Editorial: Renamistas o que querem ser?
Afonso Dhlakama foi uma esperança para este país e pelo que deu da sua vida para que hoje todos possamos falar, escrever, reunir, empreender livremente, deve merecer o respeito de todos nós. Até aqueles que há umas décadas, embora sendo da Frelimo, isto é estando do lado certo do conflito, temiam ter propriedades ou ousar enriquecer, temiam os campos de reeducação, temiam os fuzilamentos de quem se arriscasse a contrariar um punhado de ditadores inconfessos ou de quem defendesse os “maus costumes capitalistas”, até esses da própria Frelimo que viviam de uma forma geral apavorados com a falta de liberdade, se forem sérios não têm como não estarem reconhecidos a Afonso Dhlakama e aos que o acompanharam na epopeia contra o regime déspota e absolutista que se instalou uns anos depois da Independência, pesem outros feitos.
Mas o facto dos moçambicanos já termos embarcado uma vez na senda dos libertadores que depois se apoderaram de tudo e começaram até a impedir os demais de usufruir de direitos fundamentais, obriga-nos a sermos exponencialmente mais severos e intolerantes para com aqueles que se julgam a certa altura omnipotentes.
Quando as coisas chegam a este ponto, os ingénuos geralmente pedem coerência, mas a coerência, ao ponto a que as coisas chegaram na Renamo, não pode servir para que se vacile um minuto que seja. Obriga antes a que se diga com todas as letras e publicamente o que já se tornou inevitável: Dhlakama deixou de ter condições para poder aspirar a presidir a República de Moçambique. A menos que tenha uma carta escondida – que não parece ser o caso – está visto que já é uma carta fora do baralho.
Ninguém no seu juízo perfeito pode continuar a crer que quem “fura os pés” dele e dos que o rodeiam com a sua própria AKM, tenha condições para governar um país. Mais a mais sabendo-se quão próximo está ele de o conseguir sempre que é ele próprio a fazer o que mais elementarmente se devia deixar de fazer para poder lá chegar.
Quanto a nós está já totalmente fora de hipótese Afonso Dhlakama poder chegar alguma vez a ser inquilino da Ponta Vermelha. À força, talvez, mas isso só confirmaria que ele perdeu a cabeça e já não sabe o que anda a fazer. Por via do voto, podemos apostar agora que não chegará lá nunca. Ou dá um golpe de mestre e faz uma revolução de quadros no partido e ainda pode ser que se salve deste descrédito em que caiu com o caso do Edil da Beira, ou está definitivamente perdido.
Quem pode acreditar num homem que hoje só está a ficar com bajuladores e incompetentes à sua volta?
Quem pode acreditar que um partido que está empenhado em construir a democracia não respeite os seus próprios estatutos?
Quem pode acreditar em boa governação a cargo de alguém que não sabe governar a sua própria organização?
Quem pode confiar e apoiar um homem que se junta a pessoas sem provas dadas, gente que nem é capaz de mostrar destreza na governação dos seus bens pessoais?
Quem pode admitir que uma Renamo “depenada” possa governar Moçambique?
Quem pode prometer higiene numa casa e, simultaneamente, quando quem está a ver chegar o dia da família crer que vai passar a viver numa casa limpa vê antes o próprio chefe da família a entornar propositadamente o penico em plena sala de visitas?
Quem pode querer ser visto como doido à semelhança de quem não se importa de por o seu clube na 3.ª divisão só para ele poder continuar a ser o boss da colectividade?
Estas perguntas são apenas alguns desabafos para evitarmos ir mais ao fundo da questão.
Poderíamos por exemplo perguntar ao delegado provincial da Renamo em Sofala, Fernando Mbararamo, se ele ou os seus antecessores alguma vez prestaram contas aos membros do seu partido dos dinheiros que consomem deles.
Poderíamos perguntar a Dhlakama se alguma vez apresentou contas aos membros do partido das avultadas verbas que recebe do Estado em contrapartida pelos 90 deputados que mantém nesta legislatura na Assembleia da República.
Preferimos antes perguntar ao Secretário Geral da Renamo se ele já terá feito algum esforço para que as contas do partido sejam apresentadas aos seus membros e ao seu presidente.
