A lista de supostas pessoas que desistiram e continuam em contribuir no Diário de um sociólogo e as respectivas qualificacões e desqualificações feitas por um “anónimo”, é muito e muito interessante. Ainda preciso de muito tempo para eu encontrar o que essas pessoas têm em comum. Não é fácil para mim, e, para tomar como exemplo, a Fátima Ribeiro tem mostrado interesse em discutir assuntos relacionados à educação/pedagogia; o Bayano comentou há pouco num assunto que achou importante e teve tempo para deixar algumas palavras e eu pude o referir na última postagem a partir daquela fonte; o chapa 100 contribue onde quer que seja e em assuntos que quer, dependendo do tempo, Florêncio, Egídio, Agry, idém. Dos seus desqualificados, talvez o melhor é eu não mexê-los, mas a verdade deve ser por serem de opinião contrária. Então não é aquilo que suspeitei que anda nos blogues um tipo de guerra, um de recrutamento de associados, partindo de uma construção de um “Nós e os Outros”? Que saudade eterna de Edward Said!
Tenho visto no Diário de um sociólogo e em muitos blogues moçambicanos, muitas pessoas a insultarem às outras e as mesmas a queixarem-se de ser insultadas e, isso acontece quando a alguém tiver atingido nos pontos mais sensíveis da outra pessoa, do seu “adversário” ou sentir-se assim atingido.
Não vamos nos enganar, aqui na blogsfera moçambicana, são pouquíssimas as pessoas que respeitam o pensar diferente, mas todos reclamam o direito ao respeito e à tolerância do pensar diferente. Há muita agressão, muito grupismo ou tendência para isso, muita defensiva vs ofensiva, muito desprezo, muita dedicação à desqualificação, muita intolerância, muito recrutamento. Pessoalmente, não vejo os motivos, por exemplo, de alguém ter que se revoltar por uma lista dos mais ricos em Mocambique, ainda que o seu nome não esteja lá. Em muitos países este tipo de lista é normal.
quinta-feira, janeiro 31, 2008
A guerra blogsférica continua?
quarta-feira, janeiro 30, 2008
A STV: A Frelimo vai recuperar os municípios sob governacão da Renamo?
Esta é uma pergunta problemática como o Bayano afirma no Diário de sociólogo e fundamentalmente porque as autarquias não pertencem a nenhum partido, mas sim ao estado moçambicano, tendo os partidos e associações moçambicanos, a pé de igualdade, o direito de concorrer para governá-las. Mas porque a STV optou por servir a retórica do Filipe Paúnde, vou tentar analisar neste texto o serviço prestado por este meio de comunicação social. A pergunta parece ser mais intencionada para exprimir o desejo do jornalista ou da direcção do STV de fim da democracia multipartidária e regresso ao regime monopartidário como Marcelino dos Santos e Mariano Matsinhe declararam publicamente.
Recuperar como se reaver algo perdido de seu direito inalienável como é o caso dos municípios da Beira, Nacala-Porto, Ilha de Moçambique e Angoche e porque não Marromeu é falacioso. Se na altura das assembleias distritais a Frelimo os governava foi por imposição, foi por ditadura. Se a Frelimo governou todos os 33 municípios como resultado das eleições autárquicas de 1998, foi por os partidos da oposição e em particular a Renamo ter as boicotado. Ainda, há que notar que a participação foi de menos de 15 % dos eleitores e mesmo contando com votos enchidos fraudulentamente nas urnas. A exemplo está o que foi provado em Dondo (ver aqui). Acima de tudo, houve uma campanha nacional de boicote a estas eleições o que pelo elevado número de abstenções nos pode criar dúvida se não é o boicote que havia ganho naquele escrutínio.
Nas eleições de 2003, houve uma repetição de um fluxo de abstenções embora houvesse a participação dos partidos da oposição. Os resultados, que devem ter sido influenciados pelo grande número de abstenções, foi totalmente contrário as previsões (ver aqui ) baseadas nos resultados das eleições gerais de 1994 e 1999. Segundo AWEPA, a previsão era de a Frelimo ganhar em 18 e a Renamo em 15 municípios, enquanto que em dois, nomeadamente Nampula e Quelimane seria uma disputa renhida entre os partidos principais. Aliás nesta previsão a Renamo estava segura em sete municípios e a Frelimo quinze e, em disputa estavam onze municípios. Surpreendemente, a Renamo ganhou em 2 dos municípios seguros e 2 dos em disputa.
Para mim, uma pergunta válida e favorável à democracia multipartidária seria de se a Renamo recuperaria o seu apoio eleitoral, ela conseguiria mobilizar o seu potencial eleitoral para ir às urnas nas próximas eleições autárquicas. Isto porque na percepção de muitos analistas, um dos grandes causadores das derrotas da Renamo é o maior número de abstenções do seu potencial eleitoral.
terça-feira, janeiro 29, 2008
O Secretariado-geral da Renamo reestrutura-se
João Alexandre - chefe do departamento de organizacão
Rahil Khan - chefe do departamento de informacão
Ivone Soares - chefe do departamento das relacões externas
José Manuel - chefe do departamento de assuntos sociais e desmobilizados
Armindo Milaco - chefe do departamento de mobilizacão
Leia mais aqui !
segunda-feira, janeiro 28, 2008
Parabéns Itoculo (2)
Contudo, há partes do distrito do Monapo com solos menos férteis ou que dão para o cultivo de cereais para o consumo familiares e um pouco mais para a comercialização. A zona onde se descreve como tendo se instalado a rede de energia eléctrica é totalmente desta úúltima categoria.
