O alinhamento de Mbeki ou dos Santos, Mugabe ou outros lideres não é fortuito...
Canal de Opinião: por Noé Nhantumbo
Beira (Canal de Moçambique) - A natureza e tipo de comportamento que vemos sendo exibido por lideranças em África é alguma coisa de suma importância para compreender determinados factos do presente. As ditaduras sanguinárias que apoquentam povos tem as suas origens na chamada ditadura do proletariado que durante alguns anos floresceu e passeou a sua classe em nossos países. Os movimentos de libertação foram apanhados no centro da confrontação este-oeste. Isso não determinou só práticas subsequentes mas também culturas.
Se antes não era perceptível o que escondia o populismo, isso não é sinónimo de que já não havia elementos de intolerância e totalitarismo em acção.
O recurso à prisão, deportação, controle policial dos cidadãos, eliminação física, eram já marcas registadas da actuação de alguns governos.
Angola, Zimbabwe, Etiópia, Tanzânia, Moçambique, são alguns dos países em se viran sistemas políticos centralizadores sendo implementados. Rapidamente os povos se viram confrontados com uma autoridade governamental pouco tolerante para aqueles que tinham opinião diferente.
O que vemos hoje em termos de posicionamento de alguns líderes, se é que esse nome merecem, não é mais do que todo o comportamento, que já tinham, a vir à superfície. O acolhimento do ditador de Adis Abeba em Harare tem de ser visto como a protecção de um companheiro de armas. O silêncio quando se verificam atropelos aos preceitos democráticos em qualquer dos países da antiga irmandade socialista em África faz parte de antigas estratégias que eram determinadas e comandadas a partir de Moscovo. Só que estes governos ditatoriais foram deixados órfãos por um regime que ao desmoronar, não deixou qualquer herança registada em termos de protecção aos seus satélites africanos. Aqui na região, os governos, uma vez desaparecida a União Soviética, optaram por se fecharem entre eles, assinando verdadeiros protocolos de auto-protecção.
Um velho combatente pela independência de Moçambique, Mariano Matsinhe, veio a público recentemente, afirmar que se convidado iria a Harare assistir à tomada de posse de Mugabe, que a ZANU era amiga da Frelimo e outras coisas do mesmo tipo.
Não se questiona amizades por serem históricas. Questionam-se comportamentos presentes que acabam sendo lesivos aos cidadãos de determinado país. O que aquele veterano (Mastinhe) disse não é por acaso. Há laços demasiado fortes entre as lideranças de nossos países. Há sobretudo uma recusa frontal em admitir uma alternância no poder por meios democráticos. Afinal no socialismo dito científico que praticavam, a figura de eleições com mais que um concorrente, multipartidarismo, alternância democrática eram palavras ignoradas.
Os nossos governantes de hoje transportam consigo comportamentos daqueles dias em que era proibido ter opinião diferente, que era considerado reaccionário qualquer cidadão que se atrevesse a manifestar um ponto de vista diferente da linha ou das orientações emanadas dos respectivos regimes.
Se alguma aparência de aceitação dos preceitos democráticos pode sobressair nos discursos, isso em geral é porque ainda não foram confrontados com uma séria possibilidade de perderem o poder.
É só recordar o caso das eleições autárquicas na Beira. Mesmo vencido o partido no poder, atrasou o reconhecimento dos factos e foi necessário um autêntico exercício de vigilância e protecção das urnas para se tornar impossível a manipulação. Os órfãos socialistas rapidamente se tornaram capitalistas e é só ver como eles próprios e sua prole actua e procede no quotidiano.
Aqueles princípios que alegadamente guiavam a luta pela independência foram esquecidos e enterrados logo que se conquistou o poder.
