“O meu filho vai a escola, mas os meus bolsos continuam vazios”
Caso Siba Siba voltou à ribalta em Londres, no lançamento do livro de Joseph Halon
O caso Siba Siba Macuacua, o PCA do ex-Banco Austral que foi assassinado, voltou à ribalta esta terça-feira 7 de Abril, no lançamento do livro "Mais bicicletas significa desenvolvimento?" do investigador da Open University e editor do Boletim do Processo Politico Moçambicano (AWEPA) Joseph Hanlon, e Teresa Smart, directora do Centro de Matemáticas no Instituto de Educação (IO) em Londres. A obra de 242 páginas é o mais concertado desafio lançado ao executivo moçambicano e à comunidade doadora nos últimos dez anos, sobre o chamado "caso de sucesso moçambicano".
Caso Siba Siba voltou à ribalta em Londres, no lançamento do livro de Joseph Halon
O caso Siba Siba Macuacua, o PCA do ex-Banco Austral que foi assassinado, voltou à ribalta esta terça-feira 7 de Abril, no lançamento do livro "Mais bicicletas significa desenvolvimento?" do investigador da Open University e editor do Boletim do Processo Politico Moçambicano (AWEPA) Joseph Hanlon, e Teresa Smart, directora do Centro de Matemáticas no Instituto de Educação (IO) em Londres. A obra de 242 páginas é o mais concertado desafio lançado ao executivo moçambicano e à comunidade doadora nos últimos dez anos, sobre o chamado "caso de sucesso moçambicano".
Hanlon, usando como metáfora a bicicleta e tendo como epicentro o distrito de Iapala, na província de Nampula, conta, usando aleatoriamente os estilos académico e jornalístico, "uma outra história de Moçambique" diferente da que nos tem sido oferecida pela governo e pelas instituições de Bretton Woods e que os actuais governantes e parte da comunidade doadora não vê ou então não gostaria que fosse contada.
Recorrendo a uma vasta literatura e baseada em recursos primários e secundários (incluindo o relatório do MARP), Hanlon (e Teresa Smart) ao contrário das estatísticas oficiais, contam a "história de Moçambique de baixo para cima" dando voz aos que não tem voz! Frases tiradas da boca do povo, como "O meu filho vai a escola, mas os meus bolsos continuam vazios" abundam no livro, e pela primeira vez foram levadas para uma audiência de luxo (Chatham House, ou seja o Instituto Real para as Assuntos Internacionais).
Lembre-se que o Instituto Real foi nomeado este ano por reputadas agências americanas como o melhor centro de estudos de politica externa do mundo.
Hanlon e Smart questionam se de facto Moçambique é um caso de sucesso africano, afirmando inter alia, que volvidos 17 anos de paz, apesar do número de bicicletas ter aumentado e de Moçambique estar a seguir à risca as prescrições do Banco Mundial, dados em seu poder mostram que o número de pobres está a aumentar ou seja que o "famigerado combate à pobreza" parece não estar a dar o "prometido paraíso"! No lugar de trazer desenvolvimento, o actual modelo parece concentrar-se mais no alcance dos desafios do desenvolvimento do milénio, ao invés de apoiar o processo de desenvolvimento económico.
Na apresentação do livro, Hanlon usou o recentemente divulgado relatório do MARP, para sustentar as teses centrais da sua obra, nomeadamente o facto deste relatório ter chegado à conclusão de que os indicadores mais credíveis (sobre Moçambique) demonstram: 1.) um aumento absoluto no número de pessoas abaixo do nível da subsistência, um eufemismo para dizer que o número de pobres aumentou, 2.) que apenas um pequeno grupo de indivíduos beneficia do crescimento económico em Moçambique; e 3.) que o actual modelo de desenvolvimento económico está aumentando o “gap” (diferença) entre ricos e pobres, ou seja, que os pobres estão cada vez mais pobres e os ricos cada vez mais ricos, o que na óptica do MARP, pode gerar conflitos.
No debate que se seguiu os participantes que lotavam a sala por completo, levantaram questões sobre o impacto da corrupção no processo de desenvolvimento em Moçambique (caso Banco Austral e Siba Siba Macuacua), a falta da capacidade das instituições locais e a usurpação pela comunidade doadora do papel fiscalizador da Assembleia da República, o papel dos empresários locais, o impacto da crise financeira mundial na economia de Moçambique, e a posição de Moçambique em relação ao reconhecimento do Kosovo.
Fizeram parte do painel (de luxo) do lançamento do livro, para além dos autores, o actual Alto Comissário moçambicano na Corte de S. Jaime (designação oficial dos embaixadores em Londres), António Gumende, Myles Wickstead, chefe do Secretariado da Comissão para África e Simon Maxwell, director do Overseas Development Institute (ODI).
No final do encontro, convidado a autografar uma cópia da sua obra, Hanlon, no seu estilo humilde escreveu "Manuel tu sabes tudo o que está neste livro!".
(Manuel Araújo, Londres, aos 07 de Abril de 2009)
Fonte: CANAL DE MOÇAMBIQUE (09.04.2009)
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