Com esta pequena apresentação do distrito do Monapo, em termos de agricultura, pretendo criar uma reflexão sobre se a ligação de energia de HCB é um investimento economicamente rentável ou não. O texto do notícias aponta claramente que apenas 25 pessoas e eu traduzo isto como famílias num universo de centenas em Muelege e Itoculo sede, onde foram instalados PTs (postos de transformação), são as que consomem a energia eléctrica.
No artigo não aparece o impacto positivo da ligação da energia eléctrica na produção de cereais e de culturas de rendimento de que o posto administrativo de Itoculo é potencial e aparece sublinhado no sua introduccão. E, pode-se compreender que embora o investimento igual seja discursivamente para estimular a produção, a instalação de energia eléctrica até no Itoculo-Sede está longe de ser essa realidade, quanto muito, ela é para o consumo privado. Mas quem são esses privados? O administrador, alguns funcionários públicos, tais como professores, o pessoal da saúde e outros que duma ou doutra forma têm trabalho assalariado. Essas que na sua totalidade são 25 pessoas ou famílias como eu quero designá-las.
Para se falar de um impulso na produção de cereais e culturas de rendimento com a instalação de energia da HCB, era necessário que se dissesse o que isto concretamente vai acontecer e onde. Com a iluminação de poucas casas não impulsionará qualquer produção agrícola, sem eu dizer que não há nisso um algum impacto positivo. Esperando que o Ministério de Educação quererá pagar pela energia, as escolas de Muelege e Itoculo, ambas leccionando até a 7a classe, isto é, EP-Completas, serão electrificada e assim se poderá frequentar em curso nocturno. A vida cultural será mais viva e os professores jovens nunca mais passarão ao que me aconteceu: sair de Muelege para Monapo-sede para assistir a um filme regressar no fim dele era uma noite sem dormir.
Mas a HCB é uma empresa com qualquer privada ou estatal que deve funcionar para fins lucrativos. São os impostos e dividendos que HCB de que todos os moçambicanos se beneficiarão e não energia eléctrica gratuita como a coisa parece ou que muitas vezes não se explica O Jornalista Mouzinho de Albuquerque já deu esta atencão. Mas se bem que são os impostos e dividendos provenientes dos lucros que a empresa paga aos Estado, o nosso bem-comum, constitui nosso prejuizo quando se investe tanto para uma perda prevista. No caso vertente de Itoculo, era pelo menos justificável se a prioridade fosse de instalar a rede de energia em Ramiane ou Mecuco em Netia nas plantações e fábricas de sisal para uma melhor produtividade nas respectivas fábricas. Aqui, acredito que o número de consumidores privados podia ser maior ao de Itoculo. Mas mesmo isto tinha que ser avaliado em relação aos custos e eventuais lucros.
Entrevista com o escritor Henning Mankell*
O escritor sueco Henning Mankell um dos romancistas mais lidos no mundo, um pé em Moçambique e outro na Suécia, concedeu uma entrevista exclusiva à revista francesa “Le Nouvel Observateur” (que aqui reproduzimos integralmente) e onde fala da sua querida África, dos seusenvolvimentos, do seu sogro, Ingmar Bergman, e do romance policial “O Chinês” que acaba de terminar, um olhar desapaixonado e muito crítico sobre o que, na sua óptica, se está a passar em Moçambique e no continente africano.Há mais de vinte anos que você vive metade do ano em Moçambique e a outra metade na Suécia.Gosta de dizer “Tenho um pé na neve e outro na areia”.
Nada me obrigava a partir para África: era uma escolha íntima. Aos 20 anos, quando era um jovem autor, tinha a nítida impressão de procurar um outro ponto de vista sobre o Mundo além do etnocentrismo europeu. Já faz muito tempo, em 1972. Desembarquei na Guiné-Bissau, na época ainda colónia portuguesa. Foi uma experiência iniciadora. É o mesmo desejo que me empurra sempre de regresso a África: para ter uma melhor perspectiva do Mundo. Digo muitas vezes que essa experiência africana fez de mim um melhor europeu. Isso explica-se muito facilmente. Esse distanciamento permite-me ver melhor o Mundo – quer se trate da minha mulher, do meu trabalho ou do que leio no jornal — e aperceber-me de forma lúcida tanto do seu funcionamento como das suas falhas. A persistente importância para a Europa da herança dos Lumière e da Revolução Francesa, mas também os problemas que se colocam ao nosso continente. O que aprendi em África permitiu-me tornar-me numa pessoa melhor, e, por isso, espero viver uma vida melhor. Graças a África, conheço melhor o Mundo.
