Quatro antigos chefes de Estado burundeses consideram
"inconstitucional" a candidatura do actual presidente Pierre
Nkurunziza a um terceiro mandato, estimando que ele arrisca de comprometer as
conquistas da paz, depois do fim da guerra civil em 2006.
Numa carta,
endereçada no início desta semana aos chefes de Estado da região, transmitida
nesta sexta-feira à AFP, esses quatro ex-presidentes constatam “as preocupações
exprimidas” pelos burundeses sobre a candidatura de Nkurunziza (eleito em 2005
e reeleito em 2010) às presidenciais de 26 de Junho deste ano.
Esta decisão de brigar por um terceiro mandato
desencadeou a 26 de Abril um movimento de manifestações aliadas a violência que
causou 20 mortos.
Enquanto os chefes de Estados da região, dos quais o
presidente Nkurunziza, estavam na Tanzânia quarta-feira para uma cimeira
consagrada a situação política no Burundi, oficiais das forças armadas levaram
a cabo uma tentativa de um golpe de Estado que finalmente foi abortada nesta
sexta-feira.
Na sua missiva, data a 11 de Maio, os ex-presidentes
Jean-Baptiste Bagaza (1976-1987), Sylvestre Ntibantunganya (1994-1996), Pierre
Buyoya (1987-1993, e 1996-2003), e Domitien Ndayizeye (2003-2005) dizem que
estão "convencidos", no seu “ânimo e consciência", que uma
nova candidatura de Pierre Nkurunziza é "inconstitucional".
Uma tal candidatura "arrisca de comprometer as
conquistas do acordo de paz de Arusha", por isso que "o partido
no poder opta por uma repressão sem piedade" contra os manifestantes.
O acordo de Arusha (Tanzânia) tinha permitiu pôr fim a
uma guerra civil (1996-2006) entre maioria hutu e minoria tutsi, que continua na
memória no Burundi.
Esse acordo de Arusha permitiu "um domínio da
questão étnica (...)", criou "uma paz efectiva – lamentavelmente hoje
ameaçada – depois de uma década", o "desdobramento de forças de
defesa e de segurança nas quais as diferentes componentes étnicos estão
representados", realçam.
Finalmente esse instrumento legal permitiu "uma
estabilização das instituições eleitas do país", relembram os antigos
chefes de Estado na sua carta.
Segundo eles, a candidatura de Pierre Nkurunziza a um
terceiro mandato poderá igualmente "atentar à estabilidade da região dos
Grandes Lagos".
Os quatro antigos estadistas “pedem aos líderes regionais
para ajudar o presidente a tomar a decisão que convém, que é de renunciar a um
terceiro mandato controverso e portadora de perigo”.
Eles argumentam que a renuncia da recandidatura vai
por fim automaticamente as manifestações e à violência que acarreta e
permitirá a realização de eleições livres após uma remodelação do calendário
eleitoral e a criação de garantias para um escrutínio livre verdadeiramente
pluralista.
A missiva foi enviada aos estadistas da região
antes da sua cimeira de quarta-feira que foi sacudida por uma tentativa de um
golpe de Estado contra Pierre Nkurunziza.
Essa carta foi confirmada a sua autenticidade à AFP por
Ndayizeye.
"Sim esta carta que nós escrevemos e assinamos
conjuntamente, nós os antigos chefes de Estado ainda em vida. Ela surge para
mostrar que esse momento é grave”, sublinhou.
Ele fez essas declarações na Tanzânia onde se deslocou
para participar quarta-feira na cimeira regional sobre o Burundi.
A história pós-colonial do Burundi foi marcada por
numerosos massacres inter-étnicos e a sucessão de golpes de Estados, levadas a
cabo por Bagaza e Buyoya.
Fonte: ANGOP – 15.05.2015
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