Preferimos perguntar aos soldados e oficiais que lutaram para que a Renamo se prestigiasse ao ponto de ser hoje um partido fortemente implantado no seu país, se foi para a Renamo chegar a este estado que eles lutaram.
Também não podemos concordar que a Renamo tenha chegado ao ponto de descrédito a que está a chegar, por culpa, apenas de Afonso Dhlakama.
Não concordaremos que amanhã se diga que as culpas todas da derrocada da Renamo cabem ao presidente Afonso Dhlakama. É preciso que todos assumam a sua quota parte de responsabilidade se nada começarem já a fazer. Fugir não é a solução. Ninguém poderá acreditar também nos que fogem da Renamo ao primeiro embate. Que estofo nos demonstrarão ter para governar Moçambique? A vida tem contrariedades. Tem altos e baixos. É preciso lutar para se estar sempre a subir.
A Renamo tem hoje muita gente que bem pode governar o país. O que sucede é que tem uma liderança imprevisível e estonteada – não se entenda apenas Dhlakama – que faz com que até os militantes e simpatizantes ferrenhos nos digam que têm medo que o Partido chegue ao poder nestas condições actuais.
Dhlakama tem de reflectir urgentemente e decidir de uma vez por todas se quer ir definitivamente para a sarjeta da História ou se quer reabilitar-se e permitir que o seu partido volte a trilhar caminhos que permitam que se veja na Renamo um partido responsável e capaz de governar Moçambique.
Os membros da Renamo em todo o País, também deveriam seguir o exemplo das “bases” na Beira que estão a dar sinais claros que a Renamo tem potencial para ir em frente pois está pejada de membros que sabem o que querem e sabem quem pode nesta fase levar o partido a novas glórias impedindo que se transforme num bando de papagaios de penas rapadas em vez de uma perdiz vistosa e prestigiada. (x)
Fonte: Canal de Moçambique2008-10-09 06:16:00
Afonso Dhlakama foi uma esperança para este país e pelo que deu da sua vida para que hoje todos possamos falar, escrever, reunir, empreender livremente, deve merecer o respeito de todos nós. Até aqueles que há umas décadas, embora sendo da Frelimo, isto é estando do lado certo do conflito, temiam ter propriedades ou ousar enriquecer, temiam os campos de reeducação, temiam os fuzilamentos de quem se arriscasse a contrariar um punhado de ditadores inconfessos ou de quem defendesse os “maus costumes capitalistas”, até esses da própria Frelimo que viviam de uma forma geral apavorados com a falta de liberdade, se forem sérios não têm como não estarem reconhecidos a Afonso Dhlakama e aos que o acompanharam na epopeia contra o regime déspota e absolutista que se instalou uns anos depois da Independência, pesem outros feitos.
Mas o facto dos moçambicanos já termos embarcado uma vez na senda dos libertadores que depois se apoderaram de tudo e começaram até a impedir os demais de usufruir de direitos fundamentais, obriga-nos a sermos exponencialmente mais severos e intolerantes para com aqueles que se julgam a certa altura omnipotentes.
Quando as coisas chegam a este ponto, os ingénuos geralmente pedem coerência, mas a coerência, ao ponto a que as coisas chegaram na Renamo, não pode servir para que se vacile um minuto que seja. Obriga antes a que se diga com todas as letras e publicamente o que já se tornou inevitável: Dhlakama deixou de ter condições para poder aspirar a presidir a República de Moçambique. A menos que tenha uma carta escondida – que não parece ser o caso – está visto que já é uma carta fora do baralho.
Ninguém no seu juízo perfeito pode continuar a crer que quem “fura os pés” dele e dos que o rodeiam com a sua própria AKM, tenha condições para governar um país. Mais a mais sabendo-se quão próximo está ele de o conseguir sempre que é ele próprio a fazer o que mais elementarmente se devia deixar de fazer para poder lá chegar.
Quanto a nós está já totalmente fora de hipótese Afonso Dhlakama poder chegar alguma vez a ser inquilino da Ponta Vermelha. À força, talvez, mas isso só confirmaria que ele perdeu a cabeça e já não sabe o que anda a fazer. Por via do voto, podemos apostar agora que não chegará lá nunca. Ou dá um golpe de mestre e faz uma revolução de quadros no partido e ainda pode ser que se salve deste descrédito em que caiu com o caso do Edil da Beira, ou está definitivamente perdido.
