(Maputo) OS próximos três anos são de intensa actividade política no país. Ciente disso, a Renamo, principal partido da oposição, não quer ficar atrás na corrida e já se mexe a quase "todo o vapor", um pouco por todo o país. Afonso Dhlakama, líder da organização, Ossufo Momade, secretário-geral, e outros responsáveis subalternos percorrem o país de lés-a-lés "acordando" os seus membros e simpatizantes para, ainda ao alvorecer se prepararem para os desafios que se avizinham.
O que a Renamo pretende com estes conselhos é trabalhar de forma ascendente ou seja, tomar decisões a partir da base ao topo. Mesmo os delegados ao congresso que se avizinha serão indicados por estes conselhos, segundo explica Fernando Mazanga. Assim, já foram criados conselhos provinciais, integrando cada um cerca de 300 elementos. Foram igualmente criados os conselhos distritais, conselhos de postos administrativos, conselhos de localidade, conselhos de povoação, conselhos de vila e conselhos de bairros, todos eles com a missão específica de acompanhar e fiscalizar as actividades que estão a ser levadas a cabo pelos responsáveis do partido ao mais alto nível, e não só. "Já vamos para o segundo mês de funcionamento destes órgãos e a experiência mostra que valeu a pena a sua criação. O que temos que fazer é continuar a acompanhar o seu funcionamento, porque novos, e consolidarmos esta nova estrutura que vem imprimir uma nova dinâmica no funcionamento do nosso partido. Repare só que estes órgãos estão investidos de poderes deliberativos, cabendo a eles eleger, por exemplo, os delegados ao congresso que terá lugar este ano, em data e lugar a anunciar oportunamente", indica Fernando Mazanga, acrescentando que "doravante, não mais haverá indicações ao nível central. Tudo será feito localmente".
O CONGRESSO
Interrogado sobre os preparativos do congresso, Fernando Mazanga disse que em todo o país já se vive a euforia desta reunião máxima da Renamo que se realiza ordinariamente de cinco em cinco anos. Disse que para preparar este encontro, Afonso Dhlakama, presidente do partido, percorre desde Janeiro último o país, mobilizando os militantes e simpatizantes da organização e a população em geral, para continuar a trabalhar em prol do aprofundamento da democracia em Moçambique. Afonso Dhlakama, segundo Fernando Mazanga, convive com a população, incute nela a esperança de um dia Moçambique prosperar com a sua governação.
Neste seu périplo, o líder da Renamo já escalou sucessivamente as províncias de Inhambane, Zambézia, Nampula, Manica e agora se encontra em Niassa. "Na sua passagem pelos diferentes distritos, localidades, postos administrativos e bairros, Afonso Dhlakama reestrutura o partido, encoraja a população a consolidar a democracia e dá a certeza de que esta veio para ficar. Explica ainda que a Renamo vai realizar este ano o seu congresso e que todos devem participar activamente não só nos seus preparativos, mas também na sua realização", diz o porta-voz da "perdiz".
A realização do congresso da Renamo coincide com o do seu principal adversário. A este propósito quisemos saber sobre se tal era sinal de verdadeira competência política ao que este respondeu: "O nosso congresso é ordinário. O do nosso adversário assemelha-se a um parto prematuro. Não passam cinco anos e mal nos ouviu falar de congresso, também pôs-se a copiar o que estamos a fazer", afirmou, acrescentando que para a Renamo, cinco anos após a realização do seu último congresso (2001) é estatutário que realize este ano a sua reunião máxima. "Ainda não temos datas nem local da realização do congresso, mas oportunamente iremos anunciar", frisou.
Neste encontro vamo-nos debruçar sobre os nossos estatutos e programa e faremos uma radiografia de onde estamos, de onde vimos e para onde vamos. Sairemos deste congresso mais fortalecidos e mais animados para os desafios políticos do futuro. Mas, segundo a fonte, as ambições da Renamo não se esgotam em ganhar eleições. Fernando Mazanga afirmou que o congresso vai analisar a situação económica, social e cultural do país. "Queremos ter o pulsar político, económico e social do país. Por isso não só de eleições vivemos. Mas também do bem-estar dos moçambicanos", sublinhou.
Imperativos democráticos
De acordo com Fernando Mazanga, o presidente da Renamo é confrontado na sua passagem pelos distritos com observações da população que pretende saber por que razão os deputados da Assembleia da República, eleitos pela Renamo tomaram posse neste órgão e também porque razão Afonso Dhlakama tomou o seu lugar no Conselho de Estado, contrariando o desejo das bases. Dhlakama, segundo Fernando Mazanga, tem explicado de forma didáctica que tudo se deveu a imperativos democráticos.
A fonte disse que o seu presidente foge um pouco da agenda política para falar da pobreza e da necessidade dos moçambicanos se unirem em torno da luta contra o vírus do HIV/SIDA e sua propagação. Ainda no quadro da reorganização do partido com vista aos próximos desafios políticos a Renamo está a levar a cabo a capacitação de quadros em matéria diversa. "Já capacitamos porta-vozes provinciais, porta-vozes dos conselhos municipais onde a Renamo é Governo e queremos melhorar a nossa prestação na comunicação com o eleitorado e com os jornalistas. Este ano vamos capacitar os porta-vozes distritais", disse. Referiu que a capacitação destes quadros visa também a cobertura do processo eleitoral cujo ciclo começa próximo ano, com a corrida para as assembleias provinciais, seguindo-se as assembleias locais em 2008 e as legislativas e presidenciais em 2009.
Segundo o porta-voz da Renamo, a actividade da sua organização não tem sido um mar de rosas. "O nosso principal adversário tem vindo a aliciar de forma aberta e descarada os nossos quadros e outros influentes ligados a nós. Até os empresários comprometidos com a causa da Renamo são aliciados para aderirem à causa do nosso adversário a troco de créditos bancários e de outras regalias. Uns caiem, infelizmente, mas muitos resistem a esta tentação. Este fenómeno preocupa-nos bastante", disse a fonte.
Num outro desenvolvimento, o interlocutor insurgiu-se contra a canalização de sete biliões de meticais no quadro da política de desenvolvimento a partir do distrito. Fernando Mazanga disse que muito longe de servir o desenvolvimento distrital este dinheiro será usado para continuar a aliciar os membros da "perdiz" e outros influentes, concorrendo assim para acabar com a Renamo e enfraquecer a democracia em Moçambique. "Na Ilha de Moçambique, por exemplo, o representante do Estado trabalha na sede do partido Frelimo, a partir de onde oferece donativos a todos quantos se prezam identificar-se com este partido. Quem é da oposição arrisca-se a não apanhar nada. De onde vêm esses donativos?", questionou. Fernando Mazanga referiu que não obstante a existência deste fenómeno, a Renamo continuará a resistir para que a democracia vingue em Moçambique.
Fonte: Notícias
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