suas
aventuras sexuais importam mulheres do ocidente e do Brasil.
Estamos imersos num mar de
hipocrisia chamado de governo nacional. Sempre que convenha esgrime-se o escudo
da soberania nacional e reprimem-se concidadãos de maneira atroz equiparável
aos dias longos de colonização.
Os africanos assim como os
ucranianos estão sedentos de liberdade e de direitos económicos básicos.
A via para a emancipação política
e económica pode ser pacífica ou tomar contornos violentos dependendo da
compreensão e flexibilidade política dos governantes.
Importa antever dinâmicas
políticas e tomar as decisões pertinentes para manter os países em estabilidade
e em paz. As opções para o amanhã terão que ser tomadas hoje com coragem e
determinação.
O espectáculo deprimente e
indecoroso dos detentores de fortunas em África concorre para a violência.
Com desequilíbrios fomentados e
cultivados por que se diz governo abrem-se as portas do inferno político.
As chacinas na República Centro
Africana são sintomas de desnorte ou de uma barbárie que pode ser repetida a
qualquer momento noutros países?
Não se pode esperar pelas mãos
externas “pulverizando” democracia em África ou socorrendo de governantes para
sacar os recursos minerais.
Após décadas de independências
falseadas, chegou o momento de acção concertada a nível continental para se
libertar os africanos de governos indignos, parasitas e de uma União Africana
débil, amarrada aos desígnios de ditadores que se pretendem vitalícios no
poder.
Kiev tão longe foi uma lição
instrumental de como um povo corajoso toma conta de seus destino… (Noé Nhantumbo)
Fonte: CANALMOZ – 26.02.2014
1 comentário:
Eu concordo com isso sobretudo algumas cidades Africanas, como Beira, Matola, Quelimane ate parecem Kiyv.
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