A activista social Graça Machel considerou hoje que as estatísticas sobre avanços no combate à pobreza em Moçambique escondem injustiças, defendendo uma ação governativa centrada no ser humano e não apenas nos números.
"As médias nacionais escondem assimetrias e até injustiças, temos de olhar para as assimetrias geográficas, mas também temos de olhar por grupos, como o acesso aos serviços para crianças, adolescentes, jovens, adultos e idosos e dentro disso, olhar por género", afirmou Graça Machel, falando na conferência "Moçambique: que visão para o futuro", promovido pelo Fórum Económico e Social de Moçambique (Mozefo).
Para Machel, viúva do primeiro Presidente, ex-ministra da Educação e actual presidente da Fundação para o Desenvolvimento da Comunidade (FDC), o verdadeiro retrato sobre a elevação da qualidade de vida em Moçambique só pode ser obtido com a desagregação das estatísticas seguindo critérios fiáveis.
"Crescimento económico, sim, e precisamos, talvez, aumentar esse crescimento económico, mas o desenvolvimento é medido e deve ser medido pela qualidade de vida dos seus cidadãos", enfatizou Graça Machel.
A ativista social defendeu o imperativo de instituições fortes e à altura das suas funções como instrumento para a satisfação das necessidades dos cidadãos, observando que "nenhum país se pode considerar desenvolvido sem instituições fortes".
Por seu turno, o escritor e ex-ministro da Cultura Luís Bernardo Honwana apontou a necessidade de inclusão no usufruto dos benefícios materiais gerados pelo crescimento económico do país, como um dos principais desafios.
"Uma das questões que se colocam é a qualidade de inclusão necessária para que o país possa responder com sucesso aos desafios que nos apresentam e esses desafios são dilacerantes", disse Luis Bernardo Honwana.
Para o escritor, a crise política e militar que o país atravessou entre meados de 2013 e setembro do ano em curso demonstra que o projeto político moçambicano pode estar em perigo.
"Se não houver um esforço no sentido de corrigir aquilo que o nosso viver vai fazendo de danos, temos consciência que se põe em perigo o nosso projeto político", destacou Honwana.
Por seu turno, o reitor da A Politécnica, a mais antiga e maior universidade privada em Moçambique, Lourenço do Rosário criticou o alegado descuramento da condição humana pelas políticas públicas implementadas pelo Estado,
"Valorizamos o material, bicicletas e estradas, mas esquecemos a condição humana", sublinhou
Anabela Rodrigues, diretora do Fundo Mundial para a Natureza (WWF), defende que Moçambique tem a oportunidade de explorar os recursos energéticos que têm sido descobertos com sustentabilidade, seguindo os melhores modelos neste domínio.
"Não há incompatibilidade entre desenvolvimento e sustentabilidade, não são valores opostos, tenho receio que talvez não se sigam as melhores práticas já estabelecidas no mundo", afirmou.
Fonte: LUSA – 10.12.2014
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