Quem pode acreditar num homem que hoje só está a ficar com bajuladores e incompetentes à sua volta?
Quem pode acreditar que um partido que está empenhado em construir a democracia não respeite os seus próprios estatutos?
Quem pode acreditar em boa governação a cargo de alguém que não sabe governar a sua própria organização?
Quem pode confiar e apoiar um homem que se junta a pessoas sem provas dadas, gente que nem é capaz de mostrar destreza na governação dos seus bens pessoais?
Quem pode admitir que uma Renamo “depenada” possa governar Moçambique?
Quem pode prometer higiene numa casa e, simultaneamente, quando quem está a ver chegar o dia da família crer que vai passar a viver numa casa limpa vê antes o próprio chefe da família a entornar propositadamente o penico em plena sala de visitas?
Quem pode querer ser visto como doido à semelhança de quem não se importa de por o seu clube na 3.ª divisão só para ele poder continuar a ser o boss da colectividade?
Estas perguntas são apenas alguns desabafos para evitarmos ir mais ao fundo da questão.
Poderíamos por exemplo perguntar ao delegado provincial da Renamo em Sofala, Fernando Mbararamo, se ele ou os seus antecessores alguma vez prestaram contas aos membros do seu partido dos dinheiros que consomem deles.
Poderíamos perguntar a Dhlakama se alguma vez apresentou contas aos membros do partido das avultadas verbas que recebe do Estado em contrapartida pelos 90 deputados que mantém nesta legislatura na Assembleia da República.
Preferimos antes perguntar ao Secretário Geral da Renamo se ele já terá feito algum esforço para que as contas do partido sejam apresentadas aos seus membros e ao seu presidente.
Preferimos perguntar aos soldados e oficiais que lutaram para que a Renamo se prestigiasse ao ponto de ser hoje um partido fortemente implantado no seu país, se foi para a Renamo chegar a este estado que eles lutaram.
Também não podemos concordar que a Renamo tenha chegado ao ponto de descrédito a que está a chegar, por culpa, apenas de Afonso Dhlakama.
Não concordaremos que amanhã se diga que as culpas todas da derrocada da Renamo cabem ao presidente Afonso Dhlakama. É preciso que todos assumam a sua quota parte de responsabilidade se nada começarem já a fazer. Fugir não é a solução. Ninguém poderá acreditar também nos que fogem da Renamo ao primeiro embate. Que estofo nos demonstrarão ter para governar Moçambique? A vida tem contrariedades. Tem altos e baixos. É preciso lutar para se estar sempre a subir.
A Renamo tem hoje muita gente que bem pode governar o país. O que sucede é que tem uma liderança imprevisível e estonteada – não se entenda apenas Dhlakama – que faz com que até os militantes e simpatizantes ferrenhos nos digam que têm medo que o Partido chegue ao poder nestas condições actuais.
Dhlakama tem de reflectir urgentemente e decidir de uma vez por todas se quer ir definitivamente para a sarjeta da História ou se quer reabilitar-se e permitir que o seu partido volte a trilhar caminhos que permitam que se veja na Renamo um partido responsável e capaz de governar Moçambique.
Os membros da Renamo em todo o País, também deveriam seguir o exemplo das “bases” na Beira que estão a dar sinais claros que a Renamo tem potencial para ir em frente pois está pejada de membros que sabem o que querem e sabem quem pode nesta fase levar o partido a novas glórias impedindo que se transforme num bando de papagaios de penas rapadas em vez de uma perdiz vistosa e prestigiada. (x)
Fonte: Canal de Moçambique2008-10-09 06:16:00
2 comentários:
Se houvesse humildade e bom senso talvez ainda fosse possivel salvar este navio que se afunda!
Claro José, mas há e haverá essa humildade e bom senso? Essa é que é a pergunta. Parece coisa difícil porque o fácil é o capitão afundar o navio como sinal de coragem. Isto aqui é como quem pensa que quem faz plano de suicídio e o executa é quem é corajoso, mas na verdade o corajoso é aquele que desiste do plano de se suicidar.
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