O
militante histórico da Frelimo Jorge Rebelo considerou hoje que o discurso de
Armando Guebuza, presidente do partido no poder, na abertura da reunião do
Comité Central, cria medo e silencia o debate.
"Ele
está a travar a discussão, quando lança esses recados de que há membros que
estão a lançar publicamente ideias que enfraquecem o partido. Isso é que é mau,
porque mete medo às pessoas e, pronto, aí estamos silenciados", afirmou à
Lusa o antigo dirigente da Frelimo (Frente de Libertação de Moçambique) e ex-ministro
da Informação de Samora Machel.
Armando
Guebuza criticou hoje os camaradas que publicamente procuram dividir e semear a
confusão na força política.
"Preocupa-nos
a postura e comportamento de alguns camaradas que publicamente engendram ações
que concorrem para perturbar o normal funcionamento dos órgãos e das
instituições e para gerar divisões e confusão no nosso seio", declarou o
ex-Presidente, que se mantém líder da Frelimo, perante 195 membros do Comité
Central e dezenas de convidados.
A
continuidade de Guebuza na liderança da Frelimo tem sido questionada por
analistas e também por membros do partido, que alertam para o risco da criação
de dois centros de poder, fragilizando o Presidente da República, Filipe Nyusi,
também presente na IV Sessão Ordinária do Comité Central, hoje iniciada na
cidade da Matola, arredores de Maputo.
"[A
percepção de dois centros de poder] existe e é real", comentou Jorge
Rebelo, referindo que "o presidente Guebuza domina toda a máquina
partidária, desde a comissão política por aí abaixo, todos estão com ele,
devem-lhe os cargos".
O
antigo membro do Comité Central esteve hoje na abertura do encontro na
qualidade de convidado e abandonou o local quando a reunião ficou
"restritíssima" aos atuais elementos do órgão do partido,
desconhecendo se algum deles irá colocar a questão da sucessão de Guebuza.
"Não
posso falar em nome deles, mas por exemplo Teodato Hunguana, por uma questão de
coerência, talvez levante a questão, não sei", disse Rebelo, referindo-se
ao antigo membro de vários governos, ex-juiz do Conselho Constitucional e
actual membro do Comité Central e que recentemente defendeu numa entrevista o
debate da substituição do presidente do partido.
Contactado
hoje pela Lusa, Teodato Hunguana recusou-se a prestar declarações.
Para
Jorge Rebelo, uma eventual saída de Guebuza pode ter implicações desconhecidas,
mas também não sabe "até que ponto ele é capaz de manter a coesão num
ambiente destes", sobretudo num momento em que o líder da oposição, Afonso
Dhlakama, ameaça tomar o poder pela força se a Frelimo não aprovar o seu
projecto de municípios à escala provincial.
"Esse
é que é o risco e preocupa-me porque não sei se está a ser devidamente levado
em consideração", comentou o militante do partido maioritário.
A
discussão de uma nova liderança da Frelimo não consta na agenda prévia da
reunião do Comité Central.
A
ordem dos trabalhos pode, no entanto, ser alterada durante o decurso do
encontro, que prossegue à porta fechada até domingo na Escola Central da
Frelimo.
Fonte: Lusa – 25.03.2015
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