Por Adelino Timóteo
– Camarada Joaquim Chipande,
Sempre que o camarada Chipande
vem a terreiro, faz revelações que nos iluminam para os assuntos que são
discutidos em surdina dentro da Frelimo, sobre, por assim dizer, aquilo que a
Frelimo pensa.
Camarada,
Chega-nos pela sua voz algo
entrecortada e obstruída na garganta, com algumas palavras que lhe caiem pela
gola adentro da camisa, derivado da bengala linguística, o que lhe corre no
real do seu pensamento, o que o corporiza e o que o vincula às eventuais conversas
com os camaradas Joaquim Chissano, Mariano Matsinhe, Armando Guebuza, Pascoal
Mocumbi, entre outros membros do antigo Bureau Político – formalmente
inexistente, mas ainda assim operacional.
Camarada Chipande, temo-lo
acompanhado desde os manuais da escola, que o dão como o homem do primeiro
tiro, na luta de Libertação Nacional. Do que nos lembramos, o Camarada foi
Ministro da Defesa Nacional de 1975 até à década de 1990. Talvez por esses
feitos, o Camarada não perde o arrojo nem a coragem, quando, com as suas
afirmações ousadas, vem a público deflagrar ruidosamente o que a sua plêiade de
anciãos pensa, tem preparado para os filhos, netos, bisnetos e trisnetos. Sem
eximi-lo das responsabilidades nas suas afirmações, o camarada sabe como dar
com a língua nos dentes. É exímio nisso.
Ora, quando há dias o Camarada,
discursando pelos seus 76 anos, proclamou que a Frelimo irá governar por mais
cinquenta anos, alguns sopesaram que talvez assim o disse porque poderia estar
a ficar senil, ou por causa de uns copos a mais. Para quem o conhece, sabe como
o camarada é.
O Camarada Chipande apenas tem
aquilo que se diz, a falta de pêlos na língua, para fazer afirmações
bombásticas. Não é a primeira vez que tem o desplante de dizer como as coisas
são e o que se discute no seio da “nomenklatura”, um punhado de cinco ou seis
pessoas, que são quem “decide” da vida política (a fraude incluso), económica e
social do país, e, por tabela, do partido Frelimo.
Em Agosto de 2009, foi o
camarada, qual porta-voz dessa “nomenklatura”, quem afirmou que os dirigentes
da Frelimo fizeram a luta armada para se tornarem ricos. O camarada Chipande,
que é chefe da brigada central da Frelimo em Sofala, em Outubro de 2009 trouxe
à tona, na Beira, aquilo que é o consenso ao nível do “establishment” do
partido “n’goma e maçaroca”: “Daqui não saímos, daqui ninguém nos tira. Nem com
as eleições nem com a dita democracia, ninguém nos tira”.
Não duvidamos de que tudo o que o
camarada Chipande tem dito, se nunca mereceu nenhuma repreensão ou apreensão
dentro do partido, é porque o camarada o diz com anuência do círculo mais
restrito da Frelimo, o núcleo duro. Vai daí que tudo o que o camarada Chipande
tem revelado é prenúncio daquilo que depois testemunhamos pelos nossos próprios
olhos.
Se alguma dúvida paira ainda em
torno das revelações do camarada, que é cumulativamente porta-voz do núcleo
duro, há que desfazê-la, pois, por exemplo, já em Outubro de 2009 o camarada
disse o seguinte: “A campanha que estamos a fazer é para as eleições de 2014, visto
que para as eleições deste ano já ganhámos”.
No ano passado, ouvimos o
camarada Chipande afirmar, em Nampula, por altura da campanha para as eleições
autárquicas, que a Frelimo programara encerrar o processo eleitoral, para daí
fazer guerra com a Renamo e voltar-se ao período de partido único. E vimos
quanta arma se comprou, quantos aviões de guerra também. E vimos quanta
artilharia foi gasta nas eleições de 2013/14 contra cidadãos indefesos. E
sabemos assim por que o país tem agora a dívida externa ao nível da de 1996.
Porque estamos falidos, sabemos.
Agora estamos mais do que claros
por que as mais recentes Eleições foram as mais fraudulentas – pelo menos
ocorreram irregularidades em 12 por cento de mesas de votos, sinal suficiente
para alterar os resultados gerais – da história democrática (?) do país.
Sabemos agora por que o Conselho
Constitucional, apesar da fraude maciça, jamais declarará a nulidade das
eleições de Outubro passado, pois a soberania reside num punhado de anciãos,
que impõe que se cometa a proeza de fazer-se conhecer os resultados eleitorais
descurando a utilidade dos editais, cujo paradeiro raia ao jogo das escondidas
ou de polícias-ladrões.
Camarada, apetece-nos sugerir-lhe
uma coisa. Já que a fraude de 2019 está preparada, já que a campanha eleitoral
deste ano foi para preparar a vitória das eleições de 2018/2019, apetece-nos
sugerir-lhe algo, pois o camarada pode levar a nossa preocupação aos outros
camaradas com quem programa a arquitectura de vitórias fraudulentas.
Camarada, em 1999, Pascoal
Mocumbi disse, em Chimoio, que o país pertence à Frelimo. O camarada Chissano
pediu votos, neste mesmo ano, para que a Frelimo consiga realizar o sonho de
governar por mais cem anos.
Mesmo, uma vez, o camarada disse
que quem não está satisfeito com a governação da Frelimo poderia marchar para o
estrangeiro.
Por que não propor aos camaradas
Joaquim Chissano, Armando Guebuza, Mariano Matsinhe, que se crie um país
chamado FRAUDELIMO, e deixem o Moçambique para aqueles que almejam eleições
livres, justas e transparentes?
Ou, para não nos acusarem de
minar a unidade nacional – que, sabemos, é uma afirmação oca, se bem que ela
espelhe a unidade dos corruptos que “gangsterizam” o Estado –, por que não
propor a mudança do nome do país para Fraudelimo? (Adelino Timóteo)
Fonte: CANALMOZ – 05.12.2014
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