quinta-feira, novembro 07, 2013

Diálogo permanente

Por Mouzinho de Albuquerque

O nosso país vinha sendo referenciado insistentemente em quase todos os quadrantes políticos do mundo como sendo um dos melhores exemplos de pacificação e democratização depois  de uma longa e devastadora guerra, processo que se esperava viesse a reforçar-se e a consolidar-se ainda mais à medida que o país ia realizando eleições autárquicas, legislativas e presidenciais.

Porém, quero acreditar que estávamos conscientes e muito esperançados de que essa referência só continuaria a “petiscar” os olhos do mundo, se todos nós, em particular as partes signatárias do Acordo Geral de Paz, tivéssemos contribuído da mesma maneira para o efeito.


Por outro lado, se a nossa consciência amadurecesse cada vez mais, no sentido de que é necessário desenvolver este país sem que nos atrapalhemos com coisas que em nada nos dignificam política e socialmente. Prevaleceu durante muitos anos o espírito de boa convivência e harmonia entre moçambicanos, consolidando a unidade nacional. Não podemos ignorar que ninguém nos deu esta paz de bandeja de prata. Mas, embora parecendo que era e é cada vez mais clara a dificuldade de uma coexistência pacífica permanente, principalmente entre a Renamo e Frelimo, essa convivência permitiu que Moçambique tivesse muitos ganhos em várias áreas. Muitos investimentos que contribuíram para o seu desenvolvimento económico e social foram e estão sendo injectados, o que é muito bom num momento em que combatemos a pobreza.

Então, é, pois, de toda a urgência a retomada do diálogo sério e responsável entre o Governo e a Renamo. Os ataques ou confrontações militares trouxeram um clima de descontentamento e repúdio generalizado no país. Mexem a vida de todos nós. O país voltou a viver uma crise política e militar desde a assinatura do Acordo Geral de Paz. É uma situação que insistimos aqui que não se justifica, enquanto provamos perante o mundo que o diálogo é a melhor via de resolução dos nossos problemas.

O reinício dos ataques ou confrontações militares deita por água abaixo todo o esforço feito para a manutenção da paz durante 21 de anos em Moçambique. Não parece haver consciência de que com isso diluímos a nossa imagem além-fronteiras, de que somos um dos melhores exemplos de pacificação e democratização depois de uma guerra sangrenta de 16 anos. Se Moçambique é uno e indivisível, então não pode haver grandes dificuldades em nos entendermos através do diálogo. Não pode haver grande dificuldade de percepção e conhecimento profundo por parte de um político, de que a guerra só prejudica o povo. Atrasa o país. Provoca mortes dos nossos concidadãos. Destrói infra-estruturas e bens. Cria ódios.

Um Moçambique de cidadãos de diversas convicções político-partidárias é algo belo para conseguir cimentar cada vez mais a sua unidade, o aprofundamento da dimensão democrática da nossa nação, que passa por uma militância política que envolva a coexistência e interacção, baseadas no respeito mútuo e tolerância, implicando mais harmonia do que conflitos e intrigas, mais consensos do que confrontações e mais reconciliações do que alheamentos e acusações infundadas.

Já diz o ditado que o lugar ou país onde se nasce é o país onde mais por acaso se está. Para dizer que Moçambique é o país onde nascemos e estamos, daí que todos, em particular os políticos, somos chamados a trabalhar no sentido de esse nosso estar fortificar a verdadeira reconciliação nacional.

Fonte: Jornal Notícias - 07.11.2013

1 comentário:

Anónimo disse...

como alguem se chama Mouzinho de Albuquerque? alem de mais negro. Nao sou racista mas temos nomes de herois, Maguiguana, Ngungunhana, Txaka, Mangwawule, Chipande, Mugabe,
etc eu poprio me chamo Materula em homenagem ao meu trizavo que lutou contra os invasores