A cidade da Beira, Sofala, acordou hoje calma um dia após o cerco e a invasão policial à casa do líder da Renamo, Afonso Dhlakama, mas em alerta para ameaças de manifestações de protesto contra o incidente.
"Quando a Polícia saiu, os moradores [que tinham sido retirados minutos antes da operação policial] começaram a voltar às casas. Toda a noite não houve agitação e até agora a vida voltou ao normal", disse à Lusa Ladinho Carvalho, um vizinho do presidente da Renamo (Resistência Nacional Moçambicana).
Hoje de manhã, o movimento era normal na rua da casa de Afonso Dhlakama, no bairro das Palmeiras, na segunda maior cidade de Moçambique, após a operação policial que alegadamente visava desarmar a guarda do líder da Renamo.
Os guardas da Renamo, que foram presos na sexta-feira, voltaram hoje a montar segurança à casa de Dhlakama, mas agora sem armas, e várias pessoas reconstituíam os acontecimentos nos passeios vizinhos.
"Houve violência, muitos foram batidos com coronhas de armas, por se recusar a falar. Perguntavam se havia motoristas entre os presos, e quanto salário recebiam. Fizeram um inquérito completo sobre o tempo de ingresso na Renamo, a categoria militar, além da participação em combates", contou à Lusa um dos oito guardas de Dhlakama, libertados hoje.
Sob um forte dispositivo das forças especiais da polícia, que evacuou residências vizinhas, Dhlakamaesteve cercado durante todo o dia na sua residência, num incidente que só acabou ao fim da tarde, quando o líder da Renamo entregou 16 armas a um grupo de mediadores, na presença da governadora da província de Sofala.
A operação policial aconteceu um dia depois de Dhlakama ter reaparecido na serra da Gorongosa, ao fim de quase duas semanas em lugar desconhecido, após ter desaparecido no dia 25 de Setembro, em Gondola, província de Manica, durante confrontos entre os homens armados da oposição e as forças de defesa e segurança.
Na tarde de sexta-feira corriam rumores de que moradores do bairro da Munhava - um bastião da Renamo - se preparavam para protestar contra a alegada humilhação e agressividade da polícia para com o líder do partido.
Numa ronda efectuada hoje aos bairros da segunda maior cidade de Moçambique, incluindoMunhava, a vida corria normal e mais grupos reuniam-se comentando o incidente.
"Aqui na Munhava não houve agitação à noite. Só houve aquele grupo de pessoas que se deslocou ontem [sexta-feira] à casa de Dhlakama para o encorajar e que a polícia tentou intimidar com três tiros e gás lacrimogéneo. Não sei de manifestação, apesar de ser imprevisível", disse à Lusa Mariana Filipe, uma moradora daquele bairro.
Ao princípio da noite de sexta-feira, várias pessoas juntaram-se defronte da casa de AfonsoDhlakama, em protesto contra a acção da polícia, tendo o líder da oposição saído da sua residência para agradecer a solidariedade e desaconselhar qualquer retaliação popular.
Entretanto a polícia libertou hoje oito homens da guarda da Renamo, presos sexta-feira durante a invasão da casa do líder da oposição e não será aberto nenhum processo criminal contra eles.
Antes dos acontecimentos de sexta-feira, na Beira, registaram-se três incidentes em três semanas com a Renamo, dois dos quais envolvendo a comitiva do presidente do partido.
A 12 de Setembro, a caravana de Dhlakama foi emboscada perto do Chimoio, província de Manica, num episódio testemunhado por jornalistas e que permanece por esclarecer.
A 25 do mesmo mês, em Gondola, também na província de Manica, a guarda da Renamo e forças de defesa e segurança protagonizaram uma troca de tiros, que levou ao desaparecimento do líder da oposição para lugar desconhecido.
Uma semana mais tarde, forças de defesa e segurança e da Renamo confrontaram-se novamente emChicaca (Gondola), com as duas partes a responsabilizarem-se mutuamente pelo começo do tiroteio.
Moçambique vive novos momentos de incerteza política, provocada pela recusa da Renamo em reconhecer os resultados das eleições gerais de 15 de Outubro do ano passado e pela sua proposta de governar nas seis províncias onde reclama vitória, sob ameaça de tomar o poder pela força.
Fonte: LUSALusa - 10.10.2015
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