Escritor diz que o caso de Luaty chamou a atenção para a democracia, mas o Presidente tem uma "frestazinha ainda aberta para encontrar uma saída airosa".
A suspensão da greve de fome do activista Luaty Beirão e a carta que ele escreveu aos companheiros “marcam o início de um movimento pró-democracia em Angola”, disse o escritor angolano José Eduardo Agualusa à VOA nesta terça-feira.
O autor de A Rainha Ginga, Barroco Tropical, Nação crioula, O ano em que Zumbi tomou o Rio, O vendedor de passados e As mulheres do meu pai, entre outras obras, recusa qualquer ideia de rendição de Luaty e destaca o facto do caso “ter tido uma enorme repercussão em alguns círculos dentro de Angola”.
A nível internacional, Agualusa diz ter merecido um “impacto muito grande em lugares que não tinham grande conhecimento de Angola”, como por exemplo “no Brasil onde houve uma tomada de posição de importantes nomes da cultura brasileira”.
A greve de fome de Luaty, por outro lado, serviu também para chamar a atenção para as “questões de direitos humanos e de não-democracia que se vive em Angola, na óptica do escritor que diz ser impossível fazer previsões, porque, como afirma uma historiadora francesa citada por Agualusa, “em Angola até o passado é imprevisível”.
A dois anos das eleições, José Eduardo Agualusa, que diz ter amigos dos dois lados em Angola, com quem fala e cruza constantemente, admite haver “uma frestazinha ainda aberta”, por onde o Presidente da República pode encontrar uma “saída airosa ou limpa ”.
No entanto, diz Agualusa, “o regime, nomeadamente o Presidente José Eduardo dos Santos, está a perder terreno e a cada dia que passa perde espaço de manobra, embora possa ainda conduzir e refazer o processo democrático”.
O escritor considera a carta de Luaty Beirão aos companheiros um documento de uma “enorme inteligência” e com um profundo significado político e histórico.
Fonte: Voz da América – 27.10.2015
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