Por: Carlos Serra
Uma das características centrais das nossas eleições (mas, certamente, fenómeno universal) consiste na enorme satisfação que os candidatos eleitorais sentem quando uma multidão está presente nos seus comícios.Após o comício ou após os comícios, é fatal o grande candidato afirmar aos órgãos de infirmação algo como: “O povo está comigo, estou feliz, já ganhámos!”A multidão de facto ali esteve, apreciando a gesticulação do candidato, apalpando as promessas, aguardando ansiosamente a doação, as canetas, as capulanas, a dança, o concerto, tudo aquilo que os candidatos trazem para a sua engenharia de contacto. Os potenciais votantes esperam o potlatch, o dom. E esperam que mais outros candidatos apareçam. Quantos mais, melhor.Então, frequentemente, os resultados eleitorais mostram que o candidato estava enganado. Os votantes esqueceram-no mal ele saiu do local do comício. E o candidato, pesaroso, fala de um efeito perverso ou, então, a mão invisível, complotária, do inimigo.Acontece que o comum dos votantes apenas espera fazer, como se na vertigem de um inconsciente colectivo nunca perdido e de repente tornado consciente, o que os camponeses do século XVII faziam no centro do país com os mafumo (chefes aldeãos) que elegiam: obrigá-los a distribuir os bens que tinham acumulado antes e depois da eleição
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