Por Fernando Lima(*)
Não sei se esta estória me foi contada pelos apoiantes do “deixa andar”. Não sei se interno ou um desses que está em tirocínio internacional.
Não interessa, sabemos que os há. Fazem orgulhosamente saber que são assim e vão continuar a ser assim. Só não dão a cara nos jornais e nas televisões porque, como diz o ditado, pela boca morre o peixe.
A estória que me contaram envolve um comboio, Lenine, Staline e Krutchev. Telegraficamente, no tempo das dificuldades e do contar com as próprias forças da revolução bolchevique, quando carris ou travessas estavam destruídas, voluntários a partir do próprio comboio, retiravam os materiais a montante do trem para reconstruir a via e fazer prosseguir a marcha. Com Staline, metade dos trabalhadores era fuzilada “on the spot”, ali mesmo no local do “crime”, o resto fazia a reparação, segundo os ensinamentos leninistas. Com Krutchev, identificado com a “abertura” na União Soviética, perante o comboio imobilizado na linha, foi pedido aos passageiros para correrem as cortinas das carruagens e abanarem-se todos nos bancos, dando assim o sentido virtual de movimento e de composição em marcha.
O que os meus amigos querem insinuar é que em Moçambique há um comboio em que o maquinista puxa desesperadamente pela válvula a vapor do apito, mas lá dentro, o pessoal tá todo a abanar-se no movimento virtual do trem de Krutchev. Em surdina vão repetindo protestos que já todos conhecemos: salários, viagens, telemóveis, carros. Naquele outro tempo recente a que era bom, e até tínhamos chefes com mais formação e competência.
Os irmãos do lado, os do sector empresarial, contagiados pelo clima do aparelho de Estado, até porque chegaram lá a fazer músculo no bícep do braço direito, cogitam sobre viagens potenciais para a terra do Hugo Chavez. “Será que trazem de lá aquelas receitas populistas de reduzir honorários e mordomias a executivos?” No “deixa andar”, quadro era quadro e é preciso salário e mordomias compatíveis para valorizar as capacidades nacionais, independente do mapa de demonstração de resultados com lucros e perdas no vermelho. No banco, com juros tão caros, (malditos usurários), assalta-se o cofre com vales e adiantamentos a pagar no dia de são nunca. “Se os gajos do BCM e do Austral se estão a safar, porque é que nós temos de dar o corpo ao manifesto ? ” (“mais um duplo rótulo preto”, diria o Fernando Manuel).
Abaixo na hierarquia, o sindicalista nem quer ouvir falar em ventos de mudança e dizem que isso é obra de embaixadas estrangeiras (A CIA, a mesma que atacou trabalhadores no Chile e os nossos irmãos do Médio Oriente). Acham que a lei laboral é o melhor escudo que existe para proteger o direito à preguiça, umas tolerâncias de ponto no topo de um simpático calendário de feriados, indemnizações chorudas por anos sem trabalho, mesmo que ao lado, os seus compatriotas menos afortunados, em nome de uma lei que não está no Boletim da República, aceitem trabalhar por metade do salário mínimo, sábados, domingos, noite e dia, faça chuva, faça sol.
Esta semana vi “A cidade perdida”, película de Andy Garcia, um bonitão cubano que empresta o seu mediatismo ao lobby anti-castrista baseado em Miami. Entre rumbas e boleros lindos de morrer, no pós 7 de Setembro deles, há saxofones declarados reaccionários. Na brasa revolucionária, um proprietário de terras, acalma o fervor do seu jovem sobrinho barbudo, com um “há-de passar, isto é tudo emoção”. Minutos depois, o velho, fato de linho, panamá branco e longo “habano” entre os dentes, sucumbe com um ataque cardíaco. A sua machamba passara de mãos.
Entre nós, três décadas depois da independência, ninguém quer ataques cardíacos por encomenda, nem prejudicar o seu performance sexual, sobretudo nestas noites frias e convidativas. Por isso, a metáfora dando vapor `a buzina do comboio que teima em não andar, vai continuar solitária, desesperada à espera de reforços.O “deixa andar”, como anima …
(*)Espinhos da Micaia
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