A vida e os dilemas dos futebolistas africanos em Portugal durante o período colonial são tema de uma investigação do norte-americano Todd Cleveland, um professor do Illinois apaixonado pela África lusófona e adepto fervoroso do Benfica.
O professor, que integra o departamento de História da Universidade de Augustana, em Rock Island, Illinois, formou-se em História Africana pela Universidade do Minnesota, mas foi quando iniciou o mestrado em New Hampshire que nasceu o seu interesse pelo passado colonial português.
Todd Cleveland divide o seu tempo entre as aulas de História Africana, na universidade de Augustana, e os projectos de investigação que o levaram a viver temporadas em Angola e Portugal.
Depois de um projecto sobre a exploração de diamantes na Luanda Norte, Angola, que aguarda publicação, o professor estuda agora os jogadores de futebol africanos que durante o período colonial português serviram em clubes e na selecção da potência colonizadora e os que optaram por ficar nos países de origem.
Em entrevista à agência Lusa, Todd Cleveland, explicou que o objectivo é perceber porque é que jogadores de futebol como Eusébio, Mário Wilson ou Hilário envergavam a camisola da equipa das Quinas, enquanto nos seus países se lutava pela independência.
«Estou interessado em perceber como e, em última análise, porquê estes jogadores vestiram a camisola nacional portuguesa enquanto as suas terras eram palco de ferozes campanhas de contra-insurgência», disse Todd Cleveland.
O investigador quer compreender os conflitos interiores destes homens e até que ponto esta tensão moldou as suas acções, bem como a forma como eram vistos pelos africanos e portugueses durante este intenso período político.
A curiosidade do investigador estende-se também às experiências quotidianas dos jogadores como membros de um minoria africana em Portugal e as estratégias que adoptaram para alcançar o sucesso.
«Muitos dos jogadores que entrevistei mostraram-se surpreendidos por estar mais interessado no seu dia-a-dia do que no seu trabalho dentro de campo. Muitos não falavam disso há muito tempo e mostraram-se muito satisfeitos por contar essas experiências», contou Todd Cleveland, que passou dois verões em Portugal a entrevistar jogadores.
Lembrando que a investigação ainda está praticamente no início, o professor norte-americano concluiu já que muitos destes jogadores usaram as suas capacidades futebolísticas para poderem estudar em Coimbra ou assegurar empregos de futuro em empresas como a então Companhia União Fabril (CUF), por exemplo.
«Claro, que nem todos eram tão talentosos como o Eusébio ou alcançaram fama internacional. Na realidade, o estatuto de superestrelas de alguns jogadores continua a ofuscar as experiências da vasta maioria destes migrantes», acredita Todd Cleveland.
O investigador contesta a ideia, muito presente na literatura africana recente, que apresenta os jogadores como vítimas exploradas pelos «neocoloniais ou neoliberais clubes europeus».
«Considerando as perspectivas e objectivos destes jogadores se efectivamente ouvirmos o que têm para dizer, concluímos que não se apresentam como vítimas exploradas», mas antes como «actores complexos, sensatos e historicamente estratégicos», sublinhou.
O investigador espera em breve poder desloca-se a Angola e Moçambique para entrevistar jogadores que optaram por ficar nos seus países. A ideia é depois reunir toda esta investigação em livro.
Fonte: Lusa / SOL - 19.02.2012
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