Isso é uma encomenda certa para
mais conflitos
Por Noé Nhantumbo
Moçambique está atravessando um
momento grave da sua história por causa fundamentalmente de ausência de uma
liderança com visão patriótica e estratégica. Uma vez no poder, todo um país se
transforma, no seu entender, em seu quintal privado.
Tudo se resume à manutenção do
poder por todos os meios. Tudo se resume à recusa permanente de partilhar e
compartilhar o país. Tudo se resume à existência de uma clique que se julgava
que tinha abocanhado o país. Tudo se resume à inexistência de liderança
proactiva. Tudo se resume à subestimação da realidade e a jogos de cintura de
um grupo que, desde Dar es Salaam e Argel, passando por Nachingwea,
convenceu-se de que Moçambique sem eles não é Moçambique.
O preconceito político, uma elite
vazia e parasita, incapaz de dar subsídios e de contribuir de maneira concreta
para que o desenvolvimento aconteça, acreditando que ao nível da região tem os
apoios necessários para se manter no poder, mesmo contra a vontade popular,
está efectivamente cavando a sua própria sepultura.
Fala-se de democracia, e alguns
dizem que são partido defensor da democracia, mas, quando se verifica e se analisa
a maneira como decorreram as últimas eleições gerais, só se pode concluir que
democracia, para esta gente, significa conceber e executar fraudes de todo o
tipo. Manter o poder, mesmo que seja através da viciação pura e cristalina, não
envergonha quem perdeu esta palavra ao longo do percurso.
Os moçambicanos não querem
desenterrar fantasmas, mas também não se esquecem dos tempos do terror
monopartidário e totalitarista, dos tempos dos grupos de vigilância, dos tempos
dos campos de reeducação, dos tempos das loja do povo e das lojas dos
responsáveis, dos camaradas e dos cidadãos de segunda.
Manifestações saudosistas de
gente que estava habituada a espezinhar tudo e todos, gente habituada a elogiar
o chefe, para assim o controlar, gente que efectivamente substituiu o fascismo
por outro fascismo chamado marxismo-leninismo, em nome de uma suposta pureza
ideológica, quer continuar a subjugar os moçambicanos.
Mas a dinâmica histórica é
imparável, e os povos aprendem e aperfeiçoam os seus mecanismos de defesa. Há
uma manifesta vontade de mudar, que os ditadores de ontem e os camuflados de
hoje não conseguem travar.
Nada se resume à organização de
congressos e à vitória da manipulação ou à distribuição do poder entre os
acólitos e melhores seguidores.
As migalhas que se entregam aos
que concordam e dizem “sim” ao chefe não satisfazem a maioria dos moçambicanos
e jamais serão aceites por estes.
A República é incompatível com o
culto da personalidade, e o que alguns ditos deputados fazem no parlamento envergonha
e enoja. Cantam e glorificam chefes, como se isso fosse, em si, o que significa
democracia e progresso. Enoja ver gente adulta transformada em moleque incapaz
de pensar e de honrar a sua dignidade humana intrínseca.
Temos problemas em Moçambique porque
há gente que supõe que é um imperativo nacional que governem.
Apressam-se a assinar contratos
em fim de mandato, porque para eles governar é governarem-se.
Inauguram obras e não se cansam
de viajar como se fossem caixeiros-viajantes. E depois dizem que isso é
governar. Convenhamos que já não enxergam.
Não confiam em ninguém e não
admitem nem aceitam que exista opinião diferente. Contestar, para eles, é um
pecado mortal.
Inquinaram instituições e
estabeleceram esquemas corruptos e perniciosos, tudo para se manterem no poder.
Não é por acaso que nem o STAE
nem a CNE sabem o paradeiro dos editais.
Não é por acaso que estudar ou
conseguir emprego no país obedece a esquemas.
Desde o nascimento até à morte, o
moçambicano tem de submeter-se a esquemas, para que alguma coisa se concretize.
Antes era o “deixa-andar”, agora é o “refresco” para abrir caminhos.
Será ganância ou medo de perder o
acumulado que move e une gente desavinda?
Será ingenuidade ou simplesmente
miopia própria de gente caduca, fósseis e vegetais, que promove conflitos
desnecessários num país que tem tudo para dar certo?
É urgente encontrar terapia
apropriada para quem sofre de egocentrismo crónico.
A música de que libertaram o país
já está gasta e o disco está riscado.
Temos muito respeito pelo que os
combatentes da luta anticolonial fizeram, mas não aceitamos que eles substituam
o colono na forma como procedem e como governam o país.
Uma coisa é certa, não há como
coexistir com tanta fraude e roubalheira descarada.
Outra coisa bem certa é que existem
falcões interessados em restabelecer as hostilidades político-militares, de
modo a segurarem-se no poder por mais alguns anos.
Existem razões fundamentadas para
recear alianças regionais de partidos que não conseguem coabitar
democraticamente.
Luanda, Harare, Pretória, Maputo,
quando juntas, preocupam, porque afastam a democracia e não se importam de mais
guerras na região.
Tudo vale para alguns camaradas,
desde que garanta que o poder não lhes fuja das mãos (Noé Nhantumbo)
Fonte: Canal de Moçambique – 18.11.2014
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