BLANTYRE (MALAWI), 28 SET (AIM) - O presidente malawiano Bingu wa Mutharika está em apuros depois da vitória eleitoral de Michael Sata, na Zâmbia.
Segundo escreve a imprensa malawiana, o recém-empossado presidente zambiano Michael Sata é “persona no grata” ou imigrante proibido no Malawi.
Michael Sata foi deportado pelo governo de Bingu wa Mutharika em Março de 2007 minutos depois de ter desembarcado no Aeroporto de Chileka, em Blantyre, para uma visita privada ao Malawi, e declarado imigrante proibido.
O regime de Bingu wa Mutharika não deu nenhuma explicação oficial sobre as razões que levaram a deportação de Sata, mas algumas fontes dizem que ele foi deportado porque pretendia avistar-se com o antigo presidente malawiano Bakili Muluzi.
Antes de ser deportado, ele permaneceu algumas horas sob custódia policial numa das esquadras de Blantyre e fortemente cercado pelas forças de segurança malawianas.
Seguidamente foi levado de carro cerca de quinhentos quilómetros até ao posto fronteiriço de Mchingi, na fronteira entre Malawi e Zâmbia, donde foi deportado para o seu país.
Depois deste incidente, Sata processou o governo malawiano por difamação e detenção ilegal e o caso ainda aguarda uma decisão judicial.
De acordo com a legislação malawiana, o presidente zambiano ainda é considerado persona no grata ou imigrante proibido no Malawi, a não ser que os serviços de migração revertam a decisão, mas até agora tudo continua na mesma.
Esforços para ouvir a reacção do Chefe da Migração malawiana, Elvis Thodi, redundaram até agora em fracasso.
Depois do anúncio da vitória eleitoral de Sata, o presidente malawiano Bingu wa Mutharika deslocou-se a Lusaka para assistir a investidura do novo chefe de estado zambiano, aparentemente sem ser convidado.
No entanto, fontes próximas do presidente zambiano disseram à imprensa que dificilmente Sata se vai esquecer da humilhação sofrida no Malawi.
Bingu wa Mutharika era grande aliado do derrotado presidente Rupiah Banda, e esta pode ser também uma das razões que teria levado a deportação de Michael Sata em 2007.
Sata, 74 anos de idade e líder da Frente Patriótica e mais conhecido por King Cobra, venceu nas recentes eleições zambianas, Rupiah Banda, do Movimento para a Democracia Mulpartidária, com quarenta e três por cento dos votos.
Ele será o quinto presidente na história da Zâmbia independente e chega ao poder depois de ter fracassado em escrutínios anteriores.
Alguma imprensa malawiana e zambiana têm vindo a reportar a detenção de alguns malawianos na Zâmbia que alegadamente teriam sido enviados com o beneplácito do governo de Mutharika para votar a favor de Rupiah Banda, mas esta informação ainda carece de confirmação.
Recorde-se que em Outubro do ano passado, o presidente malawiano Bingu wa Mutharika também se envolveu em desavenças com o governo moçambicano ao tentar navegar os rios Chire e Zambeze, sem o consentimento das autoridades moçambicanas.
Moçambique exige primeiro a realização de um estudo de viabilidade sobre a navegabilidade dos rios Chire e Zambeze, mas o Malawi não consegue fazê-lo devido à falta de fundos.
Como consequência, o pequeno porto fluvial de Nsanje, construído e inaugurado as pressas pelo governo malawiano, ainda continua inoperacional, um ano depois da sua inauguração, havendo fortes hipóteses de vir a tornar-se um museu.
Já em Abril deste ano, o presidente malawiano entrou em choque com a sua antiga potência colonizadora, o Reino Unido, ao expulsar o Alto-Comissário britânico Fergus Cochrane-Dyet, por ter descrito o líder malawiano como autocrata.
Logo a seguir, Fergus Cochrane Dyet foi declarado “persona no grata” pelo Presidente Bingu wa Mutharika e expulso do Malawi.
Diferentemente de Moçambique, que por razões de boa-vizinhança não retaliou a tentativa malawiana de navegação nos rios Chire e Zambeze, o Reino da Grã-Bretanha, um dos maiores doadores do Malawi cortou a sua ajuda ao país, e agora a administração de Mutharika é obrigada a ir atrás do prejuízo visando convencer Londres e outras capitais ocidentais a normalizar as relações com Lilongwe.
Para alguns analistas, este é o “modus operandi” da diplomacia malawiana.
Sata Boicota Cimeira da COMESA
Como prova do seu descontentamento, o Presidente zambiano decidiu boicotar a sua participação na Cimeira da COMESA, Mercado Comum da África Oriental e Austral, a realizar-se no Malawi entre os dias 14 e 15 de Outubro em virtude de até agora ser considerado imigrante proibido pelo governo malawiano.
Sata anunciou igualmente que não enviará nenhum representante da Zâmbia à Cimeira.
Breve história do Malawi
O Malawi é um país encravado dentro de Moçambique e fortemente dependente das infra-estruturas moçambicanas para as suas importações e exportações. Também faz fronteira com Tanzânia e Zâmbia. Ganhou a sua independência em 6 de Julho de 1964, sob a liderança ditatorial de Kamuzu Banda.
Em 1993, os ventos da muidança fizeram com que o país adoptase uma nova Constituição que deu azo a democracia multipartidária.
Em 1994 realizaram-se as primeiras eleições multipartidárias.
A UDF e o seu candidato Bakiliz Muluzi ganharam as eleições, tendo repetido a proeza em 1999 e em 2004, mas desta vez sem Muluzi, dado que por imperativos constitucionais já tinha feito os dois mandatos. Bingu wa Mutharika concorre então em 2004 pela UDF, mas depois de chegar ao poder dissociou-se deste e formou o seu partido, o DPP, em 2005, tornando-se, desde aí, um dos grandes rivais da UDF e de Bakili Muluzi.
O segundo e último mandato de Bingu wa Mutharika termina em 2014, e apontou já o seu irmão mais novo e actual Ministro dos Negócios Estrangeiros, Peter Mutharika, como seu sucessor. A sucessão só poderá falhar se o povo votar contra.
(AIM)
AIM/dt
Fonte: AIM - 28.09.2011
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