Ocorre-lhe algum exemplo?
O romance que acabo de escrever chama-se “O Chinês”. Há já algum tempo que estou horrorizado por ver como é que os chineses se comportam em África. Parecem-me neo-colonizadores, o que para mim é ainda mais doloroso pelo facto de ter crescido com a ideia de que a China ajudava os países africanos a libertarem-se.E se escrevi este livro é porque sobre essas atitudes eu sei coisas que em geral ignoramos. Vi os chineses na construção, em Moçambique e noutros lugares em África. A China tem um problema de excesso de população rural. Os seus 200 milhões de camponeses não param de empobrecer, e um dia correm o risco de se revoltarem e de “tomar a Bastilha”, ou seja, de se oporem ao Partido Comunista. Os dirigentes chineses prevêem portanto exportar o problema e transplantar para África os camponeses mais pobres (nada menos que 4 milhões!) para que cultivem a terra. É uma forma terrível de colonização, e é exactamente o que fizeram os portugueses antigamente em Moçambique. Pode-se sujeitar os pobres a tudo. E é claro, os dirigentes de Moçambique tirarão proveito financeiro dessa política chinesa. Nos anos 1960, durante a minha adolescência, a China gozava de um imenso prestígio. Mao tinha conseguido alimentar 1 bilião de habitantes. O meu próximo livro tem, pois, como objecto a minha própria desilusão. Há cinco anos, a China fez um donativo a Moçambique, e aproveitou-se disso para enviar a sua própria mão-de-obra. Pouco tempo depois correu um rumor segundo o qual os trabalhadores chineses maltratavam os seus homólogos africanos já instalados, mas o escândalo foi abafado. Esse incidente foi o “clic” para mim: lancei-me em pesquisas na China e em África que resultaram neste livro.
Então não é o petróleo que atrai os chineses em Moçambique?
Sim, não há petróleo, mas há outras matérias-primas que despertam o seu interesse. Há falta de tudo na China, principalmente de matérias-primas. Ela também vê nisso um meio de resolver os seus problemas exportando em massa para o mercado africano. Se apanharem o avião de Joanesburgo para Harare (Zimbabwe), podem constatar que quase todos os passageiros são chineses. Eles estão a criar uma situação sobre a qual os africanos não têm nenhum controlo. Da mesma maneira enviam para a Argélia milhares de operários, que muitas vezes eram prisioneiros na China. Isso também muitas vezes ignoramos. Este livro, que abraça muitas questões, será publicado simultaneamente em vários países em Maio próximo, dois meses antes dos Jogos Olímpicos de Pequim.
Você diz: “Sabemos como morrem os africanos, mas nunca como vivem”.
Cada vez que regresso à Europa e assisto ao Telejornal, só vejo imagens de morte. Mas os africanos também vivem: amam, lutam, sonham, trabalham. E nunca sabemos nada sobre isso. Tento, portanto, oferecer uma outra imagem de África diferente daquela; maioritariamente negativa, veiculada pelos media a quem culpo bastante. Porquê uma tal situação? Hoje, a África não representa grande coisa para nós, económica e politicamente. Mas estamos enganados: neste contexto de globalização, não podemos fazer de conta que a África não existe. É um imenso mal-entendido. E espero que os jovens acabem por se revoltar contra essa situação.
A Europa e a África
Quais os deveres da Europa para com a África?
Antes de mais deveríamos fazer com que o africano fosse tão bem alimentado como o resto do mundo. Se perguntamos onde se encontra o centro da Europa, alguns responderão Bruxelas (centro político da União Europeia), Londres (centro económico e financeiro), Paris ou Berlim (na qualidade de centros culturais). Para mim, o centro simbólico da Europa é a pequena ilha de Lampedusa, ao sul da Itália. Porque é aí que encalham diariamente os cadáveres de imigrantes clandestinos vindos de África. Acho isso repugnante (dégeulasse – em francês no texto). E esse escândalo obriga-nos a perguntarmo-nos: podemos aceitar um mundo assim? Não há outro modo de prever a imigração? Tenho um sonho simples: construir uma ponte entre Marrocos e a Espanha. Sabemos bem que precisamos desses imigrantes.
Os imigrantes e o seu destino desempenham um papel importante nas suas peças de teatro e nos seus romances.
É a imigração que faz a Europa. A história europeia é um assunto de imigração e de emigração. Há um século, muitos suecos partiram para os Estados Unidos em busca de uma vida melhor, e encontraram-na. Nós temos a memória curta! Os europeus conservadores têm medo que os imigrantes lhes venham roubar o seu trabalho. Balelas! Eles vêm fazer o trabalho que nós não queremos fazer. Essa hostilidade corre o risco de nos causar problemas: daqui a vinte anos, quando formos muito velhos, quem se irá ocupar de nós? Coloco, portanto, muita esperança na juventude actual, porque a nossa geração perdeu a batalha. Vivemos num mundo terrível, em que as pessoas não tiram nenhuma lição da sua memória e da sua experiência. Pergunto-me o que diria Voltaire se visse a Europa de hoje. Acho que exclamaria: “É mais do que tempo de recomeçar as Luzes!”.
