sexta-feira, novembro 09, 2007

Quando o conflito de interesse se manda passear

Segundo o jornal notícias na sua edição de hoje, os deputados da Assembleia da República decidiram hoje sobre as suas pensões que vão para 100 % do seu salário para quem esteve naquela casa do povo durante três mandatos consecutivos e 87 % para quem tenha lá estado em dois mandatos, sendo 55 anos se for mulher e 60 anos se for homem. Isto é interessante na medida em que:

a) As pensões para os deputados parecem ser altamente excepcionais em Moçambique e talvez.

b) Num país que até agora cobre apenas 50 % do seu mísero orçamento geral, donde virá o dinheiro que pagará em 100 respectivamente 87% dos seus altíssimos vencimentos em Moçambique? Talvez a resposta encontremos no comentário do Bosse Hammarström: Don't worry, the donors are footing the bill... (BH)

c) Quem decidiu isto foram os deputados, os únicos beneficiários. Então, será que eles mandaram passear as regras sobre conflito de interesse? Quem decide sobre as pensões dos professores, enfermeiros e pessoal médico, serão eles mesmos e as suas organizações sindicais?

6 comentários:

Anónimo disse...

É quase hilariante a emulação sistemática de habilidades e acções que mesmo em países notoriamente corruptos e atrasados como Portugal já provaram que são desastrosas e não são sustentáveis a longo prazo.

Ainda para mais, vindo isto de um país pobre como Moçambique. Se eu fosse um país dador acabava ou limitava seriamente as minhas contribuições face a uma situação vergonhosa como esta.

O artigo também é um pouco envergonhado quando não faça no valor dos salários, para ai, sim ficarmos verdadeiramente escandalizados. Falarmos em 50% ou 60% de um valor incógnito continua a ser um valor incógnito.

Mais ainda, eu acredito que em Moçambique e todo o mundo, os ordenados de quem nos representa nunca deveriam ser valores exorbitantes. É também uma bofetada na face um país com ordenados minimos de miséria ter glutões que agora pretendem andar indefinitivamente a sustentar uma turma muito mais alargada que o habitual.

No entanto, acho que isto é tudo uma excelente ideia. Eu segunda-feira vou é chegar ao trabalho e auto-aumentar-me em 50%...

Anónimo disse...

Tendo pensado melhor no assunto, a palavra "para quem esteve", parece justamente tocar no cerne da questão,

Terá esta medida efeitos retroactivos? Será possivel termos um deputado que cumpra um segundo mandato ou terceiro mandato, acumulando as pensões dos anteriores? (ou seja, um aumento de 120% no segundo, e um aumento de 180% no terceiro...) Com este tipo de integridade, não me admirava nada... As despesas de representação, estarão elas incluidas no pacote??

Por último, e colocando devidamente os pontos nos is, esta medida visa apenas alargar as fileiras de uma nova oligarquia vigente.

Reflectindo disse...

Sim, anónimo, é como o Bosse Hammarström comenta no seu blogue: Don't worry, the donors are footing the bill...

Este tipo de atitude mata também a democracia.

chapa100 disse...

reflectindo, boas perguntas as tuas.

Reflectindo disse...

Obrigado chapa 100. É pena que ninguem (nenhum deputado) quer responder as nossas perguntas.

Anónimo disse...

O deputado não tem ou deixar de querer. Se isto é mesmo uma democracia, os cidadãos tem o direito de saber quanto ganha cada um...