Por XAVIER DE FIGUEIREDO *
NA FRELIMO O “CASO” DA BEIRA É OBJECTO DE CONJECTURAS DE SENTIDO CONTRADITÓRIO
➢Na atitude dos apoiantes de Daviz Simango, aparentemente animados pela dinâmica de vitória que a candidatura adquiriu e tem vindo a expandir, uma eventual derrota do mesmo só poderia ter como causa uma ausência de transparência eleitoral – vulgarmente chamada “roubo eleitoral”
A candidatura independente de Daviz Simango à presidência do Município da Beira apresenta condições “vantajosas” para vencer as eleições de 19 de Novembro.
Este cenário e o processo que deu origem à apresentação da candidatura são vistos como um precedente na política moçambicana, susceptível de lhe dar nova feição no futuro.
De acordo com observações in loco da actual situação na Beira, Daviz Simango dispõe do apoio “praticamente total” do eleitorado da RENAMO, ali maioritário, acrescido de apoios expressivos na massa de votantes do PDD, de Raul Domingos, e MONAMO, de Máximo Dias, mas também em franjas da própria FRELIMO.
Factos apurados ou baseados em informações verificadas:
- As estruturas políticas da RENAMO – delegados de bairro, membros das Ligas Feminina e da Juventude – estão activamente envolvidas na candidatura de Daviz Simango, inclusive em áreas tradicionais de apoio à RENAMO, como Munhava, Nhangau, Manga e Inhamízua (declinaram prestar apoio ao candidato oficial).
- As sedes da candidatura de Daviz Simango são geralmente visitadas por militantes da FRELIMO, do MONAMO e do PDD que se voluntariam para cooperar, por vezes em atitudes de rompimento com as suas militâncias partidárias; o fenómeno é extensivo ao Chiveve, zona de especial influência da FRELIMO.
Os mais recentes desenvolvimentos do tema não têm confirmado tendências anteriores segundo as quais as candidaturas de Daviz Simango e do candidato oficial da RENAMO – o deputado Manuel Pereira, dividiriam o eleitorado da “perdiz” em duas metades, criando condições para garantir a eleição do candidato da FRELIMO, Lourenço Bulha.
Nova avaliação do assunto
- O eleitorado tradicional da RENAMO que não votará em Daviz Simango é pouco expressivo (cerca de 10/15% do total).
- A lacuna derivada da não atracção dessa parte do eleitorado da RENAMO pela candidatura de Daviz Simango é colmatada por apoios novos, oriundos do PDD, do MONAMO e da própria FRELIMO (influenciados pela popularidade do candidato por “sentimentos benevolentes” para o próprio que a sua candidatura gerou).
O apoio a Daviz Simango provindo da população beirense conotada com a RENAMO não apresenta características que permitam considerá-lo uma manifestação de ruptura com o partido; aparenta ser uma atitude de rebeldia face à decisão da direcção do partido de preterir Daviz Simango em benefício de outro candidato, M. Pereira.
2 . O líder da RENAMO, Afonso Dhlakama, denota estar ciente de que ele próprio e por extensão a direcção do partido (na periferia da qual têm ocorrido dissidências) são o objecto da animosidade dos renamistas da Beira – cujas lealdades partidárias parecem manter-se intactas.
Factos da conduta de Dhlakama considerados elucidativos:
- Evitou realizar na Beira (foi em Quelimane) a reunião extraordinária do Conselho Nacional do partido que deu o seu beneplácito à candidatura de Manuel Pereira, por exclusão de Daviz Simango.
- Ao contrário do que prometera, não se deslocou à Beira, em 11 de Outubro, para apresentação do candidato oficial, Manuel Pereira (um comício marcado para o efeito, no Alto da Manga, foi cancelado, por escassez de público).
- Não anuiu a um convite para estar presente na cerimónia pública de inauguração de um monumento evocativo de André Matsangaíssa, fundador da RENAMO, implantado numa praça da cidade que leva o seu nome; fez-se representar por sua esposa, Rosália e seu filho Afonso Dhlakama Júnior.
A fidelidade à RENAMO mantida pelo seu eleitorado tradicional, de natureza étnica e regional, transparece igualmente de um fenómeno singular, que é o de se ter concluído que o seu apoio a
Daviz Simango e a intenção de votar no mesmo para presidente do Município coexistem com a inclinação de votar na lista da RENAMO para a Assembleia Municipal.
Esta linha de conduta é considerada decorrente de um sentimento colectivo de acordo com o qual a preterição da recandidatura de Daviz Simango e a escolha, em seu lugar, de Manuel Pereira são actos que comprometem pessoalmente Afonso Dhlakama, enquanto a lista de candidatos à Assembleia Municipal é uma decisão que vincula o partido.
Eventuais efeitos
O apoio do eleitorado da RENAMO na Beira a Daviz Simango é visto pelos apoiantes deste à luz de um critério de “utilidade dupla”: uma vitória do filho do primeiro vice-presidente da Frente de Libertação de Moçambique ofuscará Afonso Dhlakama e dará lugar a um movimento interno na RENAMO que tendencialmente levará à eleição de um novo líder – provavelmente o actual edil de Chiveve.
Na atitude dos apoiantes de Daviz Simango, aparentemente animados pela dinâmica de vitória que a candidatura adquiriu e tem vindo a expandir, uma eventual derrota do mesmo só poderia ter como causa uma ausência de transparência eleitoral – vulgarmente chamada “roubo eleitoral”.
A posição da FRELIMO face ao “caso” da Beira é objecto de conjecturas de sentido contraditório:
- Interessa-lhe (ou não desdenha) uma vitória de Daviz Simango, como factor capaz de pôr em causa Afonso Dhlakama e, acrescidamente, enfraquecer/desacreditar a Renamo.
- Não lhe interessa uma vitória de Daviz Simango, como factor capaz de dar azo a uma renovação da Renamo que a torne mais acutilante e eficaz como principal partido da oposição.
* in Africa Monitor Intelligence e CORREIO DA MANHÃ – 27.10.2008
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