A opinião de Machado da Graça sobre Luaty Beirão vs o regime de Eduardo dos
Santos
Olá, Julieta
Como vais tu, querida amiga? Os teus
filhos estão bem? Espero que sim. Do meu lado está tudo normal, felizmente. Só
que ando muito perturbado com aquilo que está a acontecer em Angola e que penso
que estás a acompanhar. A estupidez, aliada à arrogância e à prepotência,
transformou uma coisa que não era nada de politicamente relevante, nada que, de
perto ou de longe, colocasse em perigo o regime político angolano, num
escândalo enorme, internacional, com ondas de choque nas Nações Unidas e nos
parlamentos brasileiro e português.
Uma pessoa de quem quase ninguém tinha ouvido falar, aqui há quatro meses,
é hoje um nome presente em jornais dos quatro cantos do mundo. Luati Beirão,
com a sua intransigente greve de fome, ganhou o respeito em todos os quadrantes
e isso à custa do desprestígio, cada dia maior, do regime do Presidente José
Eduardo dos Santos, visto como um sistema corrupto e ditatorial, disposto a
manter o poder a todo o custo e passando por cima de quaisquer considerações
humanitárias.
que talvez tenha começado como uma detenção para pregar um susto aos
jovens, transformou-se, com esta fuga para a frente, num processo cada vez mais
dificil de controlar e de consequências imprevisíveis.
Para se justificar, o Governo angolano mostrou, há poucos dias, um
filmezinho a elementos do corpo diplomático, afirmando que era uma prova do
crime cometido pelos jovens. Mas quem assistiu à projecção diz que o filme
apenas mostra os jovens a conversarem sobre a forma de organizarem uma marcha,
actividade perfeitamente legal de acordo com a legislação angolana.
Perante isto agrava-se, de momento a momento, o risco da morte de Luati
Beirão, factor que, com as coisas como estão, pode ser o deitar fogo à pólvora
acumulada. Mas nem esse risco parece demover as autoridades angolanas,
provavelmente a prepararem-se, desde já, para responder com ainda maior
repressão ao que poder vir a acontecer.
Tudo isto, repito, sem qualquer
necessidade. Aqueles jovens não representavam qualquer risco para o poder
angolano e só a repressão selvagem a que foram sujeitos lhes deu a sua actual
dimensão. E só a vaidade de não querer dar o braço a torcer, por parte das
autoridades, continua a fazer que essa dimensão cresça ainda mais.
E não há sinais de que o bom senso possa vir a prevalecer.
Desgraçado país em que estas coisas acontecem.
Um beijo para ti do
Machado da Graça
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