Por Machado da Graça(*)
Algumas vezes os nossos dirigentes dizem coisas com as quais não concordamos apenas devido a problemas de comunicação.
Vejamos,por exemplo,o caso,muito repetido,de nos dizerem que não prendem fulano nem beltrano porque“não andam à procura de bodes expiatórios”.
Ora o que nos dizem os textos antigos é que os bodes expiatórios eram pobres animais, sem nenhuma culpa para além de terem uma carne apetecível, que eram sacrificados em representação dos pecadores.Os homens, que tinham cometido crimes e pecados, descarregavam essas malfeitorias em cima do pobre animal e depois sacrificavam-no de forma a parecer que eram eles quem estava a ser castigado pelos ditos crimes e pecados.
Portanto, é claro que quando a opinião pública exige que os criminosos e/ou corruptos se sentem no banco dos réus dos nossos tribunais, não se trata aqui, de forma nenhuma, de querer sacrificar bodes expiatórios. Isso seria se se pegasse num qualquer António Sitói, lhe atribuíssemos os crimes, por exemplo, do Anibalzinho, e depois o colocássemos na cadeia, a cumprir os 28 anos de prisão, deixando o Anibalzinho em liberdade.
Temos, portanto,que as nossas autoridades se escusam a responsabilizar os corruptos e/ou criminosos usando um argumento que não tem o significado que elas julgam que tem. O que cria os ditos problemas de comunicação.
Vejamos outro exemplo, bem recente. O facto de o Chefe de Estado ter dito que o Estado da Nação é Bom. Muitos comentadores afirmaram que a expressão é correcta porque é visível que as coisas estão a melhorar no nosso país em muitos aspectos. Embora seja verdade que as coisas estão a melhorar,em alguns casos até bastante, isso não quer dizer que o estado actual é bom.
Usando como exemplo as classificações escolares que se usavam na minha juventude, uma prova podia ter a nota de Mau, Medíocre Menos, Medíocre, Medíocre Mais, Suficiente Menos, Suficiente, Suficiente Mais, Bom Menos, Bom, Bom Mais e Muito Bom.
Ora,no nosso caso, é notório que já saímos do Mau, talvez até do Medíocre Menos e estejamos já no Medíocre. Mas o facto de a progressão ser no sentido positivo não quer dizer que já chegámos ao Bom. Muito longe disso.
Na minha classificação,baseada nas condições em que vivem os respectivos povos, teriam a classificação Bom países como a Espanha, a França ou a Alemanha. Muito bom seria para os países nórdicos.Nós continuamos num patamar muito baixo do desenvolvimento humano como, anualmente, nos recordam as entidades internacionais que avaliam essas coisas. E não é por estarmos a melhorar nessas tabelas que já estamos no Bom. Ainda temos que pedalar muito nesta ladeira para lá chegar.
O próprio Presidente da República, quando nos estimula a correr, em vez de andar,para combater a pobreza absoluta, nos está a dizer que há ainda muito esforço a fazer para chegarmos a uma situação de bem-estar para a maioria da população. Há, portanto, que melhorar os nossos códigos de comunicação. Há que usar uma terminologia mais correcta para todos sabermos, exactamente, o que estamos a dizer ou a ouvir.
É verdade que essas coisas nunca são completamente inocentes. E, quando se diz que o Estado da Nação é Bom isso, claramente, tem um efeito psicológico na população muito diferente de se dissesse é Medíocre. Ou mesmo se não dissesse nada, em termos de classificação. Mas se isto faz parte do arsenal próprio dos políticos, já o mesmo não deve acontecer com os
comentadores, cuja terefa é ajudar-nos a entender melhor todas estas linguagens.
Mas, para isso,é necessário que o comentador se coloque numa posição de independência,e não de
subserviência em relação aos políticos.Caso contrário,em vez de esclarecerem só dificultam ainda mais a compreensão das mensagens.
E, a terninar, o desejo de que todos os meus habituais leitores tenham um ano de 2007 cheio de felicidade e de excelentes realizações pessoais, familiares e profissionais.
Boa passagem do ano.