Quando volta à Suécia como é que vê a evolução do seu país? O modelo sueco, esse paraíso social-democrata de Olof Palme, é um mito ou uma realidade?
Continuo a acreditar que a Suécia é uma sociedade justa, comparada com outras. Mas estou consciente que é confrontada com problemas que não existiam há quinze anos. Assistimos a uma evolução perigosa de Estado-providência. Claro que é preciso proceder a reformas, mas muitas delas têm efeitos negativos. Estou, portanto, inquieto quanto ao futuro. Mesmo se ainda hoje os imigrantes que chegam à Suécia se creiam no paraíso, em comparação com a sua vida anterior. Mas é preciso estar atento para não perder o espírito de solidariedade, que é o fundamento da nossa sociedade. É preciso estar pronto a lutar para conservá-lo.
Mas nos seus romances policiais a Suécia não tem nada de paraíso.
Esse paraíso é um mito criado por vocês e não por nós. São os estrangeiros que ficaram fascinados por esse “modelo sueco” e... pelo loiro das suecas! A Suécia não é responsável pela mitologia que a envolve. E naturalmente ela conhece a sua dose de problemas, nomeadamente aquele de que falo nos meus livros: a relação entre democracia e sistema judicial. Se a justiça funciona mal, a democracia não pode funcionar. A Suécia conheceu vários escândalos, que levam a pensar que a corrupção e o crime organizado estão a desenvolver-se. Constatamos mesmo tendências racistas, com certeza muito menos pronunciadas que noutros países. Os suecos seguiram com atenção os tumultos nos subúrbios franceses. Ainda não chegámos a esse ponto, mas corremos o risco de isso acontecer se não formos vigilantes. Porque a Suécia tem o mesmo tipo de subúrbios, exclusivamente povoados de imigrantes pobres, e onde o sistema educativo é sacrificado. Há algumas semanas foi organizada uma viagem para permitir a adolescentes dos subúrbios da Estocolmo filhos da imigração descobrirem a zona suburbana parisiense. No regresso, todos eles disseram estar mais bem servidos! Mas é preciso estar atento. O maior problema é um problema de pobreza, ao mesmo tempo económica e cultural. A Europa inteira sofre hoje de ignorância. Precisamos de uma nova era das Luzes, uma nova Renascença. Estou assustado pela falta de cultura dos adolescentes. Um jovem sueco, interrogado recentemente sobre as causas da Segunda Guerra Mundial respondeu que Hitler e Estaline disputavam entre si Marilyn Monroe! É muito engraçado, mas é também consternador... Os jovens não compreendem que a democracia pode ser ameaçada por um regresso do fascismo.
Em que é que os seus romances policiais são um bom espelho da sociedade sueca?
Creio que o recurso a uma intriga criminal é um dos mais antigos processos literários. Basta pensar em “Medeia”, uma peça escrita há 2.500 anos, em que a heroína mata os seus filhos por ciúme. É um policial em que não me reconheço! Quando me perguntam qual é a melhor intriga policial jamais escrita, respondo sempre “Macbeth”. O crime como espelho da sociedade não data portanto de Edgar Poe ou de Conan Doyle. Um crime, um conflito mortal actua como revelador dos pensamentos das personagens, das reacções da sociedade. E, depois, todo o mundo gosta de ler um bom policial! A intriga criminal é um bom meio de captar a atenção do leitor, de seduzir os jovens dos subúrbios, por exemplo. Na Suécia, tenho muitos leitores entre os imigrantes recentes. E estou orgulhoso disso, porque isso significa que os meus livros os ajudam a aprender o sueco. Estou convencido que, dentro de vinte ou trinta anos, um autor de romances policiais acabará por receber o prémio Nobel. É um género de tal maneira vivo! E quem ousaria negar que um autor como John le Carré nos ensina coisas importantes sobre o nosso mundo?
Teatro em Moçambique
A sua vida literária é muito variada: escreve romances policiais, romances “literários”, peças de teatro, livros para crianças. Para além disso, é editor e director de teatro em África. Como é que consegue conciliar todas essas actividades?
Trabalho muito! Um dia só tem vinte e quatro horas, e é impossível pedir emprestado cinco anos de vida a alguém... Portanto, a única solução é decidir o que “não” vamos fazer. Por exemplo, se diariamente vir uma hora a menos de televisão que o resto das pessoas, isso far-me-á ganhar 365 horas por ano, o que deixa tempo para fazer muitas outras coisas. Um escritor deve amar todos os seus livros com o mesmo amor, como um pai ama os seus filhos. Não pode renegar nenhum. E creio profundamente que todos os meus livros têm um ar de família.
Definir-se-ia como um escritor comprometido?