Nos dias de hoje, a dificuldade de compreender as linhas com que o nossos governantes se cozem, as alianças que mantém com os seus pares da região e do mundo, a arrogância e desprezo a que lançam hoje seus povos; todo um comportamento completamente distante daquilo que propalavam que queriam implantar em nossos países, era uma mentira. Ou tudo foi esquecido. Tudo o que é feito hoje por eles tem em vista um afastamento cada vez maior relativamente aos cidadãos. O capital deles reina e quem não consegue comer na mesa principal do banquete através de serviços prestados come as migalhas que caem para o chão. A dignidade dos povos passou a ser verbo morto. Para estes governantes, os mesmos que trouxeram a independência para nossos países, o objectivo principal da governação, a agenda que lhes preocupa é o enriquecimento rápido e com recurso a qualquer meio. Se não fosse esse o caso, já teríamos muitos ministros exonerados pois suas práticas estão longe da agenda que diziam ter aquando das eleições. Muitos dos elementos que fazem parte do governo parece que estão lá para assegurar que as coisas e interesses do chefe sejam protegidas e promovidas. Alguns dos negócios feitos ultimamente confirmam que não há interesse em separar os poderes democráticos e que não há interesse em separar interesses privados dos públicos. Que assim, nas aguas turvas, se colhe melhor.
As diversas tentativas em estabelecer uma agenda económica para o país aparecem quase sempre conotadas com interesses bem identificados das famílias sempre presentes nos grandes negócios. Nada disto é novo. Em Moscovo quando o mercado se tornou aberto, quando o capitalismo chegou ao Kremlin, procedeu-se do mesmo modo. Os bolos mais apetitosos foram abocanhados por pessoas ligadas à nomenclatura e as migalhas para os outros.
Compreendem-se as mudanças históricas, a globalização e a necessidade de se alinhar em novas dinâmicas. Mas não se compreende como é que pessoas que ontem empunhavam a foice e o martelo, através do uso de orientações e outros sistemas característicos do populismo se tornaram praticantes de um autêntico fascismo de esquerda.
É possível abraçar o sistema de mercado e ao mesmo tempo nivelar o campo de modo a os outros cidadãos tenham emprego, habitação, educação e saúde.
Sujeitar toda uma maioria a salários que na prática só compram dois sacos de arroz não pode ser chamado governar com consciência nacional.
Promover uma multiplicação inaceitável de práticas lesivas só porque isso permite que se continue a enriquecer é uma maneira medíocre de ver e fazer as coisas.
As heranças aceitam-se ou recusam-se. Porque o fardo despótico e de intolerância herdado do passado recente não serve os cidadãos e o desenvolvimento de nossos países, aqueles que de facto são lideranças continuarão a luta pela sua eliminação.
Fonte: Canal de Moçambique (2008-06-30 06:25:00)
Nota:
Amizade faz muitos de cegos e mudos. Mariano Matsinhe não é o único. Isso se pode provar pelo silêncio de muitos perante a situacão do Zimbabwe.
Canal de Opinião: por Noé Nhantumbo
Beira (Canal de Moçambique) - A natureza e tipo de comportamento que vemos sendo exibido por lideranças em África é alguma coisa de suma importância para compreender determinados factos do presente. As ditaduras sanguinárias que apoquentam povos tem as suas origens na chamada ditadura do proletariado que durante alguns anos floresceu e passeou a sua classe em nossos países. Os movimentos de libertação foram apanhados no centro da confrontação este-oeste. Isso não determinou só práticas subsequentes mas também culturas.
Se antes não era perceptível o que escondia o populismo, isso não é sinónimo de que já não havia elementos de intolerância e totalitarismo em acção.
O recurso à prisão, deportação, controle policial dos cidadãos, eliminação física, eram já marcas registadas da actuação de alguns governos.
Angola, Zimbabwe, Etiópia, Tanzânia, Moçambique, são alguns dos países em se viran sistemas políticos centralizadores sendo implementados. Rapidamente os povos se viram confrontados com uma autoridade governamental pouco tolerante para aqueles que tinham opinião diferente.
O que vemos hoje em termos de posicionamento de alguns líderes, se é que esse nome merecem, não é mais do que todo o comportamento, que já tinham, a vir à superfície. O acolhimento do ditador de Adis Abeba em Harare tem de ser visto como a protecção de um companheiro de armas. O silêncio quando se verificam atropelos aos preceitos democráticos em qualquer dos países da antiga irmandade socialista em África faz parte de antigas estratégias que eram determinadas e comandadas a partir de Moscovo. Só que estes governos ditatoriais foram deixados órfãos por um regime que ao desmoronar, não deixou qualquer herança registada em termos de protecção aos seus satélites africanos. Aqui na região, os governos, uma vez desaparecida a União Soviética, optaram por se fecharem entre eles, assinando verdadeiros protocolos de auto-protecção.
