CONTINUA desconhecido o paradeiro de alguns garimpeiros feridos durante os tumultos ocorridos há cerca de dez dias na mina de Mavuko, distrito de Moma, em Nampula, na sequência de uma intervenção violenta de agentes da Comissão dos Desmobilizados de Guerra (CODEG), uma empresa privada de segurança, alegadamente para acabar com a exploração ilegal de pedras semipreciosas que ocorrem naquela região.
Santos Miguel, residente naquele povoado, reclama o paradeiro de dois membros da sua família, nomeadamente António Alfredo e Augusto Agostinho, feridos durante a agitação da madrugada de 13 de Dezembro, e dos tumultos que se seguiram ao assalto e vandalização, por populares, das instalações da empresa Paraibas Moçambique Limitada (PML), proprietária dos jazigos.
“Estive aqui no hospital no dia 19 de Dezembro e eles estavam ali naquelas duas camas, não sei para onde foram levados hoje, dia 20 de Dezembro. Não sei o que vou dizer aos meus familiares que me mandaram vir cá”, lamentava Santos Miguel, numa das enfermaria do Centro de Saúde de Chalaua.
Um técnico de Medicina abordado pela nossa Reportagem começou por dizer-nos que não estava autorizado a falar sobre o assunto mas, depois, alegou que estava no seu dia de folga, tendo aconselhado um contacto com um colega seu que, segundo uma enfermeira em serviço na maternidade, estivera no hospital apenas por escassos minutos para disponibilizar morfina à maternidade.
A enfermeira de serviço ainda tentou localizar os doentes procurados consultando demoradamente o diário clínico, num esforço que redundou em fracasso. Santos Miguel acabou regressando a Mavuko sem qualquer informação sobre o paradeiro dos seus parentes.
Na região de Muli, que dista 15 quilómetros de Mavuko, contactamos o cidadão Carlos Salemo, vulgarmente conhecido por Noventa, para tentarmos saber do paradeiro do jovem Joaquim, garimpeiro que igualmente ficou ferido no dia da confusão da retomada da mina pelos homens da CODEG.
“Ouvimos que foi ferido no dia em que houve a confusão lá no Mavuko, desde então ninguém sabe do seu paradeiro. A sua irmã, única parente, está desesperada”, contou-nos Noventa.
No posto administrativo de Iuluti, no distrito de Mogovolas, uma unidade territorial vizinha do povoado de Mavuko, região para onde se refugiou número significativo dos garimpeiros desalojados das minas da PML, encontramos um cenário idêntico.
Ali, os garimpeiros que conversaram com a nossa Reportagem mostraram-se aflitos com relação à sorte que coube aos seus colegas, nomeadamente China Rafika e Agostinho António, igualmente feridos nas minas de Mavuko.
Lucas Joaquim, jovem garimpeiro de 17 anos que estava nas minas de Mavuko quando os seguranças da CODEG tomaram de assalto aquele local, conta como aconteceu:
“Quando eles chegaram (seguranças da CODEG), cerca das duas horas de madrugada, apanharam de surpresa um garimpeiro que estava na cova ao lado, ele gritou e os seguranças dispararam um tiro, que provocou fuga de todos, éramos cerca de 2 mil pessoas e cada uma a fugir para seu lado, eu fiquei ferido no pé, quanto aos outros três meus amigos não sei do seu paradeiro ”, contou-nos Joaquim que mesmo ferido, recusa-se a ir ao hospital por recear ser detido.
Moleza João, ferido na cabeça por um bastão dos seguranças da CODEG, conta que fugiu para Ligonha, que limita as províncias de Nampula e da Zambézia, para cuidados sanitários, porque tinha medo de ser detido.
PRM CONFIRMA QUATRO DETENÇÕES
O COMANDO da Polícia da República (PRM), no posto administrativo de Chalaua, distrito de Moma, em Nampula, que reivindicou na segunda-feira (dia 15 de Dezembro) a reposição da ordem na região mineira de Mavuko, confirma a detenção de quatro pessoas, indiciadas do crime de roubo.
“Alguns garimpeiros pilharam o estaleiro da PML. Quando chegou a Polícia foram apanhados na posse de alguns artigos tirados no estaleiro e na residência de um empresário local”, explicou-nos na altura o administrador do distrito de Moma, Araújo Chale Momade, que esteve na região de Mavuko, dias depois dos acontecimentos.
Guilherme Santos, da comissão dos moradores de Mavuko, exige a divulgação da lista das pessoas detidas pela Polícia nas celas da PRM e hospital rural para onde supostamente terão sido levados os “desaparecidos” e os feridos durante a confusão.
O administrador de Moma tem estado a refutar as informações postas a circular por alguns garimpeiros, segundo as quais pelo menos cinco pessoas perderam a vida durante o assalto à mina de Mavuko pelos seguranças da empresa CODEG.
Segundo Guilherme, com a divulgação da lista, serão levantadas as dúvidas que pairam a cerca da sorte que coube a cada um dos cidadãos actualmente tidos como desaparecidos, isto é, se morreram nas covas, no mato durante a fuga ou se estão nas celas das PRM ou no hospital rural de Moma.
De referir que a zona mineira de Mavuko, numa extensão de mais de 4 mil hectares, foi concessionada a PML em 2006, para um plano de exploração que vai até 2026.
Porém, em Agosto de 2012, por despacho do director nacional de Minas, o Ministério dos Recursos Minerais (MIREM) reduziu o espaço que tinha sido inicialmente atribuído àquela companhia para 200 hectares, facto que chegou a provocar um braço-de-ferro entre as duas entidades, tendo sido posteriormente ultrapassado através da decisão da justiça, que decidiu devolver a área a PML.
MAIS PÂNICO DO QUE ORDEM
O COMANDANTE da empresa de segurança privada Comissão dos Desmobilizados de Guerra (CODEG), contratada pela Paraíba Moçambique Limitada (PML) para proteger os jazigos de pedras semipreciosas localizadas em Mavuko, no posto administrativo de Chalaua, distrito de Moma, em Nampula, confirma que assumiu o controlo da mina, ante a proliferação dos garimpeiros ilegais, às 2:00 horas do dia 13 de Dezembro de 2014.
“Chegamos no coração da mina quando eram duas horas de madrugada. Quando os garimpeiros viram as nossas viaturas com pirilampos e os nossos homens, devem ter ficado assustados e puseram-se em fuga, apreendemos mais de 300 picaretas e pás na operação” contou-nos Carlos Magalhães.
Segundo o régulo Gema (Alberto Malenço), o procedimento dos homens da segurança da CODEG, não foi o mais recomendado, pois criou mais confusão que ordem.
“Não fui informado sobre a vinda destes seguranças. Só me apercebi que estavam cá depois de surgir a confusão e fui de imediato para Chalaua comunicar o sucedido ao chefe do posto, só que quando regresso, sou novamente surpreendido com a informação de que a população assaltou e vandalizou as instalações da Paraíba”, contou Gema.
O pelotão da CODEG indicado para Mavuko, evitou chegar de dia àquele povoado, pois estiveram acampados em Chalaua de onde saíram em direcção ao seu alvo, no período da noite.
Fonte: Jornal Notícias – 29.12.2014
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