Sim! Para mim, é uma evidência. Quando me levanto de manhã, sei que me vou encontrar num mundo do qual não posso abstrair. Por exemplo: hoje, estamos a falar de literatura, enquanto que há no mundo milhões de crianças que nunca terão a possibilidade de aprender a ler e a escrever. Para eles, um livro não é nada. É terrível. Mas o mais terrível é que teríamos podido remediar esse problema há anos. Há dois ou três anos, uma organização britânica, creio, avaliou o custo de uma erradicação completa do analfabetismo. Isso seria muito caro, mas não mais do que o que gastamos anualmente em comida para gatos e para cães... Isso revolta-me, pensar que milhões de crianças jamais conhecerão essa maravilhosa experiência que é a leitura. O analfabetismo é uma epidemia ao mesmo nível que a SIDA.
Em Maputo, você é encenador do teatro Avenida. Qual é o seu repertório?
Neste momento, estou a montar “Um eléctrico chamado Desejo” de Tennessee Williams. Mantenho o cenário de Nova Orleães, mas transponho a acção para o seio de uma família negra, em 1955. A estreia terá lugar a 3 de Fevereiro. Acontece-me encenar tragédias gregas, mas como 75% dos espectadores não sabem ler nem escrever, não se pode impor-lhes intrigas demasiado ligadas a uma outra tradição cultural. Eu poderia muito bem montar “Hamlet”: dispomos dos actores apropriados. Mas o público tem necessidade de conhecer a sua própria história. Aí está porque é que escrevo muitas das peças que encenamos.
Livros preferidos
No seu romance “Profundidades”, publicado esta semana em França, como em toda a sua obra, as personagens são, muitas vezes, depressivas. Você pertence a essa tradição escandinava da melancolia e da ansiedade, de Strindberg a Hamsun?
Se quer literatura verdadeiramente melancólica, veja em Portugal! Não estou certo de que a melancolia seja um traço dominante da cultura sueca ou escandinava. É um mito propagado pelos filmes do meu sogro, Ingmar Bergman. Ele dizia muitas vezes, a brincar, que tudo isso era culpa dele! Mas existe uma melancolia inerente à Europa que procura hoje uma nova identidade.
De que é que falava com Bergman?
Nós éramos muito chegados, muito cúmplices. Nos últimos anos, eu era uma das raras pessoas com as quais ele mantinha contacto. Falávamos muito, a maioria das vezes de música. Pode-se falar de música de mil maneiras diferentes. Ele tinha um pequeno cinema só para ele. Devemos ter visto juntos uns 150 filmes: tanto clássicos mudos como filmes recentes. Era sempre apaixonante escutar os seus comentários. Era o primeiro leitor das minhas peças. Faz-me muita falta.
Ocorre-lhe alguma lembrança?
Ele era muito feliz pelo facto de eu, como ele, amar “A Hora do Lobo”, um dos seus filmes menos conhecidos, menos amados. Acho que representava para ele o irmão que nunca teve. A última vez que o vi foi algumas horas antes da sua morte. Eu sabia que ele estava moribundo. E de facto, ele morreu à hora do lobo, entre as 4 e 5 da manhã, à hora, segundo se diz, em que as pessoas nascem ou morrem.
A música desempenha um papel importante na sua vida.
Sonho sempre em escrever como tocava Charlie Parker. Nos seus solos, ele sabia sempre onde ia, e era justamente isso que lhe permitia improvisar. Aprendi muito sobre a escrita graças ao Bird, Coltrane, mas também a Bach. Eles foram uma inspiração em matéria de técnica literária. Para mim, escutar música é sempre uma fonte de reflexão.
Quais os três livros que levaria para uma ilha deserta?
Acabámos de celebrar o cinquentenário do prémio Nobel de Camus. Foi um autor muito importante para mim quando era jovem. E ainda o releio às vezes, menos pelas histórias do que pela sua forma de contá-las. O que seria do mundo sem os escritores franceses? Um dos que mais influenciou a minha vida foi Balzac. Já faz pelo menos trinta anos que ele me acompanha. O seu talento para descrever a sociedade continua única e inigualável. Em matéria de prosa narrativa, ele é o mestre absoluto. Da sua obra eu escolheria “os Camponeses”. E levaria sem dúvida “Cem Anos de Solidão” de Gabriel Garcia Marquez, um livro fundamental. E se queremos compreender o que é ser Humano, levaria “Crime e Castigo” de Dostoïevski. Finalmente, se tenho direito a um quarto livro, escrito por um autor vivo, escolheria “Sorrisos de lobo” de Zadie Smith, que me parece marcar o início de uma obra.
* entrevista conduzida por Gilles Anquetil e François Armanet. Tradução, entre títulos da responsabilidade do
SAVANA – 18.01.2008
Retirado do Mocambique para todos.
terça-feira, janeiro 22, 2008
Revistando a primeira fase do censo eleitoral
Revistando a primeira fase do recenseamento eleitoral, fica-se a saber que 7,6 milhões de eleitores correspondendo 75 % dos previstos, foram recenseados no período entre 24 de Setembro a 15 de Dezembro findo.
Em nove (9) das 11 províncias foram recenseados mais eleitores que o total dos recenseados em 1999. Entretanto, em Nampula e Zambézia, províncias mais populosas do país, com 40 % da população geral recensearam-se menos eleitores que em 1999. Estas são também as únicas províncias que recensearam menos de 70 % dos eleitores. Na província de Sofala o registo eleitoral atingiu apenas a 75 % dos previstos.