Um velho combatente pela independência de Moçambique, Mariano Matsinhe, veio a público recentemente, afirmar que se convidado iria a Harare assistir à tomada de posse de Mugabe, que a ZANU era amiga da Frelimo e outras coisas do mesmo tipo.
Não se questiona amizades por serem históricas. Questionam-se comportamentos presentes que acabam sendo lesivos aos cidadãos de determinado país. O que aquele veterano (Mastinhe) disse não é por acaso. Há laços demasiado fortes entre as lideranças de nossos países. Há sobretudo uma recusa frontal em admitir uma alternância no poder por meios democráticos. Afinal no socialismo dito científico que praticavam, a figura de eleições com mais que um concorrente, multipartidarismo, alternância democrática eram palavras ignoradas.
Os nossos governantes de hoje transportam consigo comportamentos daqueles dias em que era proibido ter opinião diferente, que era considerado reaccionário qualquer cidadão que se atrevesse a manifestar um ponto de vista diferente da linha ou das orientações emanadas dos respectivos regimes.
Se alguma aparência de aceitação dos preceitos democráticos pode sobressair nos discursos, isso em geral é porque ainda não foram confrontados com uma séria possibilidade de perderem o poder.
É só recordar o caso das eleições autárquicas na Beira. Mesmo vencido o partido no poder, atrasou o reconhecimento dos factos e foi necessário um autêntico exercício de vigilância e protecção das urnas para se tornar impossível a manipulação. Os órfãos socialistas rapidamente se tornaram capitalistas e é só ver como eles próprios e sua prole actua e procede no quotidiano.
Aqueles princípios que alegadamente guiavam a luta pela independência foram esquecidos e enterrados logo que se conquistou o poder.
Nos dias de hoje, a dificuldade de compreender as linhas com que o nossos governantes se cozem, as alianças que mantém com os seus pares da região e do mundo, a arrogância e desprezo a que lançam hoje seus povos; todo um comportamento completamente distante daquilo que propalavam que queriam implantar em nossos países, era uma mentira. Ou tudo foi esquecido. Tudo o que é feito hoje por eles tem em vista um afastamento cada vez maior relativamente aos cidadãos. O capital deles reina e quem não consegue comer na mesa principal do banquete através de serviços prestados come as migalhas que caem para o chão. A dignidade dos povos passou a ser verbo morto. Para estes governantes, os mesmos que trouxeram a independência para nossos países, o objectivo principal da governação, a agenda que lhes preocupa é o enriquecimento rápido e com recurso a qualquer meio. Se não fosse esse o caso, já teríamos muitos ministros exonerados pois suas práticas estão longe da agenda que diziam ter aquando das eleições. Muitos dos elementos que fazem parte do governo parece que estão lá para assegurar que as coisas e interesses do chefe sejam protegidas e promovidas. Alguns dos negócios feitos ultimamente confirmam que não há interesse em separar os poderes democráticos e que não há interesse em separar interesses privados dos públicos. Que assim, nas aguas turvas, se colhe melhor.
As diversas tentativas em estabelecer uma agenda económica para o país aparecem quase sempre conotadas com interesses bem identificados das famílias sempre presentes nos grandes negócios. Nada disto é novo. Em Moscovo quando o mercado se tornou aberto, quando o capitalismo chegou ao Kremlin, procedeu-se do mesmo modo. Os bolos mais apetitosos foram abocanhados por pessoas ligadas à nomenclatura e as migalhas para os outros.
Compreendem-se as mudanças históricas, a globalização e a necessidade de se alinhar em novas dinâmicas. Mas não se compreende como é que pessoas que ontem empunhavam a foice e o martelo, através do uso de orientações e outros sistemas característicos do populismo se tornaram praticantes de um autêntico fascismo de esquerda.
É possível abraçar o sistema de mercado e ao mesmo tempo nivelar o campo de modo a os outros cidadãos tenham emprego, habitação, educação e saúde.
Sujeitar toda uma maioria a salários que na prática só compram dois sacos de arroz não pode ser chamado governar com consciência nacional.
