sexta-feira, dezembro 05, 2014

Por que não mudamos o nome do país para Fraudelimo?

Por Adelino Timóteo

– Camarada Joaquim Chipande,
Sempre que o camarada Chipande vem a terreiro, faz revelações que nos iluminam para os assuntos que são discutidos em surdina dentro da Frelimo, sobre, por assim dizer, aquilo que a Frelimo pensa.
Camarada,
Chega-nos pela sua voz algo entrecortada e obstruída na garganta, com algumas palavras que lhe caiem pela gola adentro da camisa, derivado da bengala linguística, o que lhe corre no real do seu pensamento, o que o corporiza e o que o vincula às eventuais conversas com os camaradas Joaquim Chissano, Mariano Matsinhe, Armando Guebuza, Pascoal Mocumbi, entre outros membros do antigo Bureau Político – formalmente inexistente, mas ainda assim operacional.

Camarada Chipande, temo-lo acompanhado desde os manuais da escola, que o dão como o homem do primeiro tiro, na luta de Libertação Nacional. Do que nos lembramos, o Camarada foi Ministro da Defesa Nacional de 1975 até à década de 1990. Talvez por esses feitos, o Camarada não perde o arrojo nem a coragem, quando, com as suas afirmações ousadas, vem a público deflagrar ruidosamente o que a sua plêiade de anciãos pensa, tem preparado para os filhos, netos, bisnetos e trisnetos. Sem eximi-lo das responsabilidades nas suas afirmações, o camarada sabe como dar com a língua nos dentes. É exímio nisso.

Ora, quando há dias o Camarada, discursando pelos seus 76 anos, proclamou que a Frelimo irá governar por mais cinquenta anos, alguns sopesaram que talvez assim o disse porque poderia estar a ficar senil, ou por causa de uns copos a mais. Para quem o conhece, sabe como o camarada é.

O Camarada Chipande apenas tem aquilo que se diz, a falta de pêlos na língua, para fazer afirmações bombásticas. Não é a primeira vez que tem o desplante de dizer como as coisas são e o que se discute no seio da “nomenklatura”, um punhado de cinco ou seis pessoas, que são quem “decide” da vida política (a fraude incluso), económica e social do país, e, por tabela, do partido Frelimo.
Em Agosto de 2009, foi o camarada, qual porta-voz dessa “nomenklatura”, quem afirmou que os dirigentes da Frelimo fizeram a luta armada para se tornarem ricos. O camarada Chipande, que é chefe da brigada central da Frelimo em Sofala, em Outubro de 2009 trouxe à tona, na Beira, aquilo que é o consenso ao nível do “establishment” do partido “n’goma e maçaroca”: “Daqui não saímos, daqui ninguém nos tira. Nem com as eleições nem com a dita democracia, ninguém nos tira”.
Não duvidamos de que tudo o que o camarada Chipande tem dito, se nunca mereceu nenhuma repreensão ou apreensão dentro do partido, é porque o camarada o diz com anuência do círculo mais restrito da Frelimo, o núcleo duro. Vai daí que tudo o que o camarada Chipande tem revelado é prenúncio daquilo que depois testemunhamos pelos nossos próprios olhos.
Se alguma dúvida paira ainda em torno das revelações do camarada, que é cumulativamente porta-voz do núcleo duro, há que desfazê-la, pois, por exemplo, já em Outubro de 2009 o camarada disse o seguinte: “A campanha que estamos a fazer é para as eleições de 2014, visto que para as eleições deste ano já ganhámos”.
No ano passado, ouvimos o camarada Chipande afirmar, em Nampula, por altura da campanha para as eleições autárquicas, que a Frelimo programara encerrar o processo eleitoral, para daí fazer guerra com a Renamo e voltar-se ao período de partido único. E vimos quanta arma se comprou, quantos aviões de guerra também. E vimos quanta artilharia foi gasta nas eleições de 2013/14 contra cidadãos indefesos. E sabemos assim por que o país tem agora a dívida externa ao nível da de 1996. Porque estamos falidos, sabemos.
Agora estamos mais do que claros por que as mais recentes Eleições foram as mais fraudulentas – pelo menos ocorreram irregularidades em 12 por cento de mesas de votos, sinal suficiente para alterar os resultados gerais – da história democrática (?) do país.
Sabemos agora por que o Conselho Constitucional, apesar da fraude maciça, jamais declarará a nulidade das eleições de Outubro passado, pois a soberania reside num punhado de anciãos, que impõe que se cometa a proeza de fazer-se conhecer os resultados eleitorais descurando a utilidade dos editais, cujo paradeiro raia ao jogo das escondidas ou de polícias-ladrões.
Camarada, apetece-nos sugerir-lhe uma coisa. Já que a fraude de 2019 está preparada, já que a campanha eleitoral deste ano foi para preparar a vitória das eleições de 2018/2019, apetece-nos sugerir-lhe algo, pois o camarada pode levar a nossa preocupação aos outros camaradas com quem programa a arquitectura de vitórias fraudulentas.
Camarada, em 1999, Pascoal Mocumbi disse, em Chimoio, que o país pertence à Frelimo. O camarada Chissano pediu votos, neste mesmo ano, para que a Frelimo consiga realizar o sonho de governar por mais cem anos.
Mesmo, uma vez, o camarada disse que quem não está satisfeito com a governação da Frelimo poderia marchar para o estrangeiro.
Por que não propor aos camaradas Joaquim Chissano, Armando Guebuza, Mariano Matsinhe, que se crie um país chamado FRAUDELIMO, e deixem o Moçambique para aqueles que almejam eleições livres, justas e transparentes?
Ou, para não nos acusarem de minar a unidade nacional – que, sabemos, é uma afirmação oca, se bem que ela espelhe a unidade dos corruptos que “gangsterizam” o Estado –, por que não propor a mudança do nome do país para Fraudelimo? (Adelino Timóteo)


Fonte: CANALMOZ – 05.12.2014

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