Algumas questões preocupantes e sensíveis ao processo democrático:
- Nampula e Zambézia a Renamo arrecada mais votos.
- Uma das queixas justificáveis nas eleições de 2004 foi de que em áreas consideradas bastiões da Renamo da província da Zambézia, alguns eleitores não haviam sido recenseados.
- Há denúncias no decorrente processo de recenseamento, concretamente na província da Zambézia que parecem justificar o número relativamente inferior de recenseados. Alega-se que secretários dos bairros, portanto, agentes do partidão, isto é agentes da Frelimo (ver aqui) promovem exclusão. Estavamos num Estado de Direito a investigação teria sido de imediato.
- As três províncias, Sofala, Zambézia e Nampula estão afectadas pelas cheias, com vias rodoviárias intransitáveis.
- Embora o Secretariado Técnico da Adnmistração Eleitoral (STAE) tenha prometido ser melhor nesta fase que na primeira, por ter pessoal mais preparado a dominar o material informático, sabe-se que muitos dos brigadistas, cerca de 10 %, cerca de 1300 dos 13000 (ver aqui) abandonaram as brigadas do censo eleitoral. Em Sofala, o número deve ter sido ainda maior.Já se relatam avarias de computadores. Tal como na primeira fase, os computadores já andam avariados e isso não é em qualquer pronvíncia, mas em
Nampula
Outras fontes: AWEPA
segunda-feira, janeiro 21, 2008
Para a resolução de conflitos em África
O processo de diálogo para a paz em Moçambique não podia constituir uma boa experiência para a resolução dos conflitos noutros países africano? O nosso processo de negociação da paz entre o governo da Frelimo e a Renamo mudou de país em país e de personalidades em personalidades para mediá-lo até que se encontrou o país, a Itália e pessoas que fossem de confiança tanto para a Frelimo como para a Renamo.
Quanto ao conflito do Quénia já assistimos e vamos assistindo uma série de movimentação de muitas personalidades, mas a mim falta ainda saber se a rejeição das mãos destes não se trata de falta de confiança delas por parte dos ou de um dos envolvidos no conflito. Apercebendo-me agora que pretende-se ou já se envolve a Graça Machel, não tenho nada contra, antes pelo contrário, também Benjamin Nkapa, Kofi Annan entre outros, interrogo-me pela recusa de uso do nosso capital da paz em Moçambique, nomeadamente, Afonso Dhlakama, Raúl Domingos, entre outros. Aí temos os casos da República Democrática do Congo, Uganda, Sudão que se arrastam anos sobre anos. O nosso ex- PR, Joaquim Alberto Chissano, um dos mais envolvidos na resolução de conflitos no continente devia se lembrar do nosso próprio processo e usar o nosso capital da paz como catalisador das negociações. Isso salvaria algumas vidas.
domingo, janeiro 20, 2008
O Município da Beira em balanço
quinta-feira, janeiro 17, 2008
A justiça esperada
“Tribunal popular
Fogo de barragem. Um homem crucificado nas suas palavras. Um homem escovado, posto ao sol. A contundência verbal. O afiar das facas, à luz de metal duma tarde que se escoa de mansinho. Um homem de cócoras. Um homem a chorar devagarinho.
Os garfos dilacerando a memória.
Um homem, e a verdade transitória das palavras que diz e ficam por dizer.
Um homem que morre, na tarde a morrer.
Um homem que nasce, inteiramente novo, moldado e forjado nesta palavra: povo”, Jorge Alberto Viegas, in “O Núcleo Tenaz”, pp22
SR. DIRECTOR!
No meu primeiro pronunciamento sobre a questão em apreço, publicado pelos jornais “Notícias” e “Diário de Moçambique” de 24 e 26 de Dezembro de 2007, respectivamente, sugeri que tendo em atenção que “a vozearia criada em volta do Procurador-Geral da República, Dr. Augusto Raul Paulino, atinge gravemente o seu bom nome e dignidade, seria de boa norma que o Conselho Superior da Magistratura Judicial se pronunciasse publicamente, repondo a verdade dos factos em defesa da honra da pessoa visada”, sob pena de “a honra, o bom nome, a reputação e a imagem pública da pessoa atingida ficarem definitivamente beliscados, inclusive a credibilidade do povo em toda a máquina estatal de administração da justiça”.
A sugestão em alusão, teve como base a forte convicção de que se fosse o próprio Dr. Augusto Paulino a propor procedimento criminal contra os detractores da sua pessoa, como agora ficou decidido, o respectivo processo seria por demais polémico na medida em que a parte contrária olharia para ele não como um qualquer ser humano em pleno exercício do seu direito de cidadania mas sim como homem de Estado, com poder de pôr a magistratura do Ministério Público a agir em defesa de causa própria na medida em que como foi alegado por antecipação, “os magistrados formam um corpo mais ou menos fechado...”!
