Recebeu dinheiro dos “camaradas” e sumiu
O Comité Provincial do Partido Frelimo, em Gaza, o Serviço de Informação e Segurança do Estado (SISE) e a Polícia da República de Moçambique (PRM) foram esta Segunda-feira, 8 de Maio, enganados por um suposto membro sénior da Renamo aliciado por avultadas somas de dinheiro para se entregar publicamente à Frelimo mas que, na hora da verdade, desapareceu com o dinheiro.
No entanto, a delegada provincial da Renamo, em Gaza, Marta Matavele, desconhece do caso e explicou que “talvez a Frelimo tenha comprado um mendigo para se entregar como ex-membro da Renamo”. José Tsambe, primeiro secretário provincial da Frelimo, mostrou-se surpreendido com a informação de que o suposto renamista fugiu, alegando tratar-se de um membro do partido PALMO.
Dados apurados pelo ZAMBEZE dão conta que o Comité Provincial do Partido Frelimo, em Gaza, convocou, Segunda-feira, 8 de Maio, uma conferência de imprensa alegadamente para apresentar publicamente um suposto quadro sénior da Renamo que, posteriormente, soubemos tratar-se de Azarias Mucavele, antigo régulo naquela província que “decidiu” desertar do seu partido para filiar-se ao partido dos “camaradas”.
Marcada para 10 horas e 30 minutos, o tempo foi passando sem que o suposto “membro sénior da Renamo” se apresentasse à imprensa, até que, quando eram cerca das 13 horas, o secretário da Mobilização e Propanganda da Frelimo a nível da província de Gaza, Moisés Nhatsale, anunciou aos jornalistas presentes que tal conferência de imprensa não mais iria acontecer porque não havia condições para o homem se deslocar à sede do Comité Provincial da Frelimo, devido à chuva que caía naquele dia.
Outra justificação dada aos jornalistas presentes foi de que o suposto quadro da perdiz havia desaparecido da sua residência, mas não se avançou aos jornalistas a ideia do dia e hora em que o homem poderia vir a apresentar-se.
Segundo informação em nosso poder, o acto que culminou com o aliciamento do suposto “membro sénior da Renamo” drenou avultadas somas de meticais, tendo envolvido na sua preparação “altas patentes do SISE e da Polícia da República de Moçambique” daquela província, alegadamente porque “quando viram que o homem não aparecia, vimos altas figuras do SISE e da PRM movimentarem-se dum lado para o outro, ora eram telefonemas que nunca terminavam, até que o secretário da mobilização e propaganda da Frelimo ganhou coragem para nos dizer que o individuo desapareceu”, disseram-nos fontes seguras locais. “Nhatsale disse aos jornalistas que não poderia avançar dados pessoais do suposto desertor da Renamo porque seria ele próprio (o desertor) a se identificar no acto de apresentação pública, o ano em que entrou na Renamo e o cargo que desempenhava até à data de deserção”, disseram-nos as fontes bem colocadas e presentes na abortada conferência de imprensa.
Segundo apurámos na cidade de Xai-Xai, a Frelimo anda apreensiva com o desaparecimento do suposto quadro sénior da Renamo, alegadamente por “pensar que o homem pode convocar a imprensa para denunciar o aliciamento feito pela Frelimo e pelo SISE para se declarar desertor da Renamo”.
Entretanto, dada a gravidade do insólito e sobretudo pelo facto de os colegas sediados naquela capital provincial terem sido alegadamente proibidos de divulgar o acontecido, o ZAMBEZE esteve no terreno e devassou a cidade de Xai-Xai na procura da verdade. Soubemos que o jornal “Notícias” e a Televisão de Moçambique estiveram ausentes da abortada conferência, tendo estado em peso a Rádio Moçambique mas que, entretanto, não noticiou o insólito acontecimento.
No Instituto de Comunicação Social e Rádio Comunitária locais, o ZAMBEZE soube de alguns jornalistas locais que a notícia do fracasso da apresentação pública do quadro da perdiz não foi divulgada porque “ninguém sabia do nome do suposto renamista, talvez se fosse um delegado ou um dos candidatos a Presidente do Município”.
“Nós, jornalistas da TVM, Notícias e ICS nem fomos convocados, mas soubemos de colegas da Rádio Moçambique que se tratava de um membro da Renamo que iria se apresentar como desertor do seu partido. Disseram-nos os mesmos colegas que não se apresentou devido à chuva que caiu naquela data”, afirmaram alguns profissionais da comunicação social local. -
Delegada da Renamo desconhece
A delegada provincial da Renamo, Marta Matavele, afirmou que era novidade para ela que um membro do seu partido iria se entregar à Frelimo a troco de milhões de meticais. “Não tenho conhecimento de um membro nosso que se iria entregar à Frelimo, a não ser que, como hábito da Frelimo, tenha comprado um mendigo qualquer e instrumentalizá-lo para se apresentar à imprensa como membro desertor da Renamo. Se isso aconteceu, prova que a Frelimo em todo o País não tem membros genuinos, pois aqueles que diz serem seus foram comprados por dinheiro do Estado, de donativos e da ditadura”, disse.
“Nego essa informação porque nessa segunda-feira e hoje tivemos reuniões nas quais todos os membros e quadros séniores estiveram presentes, razão pela qual a Frelimo apanhou essa pancada de dar dinheiro e a pessoa desaparecer. Tanto mais que, não compreendemos por que é que a Frelimo usa a Polícia e o SISE para resolver questões partidárias”, frisou a delegada.
Marta Matavele disse que “isso mostra que a Frelimo tem nas suas fileiras pessoas interesseiras que se fazem passar por militantes daquele partido, mas que, no fundo, não se identificam com ele”.
Primeiro secretário da Frelimo também desconhece
O primeiro secretário da Frelimo em Gaza, José Tsambe, revelou-nos que era para si uma novidade falar da fracassada conferência de imprensa.
“É mentira que a pessoa que iria se filiar ao nosso partido era membro da Renamo, pois tratava-se do delegado político do partido PALMO, Damião André Homo. Mas também já recebemos, no nosso partido, mais de 50 membros da Renamo anteriormente, sobretudo depois das eleições gerais de 2004. O candidato vencido da Renamo na eleição intercalar de 2004 entregou-se à Frelimo e será apresentado publicamente, como novo membro da Frelimo”, explica Tsambe.
Entretanto, segundo o nosso interlocutor, não é política da Frelimo pagar dinheiro para as pessoas se filiarem ao partido, pois “elas é que se aproximam a nós. É mentira que pagámos dinheiro porque mesmo para o nosso funcionamento não o temos. Mas ainda não sei exactamente a data em que Homo será apresentado, porque não conhecemos a sua casa e nem tem telefone. Assim, aguardamos que ele nos procure”, disse Tsambe.
Fontes do ZAMBEZE, em Xai-Xai, questionaram como é que o Secretariado do Comité Provincial da Frelimo tinha organizado uma conferência de imprensa para apresentação pública de pessoas de que nem sua morada conhece.
Anselmo Sengo - ZAMBEZE - 10.05.2006
Nota: O artigo foi retirado na sua íntegra do Mocambique para todos (macua)
Subscrever:
Enviar feedback (Atom)
Sem comentários:
Enviar um comentário