(*)Talhe de Foice
Algumas vezes os nossos dirigentes dizem coisas com as quais não concordamos apenas devido a problemas de comunicação.
Vejamos,por exemplo,o caso,muito repetido,de nos dizerem que não prendem fulano nem beltrano porque“não andam à procura de bodes expiatórios”.
Ora o que nos dizem os textos antigos é que os bodes expiatórios eram pobres animais, sem nenhuma culpa para além de terem uma carne apetecível, que eram sacrificados em representação dos pecadores.Os homens, que tinham cometido crimes e pecados, descarregavam essas malfeitorias em cima do pobre animal e depois sacrificavam-no de forma a parecer que eram eles quem estava a ser castigado pelos ditos crimes e pecados.
Portanto, é claro que quando a opinião pública exige que os criminosos e/ou corruptos se sentem no banco dos réus dos nossos tribunais, não se trata aqui, de forma nenhuma, de querer sacrificar bodes expiatórios. Isso seria se se pegasse num qualquer António Sitói, lhe atribuíssemos os crimes, por exemplo, do Anibalzinho, e depois o colocássemos na cadeia, a cumprir os 28 anos de prisão, deixando o Anibalzinho em liberdade.
Temos, portanto,que as nossas autoridades se escusam a responsabilizar os corruptos e/ou criminosos usando um argumento que não tem o significado que elas julgam que tem. O que cria os ditos problemas de comunicação.
Vejamos outro exemplo, bem recente. O facto de o Chefe de Estado ter dito que o Estado da Nação é Bom. Muitos comentadores afirmaram que a expressão é correcta porque é visível que as coisas estão a melhorar no nosso país em muitos aspectos. Embora seja verdade que as coisas estão a melhorar,em alguns casos até bastante, isso não quer dizer que o estado actual é bom.
Usando como exemplo as classificações escolares que se usavam na minha juventude, uma prova podia ter a nota de Mau, Medíocre Menos, Medíocre, Medíocre Mais, Suficiente Menos, Suficiente, Suficiente Mais, Bom Menos, Bom, Bom Mais e Muito Bom.
Ora,no nosso caso, é notório que já saímos do Mau, talvez até do Medíocre Menos e estejamos já no Medíocre. Mas o facto de a progressão ser no sentido positivo não quer dizer que já chegámos ao Bom. Muito longe disso.
Na minha classificação,baseada nas condições em que vivem os respectivos povos, teriam a classificação Bom países como a Espanha, a França ou a Alemanha. Muito bom seria para os países nórdicos.Nós continuamos num patamar muito baixo do desenvolvimento humano como, anualmente, nos recordam as entidades internacionais que avaliam essas coisas. E não é por estarmos a melhorar nessas tabelas que já estamos no Bom. Ainda temos que pedalar muito nesta ladeira para lá chegar.
O próprio Presidente da República, quando nos estimula a correr, em vez de andar,para combater a pobreza absoluta, nos está a dizer que há ainda muito esforço a fazer para chegarmos a uma situação de bem-estar para a maioria da população. Há, portanto, que melhorar os nossos códigos de comunicação. Há que usar uma terminologia mais correcta para todos sabermos, exactamente, o que estamos a dizer ou a ouvir.
É verdade que essas coisas nunca são completamente inocentes. E, quando se diz que o Estado da Nação é Bom isso, claramente, tem um efeito psicológico na população muito diferente de se dissesse é Medíocre. Ou mesmo se não dissesse nada, em termos de classificação. Mas se isto faz parte do arsenal próprio dos políticos, já o mesmo não deve acontecer com os
comentadores, cuja terefa é ajudar-nos a entender melhor todas estas linguagens.
Mas, para isso,é necessário que o comentador se coloque numa posição de independência,e não de
subserviência em relação aos políticos.Caso contrário,em vez de esclarecerem só dificultam ainda mais a compreensão das mensagens.
E, a terninar, o desejo de que todos os meus habituais leitores tenham um ano de 2007 cheio de felicidade e de excelentes realizações pessoais, familiares e profissionais.
Boa passagem do ano.
(*)Talhe de Foice
29-12-2006
Sem comentários:
Enviar um comentário