Desta feita e tomando em consideração a forma como agora os factos se apresentam, só resta-nos apelar e esperar que nos processos a serem instaurados brevemente, todas as partes intervenientes saibam agir com serenidade e ponderação, isto é, sem precipitação e muito menos alegações sofistas, desconexas e/ou destrutivas.
Indubitavelmente, o momento será de decisivo e abnegado engajamento de todos na busca da verdade material que cada uma das partes defende, de modo a habilitar da melhor forma o juiz da causa a ditar um veredicto final insuspeito.
De resto, sendo a República de Moçambique um Estado de Direito democrático e de justiça social, que por isso subordina-se à Constituição e funda-se na legalidade, espero que nada nem ninguém ficará prejudicado na peleja jurídica a ter lugar em breve, peleja essa que, diga-se em abono da verdade, prevê-se que será tão dura como renhida, a medir pelos pesos-pesados com que contam ambas as partes.
Razão pela qual julgo que a justiça está sem dúvidas nenhumas sairá a ganhar, para a felicidade de todos nós. É a justiça esperada!
Tenho dito.
sábado, janeiro 12, 2008
Sobre a crise de Quénia Machado da Graça faz uma analogia
E que assustam quando vemos, no Quénia, até onde podem levar um país aparentemente calmo e pacífico.
No nosso caso, Sousa, talvez o mais preocupante tenha sido o facto de que os criminosos ficaram impunes, protegidos por aqueles a quem favoreceram com os seus actos. Ninguém puniu o sr. Albuquerque, ninguém puniu os responsáveis das mesas de voto, em Tete, de onde previamente tinham sido expulsos os representantes da oposição.
De resto, a nova lei eleitoral parece feita de propósito para que actos destes se repitam. Se a memória não me falha, diz que, nos casos em que os números de votos na urna e de votantes registados nos cadernos sejam diferentes, prevalece o número de votos na urna. Isto quer dizer que se, numa mesa de votação, tiverem votado 30 pessoas mas aparecerem na urna 500 votos, esses votos são considerados válidos.
Há um provérbio antigo que diz que, ao vermos as barbas do vizinho a arder, o melhor é metermos as nossas dentro de água.
Neste momento as barbas do Quénia estão a arder violentamente. Tenhamos o bom senso de, nos próximos processos eleitorais, mantermos as nossas barbas dentro de água.Um abraço para ti, do
Leia todo o texto aqui
PS: O sublinhado é meu
O perigo da manipulação
HÁ-DE ser a quinta ou sexta vez que aqui falámos de quem fala em nome do povo, mentindo às toneladas, metendo na boca desse sempre necessário e quase invisível fenómeno, quando a ambição se torna desmedida, o POVO! Não é por acaso que se trata de uma designação com raízes políticas, para se referir às pessoas. E povo acaba sendo um termo a usar sempre que nos descobrimos insignificantes para determinadas aventuras.
É o povo que gosta de um determinado dirigente, é o povo que não quer isto e aquilo assim como é o povo que quis fosse representado por quem o representa, ainda que em poucas vezes razoavelmente, mas muitas vezes mediocremente. E é usando o povo que os nossos dirigentes são todos os dias enganados.
São enganados que são da total estima do povo, esse que dizem que faz ofertas aos seus dirigentes: galinhas, cabritos, cabeças de vaca, objectos de arte, etc. Diz-se que é o povo que está a oferecer. Nenhum governador disse ao Presidente da República ou outro dignatário hierarquicamente superior que a oferta foi maquinada por si e nalguns casos custou a força para obrigar o povo a dar. Ninguém já disse que noutros casos eles mesmos tiveram que comprar para oferecerem-no em nome do povo.
Os políticos são facilmente enganáveis, não sei porquê! E assim quando descem aos distritos, os governadores são “vítimas” do mesmo tratamento pelos administradores e outros funcionários subalternos, tudo em nome do povo. Qualquer dia receberão (se ainda não aconteceu) um produto roubado ao povo para serem oferecidos em nome do mesmo.
Ora, em Quissanga, num comício popular orientado pelo governador provincial, levantam-se intervenientes que disseram que estavam a gostar do novo administrador. Estavam a falar em nome dos outros, do povo. Que era um dirigente que se algum dia tivessem que mexe-lo fosse apenas para subir de cadeira. Ou é administrador de Quissanga ou sobe para qualquer coisa como director provincial de outra coisa, ou governador, ou outra coisa ainda superior. Isso meteu-se na boca do povo.
Disseram, em nome do povo, que uma viatura para o senhor administrador, é pouco. Justificaram que quando ela está com o secretário permanente, o administrador fica sem meio para locomoção. Certo! Então o povo estava a pedir mais uma viatura para o administrador. Esse povo!!!
Entretanto, aqui perto dos jornalistas alguém da audiência quer saber quem é que estava a falar, pois não se tratava duma cara facilmente identificável. Até se queria saber donde tinha vindo, primeiro pela forma como falou em nome do povo, segundo, simplesmente porque parecia uma pessoa desconhecida.