Promover uma multiplicação inaceitável de práticas lesivas só porque isso permite que se continue a enriquecer é uma maneira medíocre de ver e fazer as coisas.
As heranças aceitam-se ou recusam-se. Porque o fardo despótico e de intolerância herdado do passado recente não serve os cidadãos e o desenvolvimento de nossos países, aqueles que de facto são lideranças continuarão a luta pela sua eliminação.
Fonte: Canal de Moçambique (2008-06-30 06:25:00)
Nota:
Amizade faz muitos de cegos e mudos. Mariano Matsinhe não é o único. Isso se pode provar pelo silêncio de muitos perante a situacão do Zimbabwe.
6 comentários:
Mais uma vez para testarem a seriedade dos nossos lideres africanos sem a intervencao do Ocidente nao conseguiram mencionar na cimeira da UA sobre o mugabismo e a sua sentenca por causa da eternidade no poder e paternalismo absoluto.
Aquele abraco
Eu acho que teram que surgir novos Mondlanes para salvar a mãe África do egoísmo, absolutismo, vitaliciedade dos Lideres deste continete. que desdém!... será que não estam a compreender que o mundo rejeita violência com os progressos educacionais se os povos africanos soubecem era prefirível ser explorado por um outrem do que com o meu próprio irmão africa é refém das independências. (acham se donos de nós e nossas vidas)
Pensa comigo
O culto do passado vai estragar Africa. Ha' pessoas que se acham, por exemplo, donas de Mocambique, porque tiveram a oportunidade de liderar o processo de libertacao. Nao pode ser assim! E' feio dado estar a representar um mau exemplo.
Voltarei ao topico, se necessario.
Dede'
Caros amigos, muitos governantes estão a me decepcionar. Agora vou usando muitos porque duma ou doutra forma há uns poucos líderes que entendem que o clubismo é um entrave do desenvolvimento da África.
A questão do Zimbabwe me leva a pensar que projectada por Mbeki, Guebuza, Pohamba na África Austral e outros tantos da África e cuidado com Omar Bongo.
Parece-me que Zedu está agindo com uma certa esperteza que merece uma análise profunda. Será que recuou para evitar-nos nas próximas eleicões ou é porque em Angola há vozes que o alertam sobre o impacto da sua proteccão a Mugabe?
Enfim, insisto que se queremos ser produtivos na questão do Zimbabwe é ao nosso governo que devemos exigir para agir conforme a vontade dos mocambicanos.
Ca' volto para dizer que "esperteza do saloio" e' uma histo'ria que constava dos textos escolares, com elevado poder educativo. Aos factos, e na esteira do te referiste em relacao ao Zedu, o xadrez politico angolano do momento obriga a que o chefe do estado angolado propicie uma engenharia diplomatica proto-activa que o coloquem em boa vantagem nos pleitos eleitorias que se avizinham face a uma UNITA rejovenescida e mais avida ao poder muito seriamente que dantes.
Caem, porem, 'a des/favor de Zedu e sua Angola no trato das questoes regionais dois pontos que acho fortes:
- As FAA (exercito) e demais poderes de inteligencia sao tidas como 'invasoras' e 'fixadoras' de democracias 'ficticias' em seu redor (ex. Congos Brazaville e Kinshasa, e Sao Tome e Principe);
- A presente paragem querelosa no relacionamento entre Pretoria e Luanda nas varias frentes (Politico-histoticas e da economia) abrem novas arrestas na arquictetura para o desenvolvimento de diplomacia proto-activa paralela ao da mais preferida por Thabo Mbeki diplomacia silenciosa, sob charneira e epicentro na comissao da SADC para a defesa e seguranca de que Angola preside.
Mas queria me conter aqui, para chamar atencao dos demais que num futuro breve veremos nascer ou ja' esta' acontecer o eixo politico-estrategico Windoek - Gaberone - Lusaka e Dar-es-salaam confirmado pelos recentes pronunciamentos dos seus lideres na questao zimbabueana.
Concordo contigo, Dede. Mas estou reflectindo sobre porquê Zedu opta pela esperteza saloio enquanto que Guebas continua apoiando abertamente a déspota Mugabe.
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