Por Pedro Nacuo
COMECEMOS pelo que não vai deixar saudades do que aconteceu na campanha eleitoral para as eleições autárquicas, durante quinze dias e o próprio acto eleitoral, no dia 20, todos de Novembro que hoje termina.
Polícia: a corporação policial teve muitos pontos abaixo, por excesso de zelo e perdeu uma grande oportunidade de se mostrar profissional, agora que até se recorre a academias para a sua formação. Abusou dos meios ao seu dispor para usá-los contra quem não devia usar. Meteu muito medo e, como é lógico, o respeito desaparece com medo. Numa altura em que precisava de manter apenas a ordem e segurança públicas, para que o acto decorresse com a tranquilidade exigida, fez o contrário.
Não conseguiu ser isenta, razão por que para alegria de uns impôs medidas letais e para outros acenou. Por isso, a manifestação espontânea de alegria pelo resultado positivo conseguido no jogo político foi punida (porque não autorizada), para determinados moçambicanos e protegida para outros nacionais da mesma pátria amada.
Nuns casos até invadiu as quatro linhas no momento em que o esférico estava a rolar no meio-campo de determinado adversário, impedindo que fosse povoado e, consequentemente, a pressão resultasse em golo. Pior ainda, sem a autorização dos árbitros da partida. Por aqui, influenciou ou não no resultado?
Quando se usam balas para matar não pode haver um outro objectivo que não seja matar, ainda que se reconheça que alguma ousadia não passa de libertinagem de algum sector da população (associado a determinados partidos, nomeadamente da oposição) que acha que democracia é faltar ao respeito às instituições e àqueles que as representam. É no saber destrinçar isso tudo que uma polícia profissional se destaca, por isso andam por aí psicólogos e outros especialistas doutras áreas de conhecimento para torná-la civilizada.
Acontece, porém, que há vezes em que pensamos estar a fazer bem para outrem, quando na verdade estamos a fazer o inverso. Aqui não se sabe qual era a intenção, mas a acção corporativa manchou de certa maneira o processo que já caminhava para um fim feliz, fazendo mau trabalho para muitos, incluindo aqueles a quem pretendia favorecer. É a história do golo de Chingale, que deu vitória a esta equipa que depois ficou por terra, para o que o próprio treinador, Arnaldo Honwana, saiu com esta irrepreensível frase: gostaria de ter ganho bem!
Agora o que vai deixar saudades: Tudo isso aconteceu fora das portas de Cabo Delgado, aqui onde, quiçá, ainda não há razões para tanto, mas também o peso cultural e cultual de quem estava à frente das equipas animaram a festa que foi a campanha eleitoral e a própria votação.
Em Pemba os candidatos do MDM e da Frelimo, não raras vezes, cruzavam-se em caravanas, principalmente nos bairros de Muxara e Mahate, mercado Mbanguia, palco de muita luta, que de cada vez que se fazia o balanço diário, sempre se recomendou voltar para lá, ir gritar mais um pouco ou ir apagar a mensagem do adversário.
Mas era bonito ver as caravanas a cruzarem-se, dum lado tudo vermelho, doutro tudo branco-azul, os candidatos deixando-se ver naqueles “buracos” do tejadilho dos carros modernos que parecem ter sido fabricados contando com políticos moçambicanos em campanha. Era só ouvir “bom dia, doutor”, “bom dia, engenheiro”, “bom dia, doutor”…. Sem mácula de alguma espécie. Não é por acaso que é aqui onde o adversário saiu primeiro que todos outros lugares de Moçambique a felicitar o vencedor. Palmas para eles! Palmas para os seus seguidores! Palmas!
O candidato do PAHUMO tinha encontrado uma maneira original de identificar o símbolo do seu partido: aquele que dá muita importância às pessoas, por isso na sua bandeira está uma pessoa a ajudar a outra (humanismo). Para condimentar dizia mais: os outros procuraram e colocaram nos seus símbolos animais, cereais, bichos-do-mato e domésticos, etc.!
Em Mueda a campanha tinha outros condimentos tradicionais e culturais que ajudavam o carácter festivo do processo. O GALO, candidato do MDM para a presidência do município, de seu apelido Chipula (Faca), que está a fazer história por poder vir a ser o primeiro a entrar na assembleia municipal como oposição lá onde nos habituámos a chamar berço do partido no poder, sofreu muito com esse seu nome e o símbolo do seu partido político.
A mensagem era de que a galinha ou galo sempre foi criado por homens e nunca o contrário. Então, que os eleitores não aceitassem a inversão enigmática e milagrosa dos termos, sendo os galináceos a criarem as pessoas.
Por cima de tudo, a mensagem que vinha da Frelimo era que, pelo contrário, no dia da votação, o primeiro acto, antes de se dirigir à mesa da assembleia de voto, era agarrar um galo, usando uma faca (chipula), cortá-la e deixá-la a cozer, para a refeição pós-votação. Aconselhava-se ainda a usar uma faca não bem afiada, para permitir que a galinha (ou galo) sofresse muito antes de morrer.
PEDRO NACUO
Fonte: Jornal Notícias - 30.12.2013
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