Em Palma, muito já se disse. O administrador distrital pós no programa do governador a visita a uma pensão na vila, construída recentemente, numa sede distrital onde não havia nenhum lugar de hospedagem. Bravo! Quando se quis saber de quem é a pensão, a resposta não se fez esperar: do senhor administrador, aliás, da esposa do senhor administrador. Ficou mais intransparente do que opaco ou translúcido.
E o povo veio ao comício denunciar um comboio de desmandos do chefe máximo do distrito. E o outro povo, este constituído por sete a oito pessoas, no mesmo comício, disse tudo de bom do administrador: que tinha feito uma pensão, trouxera uma parabólica para ver televisão, a água voltara a jorrar e a energia eléctrica havia, igualmente, regressado ao convívio de gente média da sede do distrito.
O povo de Palma virou povos! Todos os presentes viram-se complicados a ponto de o governador mandar impor disciplina, porque quando um povo falava o outro povo contradizia em voz alta, de forma claramente indisciplinada. Saímos sem saber de que povo se tratava. Vieram as acusações mútuas de terem sido contratados para falar.
Eliseu Machava (a experiência manda...) tinha que cair numa acertada medida: mandar ir perceber! Para tanto, enviou os seus homens de competência técnica e investigativa reconhecida para trazer algo que se aproxime à verdade, entre tudo o que um povo disse, o outro povo desmentiu e aquilo que se disse do povo nos relatórios e mensagens. Estamos à espera do relatório.
Em Nangade, sempre que se fala da aproximação de uma visita importante há um agente económico que prepara pessoas para irem depor contra alguns sectores de actividade, bastas vezes, a Migração, as Alfândegas, a Guarda-Fronteira e a Polícia da República de Moçambique.
São instituições incómodas para o caso de Nangade, sobretudo para quem, sendo agente económico, pretende exercer a actividade, aparentemente para o benefício do povo, mas sem pagar os impostos e taxas correspondentes, que na verdade são para o benefício desse mesmo povo.
Disseram-nos que até paga a quem vai falar. E quem fala, fá-lo em nome do povo, porque é ao povo que se pede que fale. E assim os comícios animam, há muitos aplausos, gritos estridentes, acabando por se ficar com a sensação de uma boa reunião onde o povo se expressou a contento.
O agente económico, bem conhecido, até vai ao comício controlar os seus mandados, a ver se colocaram os pontos como queria, normalmente que enfraquecem as instituições, principalmente quando a resposta do chefe for de condenar as pretensas atitudes dos agentes do estado.
P.S. E aí está o cúmulo da instrumentalização: em Nangade um cego levantou-se para dizer ao governador que andava muito decepcionado com a educação pois que ultimamente via (de ver) alunos sujos e rotos a irem para a escola, onde encontravam os professores aprumados, asseados e todos com batas limpas. E para ele a educação não está a funcionar bem porque também não ensina os alunos a ficarem limpos.
Fonte: Jornal Notícias
quinta-feira, janeiro 10, 2008
Parabéns Itoculo (1)
terça-feira, janeiro 08, 2008
O recenseamento eleitoral na segunda fase
PS: este assunto desenvolverei depois.
sexta-feira, janeiro 04, 2008
Luta Blogosférica mocambicana
Pelo que tenho lido em alguns blogues moçambicanos, nestes últimos dias, não me deixa sossegado sem manifestar a minha indignação quanto ao que parece um manifesto contra alguma coisa que ainda não sei dar nome. Uma guerra na blogosfera moçambicana? E se isso for qual é a razão de ser e qual é o objectivo? Será que os blogues estão incomodando a certas pessoas ou a um grupo? Quais ou qual? Em que os blogues incomodam? Em suma, quem se sente ameaçado pelo desenvolvimento de blogues em Moçambique?
Uma das minhas indignações pende-se na tendência de constituição de clãs blogosféricos moçambicanos, algo que não deixa transparecer em alguns textos que manifestam uma campanha de mobilização de apoiantes, por vezes bem seleccionados. Há um pior nisso que constitue em amarrumação em carapu de corrida de que se é esperto, julgando-se aos outros, incluindo a maioria que vive pelo dumba-nengue ou o informal, e, porque não pela agricultura sustentária, que é a maioria moçambicana também analfabeta e nem sabe da existência de blogues, a quem não entende o jogo. Neste sentido, mata-se silenciosamente o slogan "unidade nacional" e criando-se blogues clânicos que nem que não respeitem ou sigam um tipo de fronteiras já reconhecidas de qualquer modo, na blogosfera parece estarmos para dois clãs a do PODER e do Povo . A selecção de melhores "o quê" do ano 2007 e pedido de aderência ao grupo dos melhores, em 2008, parece ser um dos manifestos.
Felizmente, não estamos em 1975, mas o que vivemos hoje na blogosfera pode um dia constituir uma infelicidade, porque mais do que discurso ou atitude dessa época, precisamos agora de mais de uma coerência e prudência nos nossos discursos. Temos que ir à realidade e agirmos consoante ela.
Felizmente, temos ainda bloguistas que procuram nos fazer entender que as guerras clânicas na blogosfera moçambicana são absolutamente desnecessárias.
Que ano de 2008 seja de Paz também na blogosfera moçambicana!