Os jogos de cintura tendentes a criar equilíbrios políticos e económicos
Por: Noé Nhantumbo
Não é possível deixar-se de reconhecer que a ala política de Joaquim Chissano, jogando com paciência e persistência, não desarmou durante toda a travessia do deserto que se seguiu a ascensão de AEG a presidente da República e da Frelimo.
Só que os combates políticos no seio da Frelimo devem ser vistos numa perspectiva que não sobrevalorize a sua importância para o país nem menospreze o seu valor real para a conjuntura nacional e regional.
É importante aquilo que acontece nos níveis mais altos da nomenclatura da Frelimo sabido que é que ela governa Moçambique. Os emaranhados políticos, as estratégias em jogo, os entendimentos e os desentendimentos ao longo do percurso.
Quem faz oposição em Moçambique tem de estar bem alerta e em consonância como os acontecimentos políticos pois ter um STAE e CNE diferentes depende profundamente do que possa acontecer no seio do núcleo dominante da Frelimo.
Parece que se assistiu a um acordo entre os mentores das alas de maneira que a máquina que governa o país se mantenha intacta.
Terá havido compreensão entre as partes de que estava em jogo algo muito mais importante do que suas rivalidades.
Aquela sensação e percepção de que a liderança partidária e governamental estava punindo os que haviam feito parte do governo da III República terão sido debatidas e tratadas com a atenção necessária. No fim terá sobressaído a posição de sacrifícios teriam que ser consentidos pelas partes com base num relacionamento de respeito e de maturidade.
Há uma consciência completa de que sem isso, os esquemas que mantêm de pé instituições de soberania, de administração eleitoral, os tribunais ruiriam a breve trecho. A democracia moçambicana encontra-se refém dos desígnios que um limitado grupo de pessoas determinou. Não há forma de construção de uma realidade diferente sem atacar os fundamentos orgânicos de um poder que se instituiu de maneira abertamente corrupta.
As alianças estabelecidas entre os protagonistas de alas reais e virtuais fazem-se sentir no tecido social moçambicano.
O partido Frelimo de uma situação cómoda de único agora tem de confrontar-se com uma miríade de partidos políticos da oposição que lhe fazem concorrência real. Enquanto a Frelimo consegue abocanhar uns e obliterar outros, criar uns ou convertê-los em seus satélites já sente dificuldades acrescidas em lidar com outras forças políticas que aparecem no horizonte com pujança e uma linha de orientação firme.
Embora ainda limitadas, as derrotas eleitorais locais, surgem como testemunho de que existe espaço para outros partidos políticos triunfarem.
Face a isso, a Frelimo procura a todo o ritmo e com ajuda de seus músculos na arena empresarial, onde até se dá ao luxo de possuir uma holding, poder relativo sobre empresas públicas de alto rendimento como as das comunicações, mostrar uma firmeza e força que na verdade não possui. Os líderes da Frelimo aquando de seu último congresso conseguiram mostrar uma imagem de unidade que se consubstanciou até numa mexida governamental de vulto. Houve cedência de parte a parte e mesmo um primeiro-ministro a ser preterido e novos membros de uma comissão política a emergirem numa situação em que antes nada deixava a antever. Há uma forte tendência de atribuir uma importância crescente a considerações de natureza étnica nos equilíbrios estabelecidos.
Para a oposição uma ocasião como a presente constitui uma fonte de aprendizagem e de construção de novos alinhamentos estratégicos.
Se por um lado há uma corrente forte de reconhecimento de que algo deve ser corrigido em determinados assuntos, por outro lado há uma consciência de que já não se pode manter a governação deste país, numa perspectiva de satisfação contínua dos objectivos de uma minoria que por vezes se confunde com uma etnia.
Novos factores intervêm nos balanços e avaliações que os diferentes analistas e estrategas efectuam. Os esforços para um tratamento adequado dos assuntos em mão vai depender daquilo que os interlocutores conseguirem evidenciar e operacionalizar em termos de coordenação estratégica e construção de consensos internos em cada um dos partidos políticos.
Num combate de longo prazo e com objectivos que não se limitam a vitória num ciclo eleitoral, é preciso estabelecer fundamentos resistentes à corrosão sociopolítica normal.
Embora ainda continuem a bater na tecla da Unidade Nacional, é óbvio que a distribuição regional do poder indicia uma estratégia diferente visando fazer face aos críticos habituais e a qualquer nova investida contra as assimetrias desenvolvidas nos sucessivos governos da Frelimo.
A descoberta ou redescoberta de recursos minerais no centro e norte do país é uma razão particular de preocupação para todos os partidos políticos e sociedade civil em geral. Não há como negar que estes recursos serão um factor que contribuirá para novos desenvolvimentos e redimensionamento de estratégias.
Não se pode fazer política activa sem exploração permanente das conjunturas e sobretudo sem uma capacidade de fazer as leituras pertinentes.
Aos resultados do congresso de Pemba, os anunciados e os mantidos em segredo de uma minoria que continua sem dúvidas a ter o poder de “puxar os cordelinhos” é necessário que as forças políticas opostas consigam uma interpretar de forma fluida e dinâmica o actual panorama.
Pela construção de um Moçambique diferente e de todos importa não perder a oportunidade de alavancar as possibilidades da oposição constituir-se numa alternativa, válida, credível, madura, que demonstre aos moçambicanos de forma inequívoca que as mascaradas democráticas podem e devem ser substituídas por novos modelos mais abrangentes, em consonância real e efectiva com as necessidades e aspirações dos moçambicanos.
As alterações cosméticas na composição dos órgãos deliberativos do poder no seio da Frelimo são uma questão interna deste partido a que os partidos da oposição devem prestar a devida atenção mas ser causa alguma vez de pausa de reflexão e de actuação de acordo com as estratégias definidas por cada partido.
Tomar conta do momento e explorá-lo na forma conveniente a sua estratégia de manutenção do poder é o que a Frelimo procura obviamente fazer.
Mas a democracia política real em que os outros também são ouvidos e sua opinião são tomados em conta no processo deliberativo significa que os políticos opositores estão proibidos de desarmar…
Haverá guloseimas distribuídas massivamente sempre que convenha, mais fundos selectivos de investimento serão decerto criados, projectos gigantes iniciados, fortalecimento da cooperação com parceiros julgados estratégicos tudo como forma de garantir vitórias em 2013 e 2014.
Será tomar atenção especial com parceiros brasileiros e chineses pela sua capacidade de investimento e de influenciar tecnologicamente o jogo eleitoral e da comunicação no país.
Não se pode para de aprender e de contrariar os que se pretendem poder único e imutável em Moçambique…
Canal de Moçambique in Moçambique para todos – 17.10.2012
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