terça-feira, fevereiro 08, 2011

A ‘sarna’ das manifestações populares no ‘mundo árabe’ anda à roda…

Por: Gento Roque Chaleca Jr., em Bruxelas (gentoroquechaleca@gmail.com)

 “Os políticos tal como as fraldas devem ser mudados, senão cheiram mal” – José Manuel Coelho, político português da região autónoma da Madeira
Malume’, o Egipto dos réis faraónicos está em chamas. Quem diria!!! Mas é bom que se diga com alguma petulância (atitude nem sempre assumida pelos nossos analistas políticos domésticos e internacionais), que a ‘sarna’ que fez e fará correr do poder os enviados especiais de Lúcifer à Tunísia e ao Egipto, respectivamente, Ben Ali e o seu ‘compadre’ da “universidade dos ditadores”, Hosni Mubarak, começou no nosso país, em Moçambique, com as fatídicas manifestações de 1 e 3 de Setembro, onde o povo outrora apelidado de vândalo e macambúzio, forçou o governo da Frelimo no poder há 36 anos a reunir-se, de emergência, em sessão extraordinária do Conselho de Ministros.
Sem querer mexer no vespeiro (e nem é esta a minha intenção) é difícil esquecer aquele Conselho de Ministros marcado por duras medidas de austeridade contra o pessoal do governo e não só, os funcionários públicos em geral, com o intuito de conter a fúria popular. Há quem advoga porém que essas medidas de austeridade, para surtir efeitos desejados, no mínimo, tinham que ser acompanhadas de vassouradas de pelo menos meia dúzia de ministros ociosos, os mesmos que colocam nos olhos do Presidente da República, óculos verdes em pasto seco. É difícil compreender como é que o Chefe do Estado pode manter, por muito mais tempo, no poleiro, uma equipa perdedora! Uma equipa cujas ferramentas já tiveram o seu tempo.
Sem querer perder o fio da meada, quando era petiz (andava eu na escola primária, lá na diminuta povoação de ‘Chivuli’, na outra margem do Grande Zambeze, em Benga) terra dos ‘mambos’ (os veladores da povoação local) cantávamos e exaltávamos os heróis africanos, entre eles constava o nome de Hosni Mubarak. Naquele tempo, em 1980, avaliando pelos manuais de instrução da época, eram considerados heróis nacionais todos os líderes africanos que, mesmo sem ter chegado ao poleiro, tinham conseguido, por via de golpes intestinais, derrubar mortalmente os seus opositores que curiosamente até eram ‘camaradas’ da mesma frente revolucionária.
O amigo leitor já pode imaginar o que acontece quando numa “sopa” (manuais) se junta nomes de ditadores aos genuínos libertadores que foram: Eduardo Mondlane, Julius Nyerere, Kaunda e Mandela. É uma sopa de causar azias. Mubarak e Ben Ali, nunca deveriam ter constado nos manuais da gesta nacional, a menos que seja para mostrar aos petizes que por detrás de um herói pode haver um vilão.
Dizia e bem Walter Benjamin Nunca houve um monumento da cultura que não fosse também um monumento da barbárie. E, assim como a cultura não é isenta de barbárie, não o é, tampouco, o processo de transmissão da cultura. Por isso, na medida do possível, o materialista histórico se desvia dela. Considera sua tarefa escovar a história a contrapelo.” Está dito. Para um bom entendedor, meia palavra basta.
A História é uma sucessão de ciclos e cada ciclo tem o seu manifesto. O ciclo actual é da ‘sarna’. Os governos e os líderes políticos que se achavam de ditadores e adamastores do poder têm os dias contados. A ‘sarna’ cria contágios e com o agravante de que cada país coça-se da sua maneira e sozinho. Ben Ali estava convencido que o primeiro-ministro português, engenheiro José Sócrates, o podia ajudar, porquanto Portugal tem largos interesses empresariais naquele país, mas na hora da verdade Ben Ali ficou na gandaia a conjugar o verbo”se eu soubesse”.
O mesmo sucedeu com Hosni Mubarak, o ditador julgou que os americanos sairiam em sua defesa, também enganou-se. Nos próximos tempos, não haverá sequer espaço para exílios de ditadores. É, por acaso, um sempre renovado espanto, o facto averiguado de que os ditadores pelo vasto mundo circundante, em toda a história da humanidade, nunca aprendem a lição do destino dos seus predecessores.
Salvo esporádicas excepções, os ditadores não curtem a sua aposentadoria no trono, o mais estranho sendo que todos estão convencidos de ser a tal excepção à regra, e quando chega a vez deles de bater com a cabeça no chão, ficam boquiabertos até que dão pena de vê-los tão constrangidos e pasmados. Quem hoje vê Mubarak na televisão, com aquela cara de santo, até sente pena. Coitado!!!
O poder é como sabonete, dizia um determinado poeta moçambicano no anonimato. De facto, quanto mais grande for o sabonete menor é o aroma, quando esse mesmo sabonete está a chegar ao fim torna-se bem mais cheiroso, dizem que até cria a sensação de ser grande para o corpo humano. Tal é o efeito da loucura do poder. É preciso saber dizer basta para que o vírus do poder não engula os “super-heróis”.
Mas quando a teimosia impera e a ganância sobe à cabeça fazendo perder as estribeiras dos ditadores, não há outro remédio que o povo erguer-se de si e mandar embora as sanguessugas. O povo sabe dar um bocadinho de desconto aos ditadores, permitindo que estes encham um pouquinho a pança, mas tornar a pobreza do povo vitalícia, é demais. Nesse sentido, alude-se, de uma forma rigorosa, à necessidade de serem respeitados determinados princípios e valores, os três “des”, Direitos e Deveres da Democracia.
‘Kochikuro’ (Obrigado)._
PS: Em memória de todos os heróis nacionais, quer os que jazem na cripta dos heróis em Maputo, quer os anónimos tombados em defesa dos superiores interesses da nação, fica aqui a minha singela homenagem pelo 3 de Fevereiro – dia nacional dos heróis Moçambicanos, em memória do assassinato do primeiro presidente da FRELIMO, Dr. Eduardo Chivambo Mondlane. Como articulista, não deixarei secar a caneta enquanto não se fazer cumprir a razão do derrame de sangue daqueles que pela pátria tombam, tombaram e tombarão, e para tal, contarei com a “vuvuzela incómoda”, mas profissional, deste viveiro de vários jornais
O AUTARCA do meu ‘Muna’ (irmão ou amigo em macua)
Falume Chabane.

Fonte: O AUTARCA – 07.02.2011

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