Há algumas semanas escreveu-se na imprensa moçambicana sobre o desaparecimento de um cadável na morgue do Hospital Central de Nampula. Confirmado pelas entidades de competência, o malogrado teria morrido de acidente de viação. O estranho para este caso é que quando os familiares foram buscar o corpo para o seu enterro, constatou-se que havia desaparecimento. Como pode desaparecer um corpo numa morgue onde há guardas?
A história repete-se na morgue do Hospital Central de Maputo onde um corpo está desaparecido desde a manhã do último sábado como se lê no Jornal Notícias, na sua edição de 28-10-2008. A procura do corpo provocou à exumeração, por três vezes, de corpos não reclamados, na vala comum do Cemitério de Lhanguene. Para este caso julgo haver irresponsabilidade por parte dos familiares, a polícia criminal e o pessoal da morgue.
Para os familiares, entre eles, treze filhos, a responsabilidade de guardar e controlar o corpo era dos outros que se não a tomassem pagariam por indemnização. Espero que assim não seja, pois senão a nossa ética e moral estarão ameaçadas.
O mais sério está em relação à Polícia de Investigação Criminal. Presumindo-se que o malogrado tenha morrido vítima de agressão física sofrida durante a noite ou madrugada anterior da sua vida, é interessante que a Polícia de Investigação Criminal (PIC) só se tenha envolvido na procura do cadáver desaparecido. Na minha modesta opinião, a PIC devia ter sido envolvida desde a primeira hora em que o corpo foi encontrado sem vida. No caso da PIC não ter sido informada pelos familiares sobre o ocorrido, era também um motivo forte para se envolver ao saber do presumido. Presumo que a nossa polícia tenha a responsabilidade de registar os crimes com o intuito de no mais cedo ou mais tarde encontrar os criminosos.
Por último, o caso é idéntico ao da morgue do Hospital Central de Nampula, embora lá se possa suspeitar corrupção e em Maputo irresponsabilidade.
2 comentários:
Horrivel este cenário! O Mestre já apontou os dedos aos possiveis responsaveis por este lamentavel e doloroso cenario. Não é o primeiro do genero, talvez este tenha tido a sorte de ser noticiado. Este é mais um pretexto para analisarmos o caminho final dado aos indigentes ou pseudo-indigentes.
Mesmo que os corpos não sejam reclamados, dever-se-ia ter uma base de dados sobre estas pesssoas pois o facto de os seus cadaveres nao serem reclamados nem sempre quer dizer que não tem "dono".
É verdade que muitos familias nao tem condiçoes para enterrar com "suas proprias maos" os seus ente queridos, mas isso nao faz deles menos gente para que sejam enterrados nas condiçoes que o sao.
Lembro-me que ha anos atras estava eu na varanda da casa de uma amiga quando vi num camiao, que servia para o transporte de lixo, corpos amontoados. A principio nao entendi aquele espectaculo grotesco por estar num andar muito alto, so quando a dona da casa mo explicou percebi que eram indigentes à caminho da vala comum. Veja, Mestre, nem sequer um saco plástico para os cobrir!!!
Ai está Ximbitane, tem me espantado bastante da maneira como se tratam os restos mortais para além de crimes em que o autor é apanhado em fragrande delito.
Para o último caso, parece-me que o crime se prescreve logo como recusa de prosseguimento à investigacão. Os agentes da PIC ignoram que isto pode afectar a eles também. Hoje há muita ajuda para se detectar criminosos nem que muito tempo passe.
Para o caso de tratamento de restos mortais talvez os antropólogos nos ajudassem. Entendo que há muita mistura de tudo: questões culturais, medo dos mortos e falta de respeito. Quanto à questões culturais, parece-me entendermos que um morto ninguém mais o procura. Noutras culturas procura-se até se encontrar o último resto, daí as transladacões de corpos mesmo que passados mais de 30 anos.
Quanto à falta de respeito, concordando contigo, devia-se combater a vala comum. Toda a pessoa humana deve ter o direto a um enterro digno.
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