terça-feira, novembro 20, 2007

Análise numa perspectiva da Sociologia da Cultura

Por João Craveirinha

O Choro aos Mortos

É da praxe humana chorar os mortos com pesar (ou mostrar pesar falso) ainda que não seja universal no caso dos asiáticos e da tradição de alguns povos africanos e australianos (ditos aborígenes). Em algumas dessas tradições antigas, a passagem para outra vida seria de “festa” (fim de mandato neste mundo – descanso eterno) e não de luto preto, mas branco sinal de vazio e luz para “essa viagem sem retorno” na perspectiva de acerto de contas pendentes se foi um mau carácter em vida. “O que se semeou se colherá”. Sentir verdadeiro pesar pelos mortos é também comum em alguns animais da selva como os elefantes, lobos etc cetera. Só o crocodilo é que “chora por prazer” ao antever a presa. Daí as “lágrimas de crocodilo”. Também há humanos assim.

O Céu e o Inferno no imaginário colectivo

Na Europa, os conceitos de céu (paraíso) e inferno são heranças egípcio - faraónicas e seriam absorvidas pelo cristianismo e islamismo através do judaísmo. A dicotomia Luz e Trevas - Branco e Preto (estariam na origem do racismo de supremacia ocidental - europeus por serem mais claros = luz divina; africanos mais escuros = trevas do diabo). No cristianismo temos ainda os infernos (divina Comédia de Dante) heranças da mitologia greco-romana, por sua vez com influência dos persas e do hinduísmo das caixas de registo akashe (dos nossos actos em vida) e dos kharmas num ciclo contínuo de regresso (reencarnações) para “pagar dívidas comportamentais” ou ser premiado com uma melhor vida no além da “twilight zone” – noutra dimensão. Surge no hinduísmo o voto da humildade em vida para alcançar o “Nirvana” onde não há “Kharma” (ausência de causa - efeito / acção - reacção) só “Dharma” (anulação do destino de sofrimento e sem necessidade de regresso pela reencarnação). Estas premissas através do Yuga.

O Mundo dos espíritos africanos

Ancestrolatria

Nós os moçambicanos de cultura baNto (ou híbrida) temos um mundo hierárquico dos espíritos – divindades que habitam num Céu chefiados por um único Deus supremo: Kulukumba - Mungo – Ulungo – N’Thylo (correspondente ao Deus judaico –cristão -muçulmano) e a nível inferior estão os xicuembos (espíritos desencarnados) dos antepassados evocados nas missas tradicionais para pedir ajuda e na preparação do nosso lugar nesse além. Bem, quando não há “intercepção” durante a cerimónia, por parte dos shetuanes, madjines ou xiguevengos se assumindo como nossos familiares antigos para nos “enganar” (bem bastavam os falsos adivinhos, curandeiros e nhamessoros). Na realidade estas crenças se “baseiam” na vida real da dualidade do bem e do mal. Estes mundos metafísicos africanos se entrecruzaram com o cristianismo e o islamismo num afro-sincretismo religioso sui generis, aliás semelhante em todo o Continente Africano e transportado para a Europa e Américas durante séculos aos dias de hoje, incluindo os países nórdicos da fria crença na ciência e tecnologia acima de tudo.

Falecimentos, Pêsames e Hipocrisia

O Caso Nyimpine Chissano

Nos tempos do pós-modernidade (actuais) muita hipocrisia se encontrava subjacente ao choro das carpideiras (femininas) pagas na antiguidade para chorar nos falecimentos ou lágrimas de crocodilo masculinas num sentimento de pesar ou de luto fictícios nas condolências aos familiares do defunto. Tudo uma questão de “status” social.

No caso concreto da morte (19.11.2007) do cidadão moçambicano, Nyimpine Chissano alguns dirão que a justiça divina fez justiça outros dirão que foi a justiça do inferno, apesar de uma vida dourada rodeada de infinitos privilégios. Manhã cedo, há data da informação do falecimento, que anedotas “macabras” circulam em Maputo por telefones celulares (mensagens) e via espaço cibernético (não fosse essa herança lusófona de escárnio e mal-dizer dos portugueses o que seríamos?)

Mas bem no fundo (suponho), mesmo os que se dizem contra a pena de morte terão “rejubilado” com esta sentença de morte natural (aliás que todos nós teremos um dia se não for violenta) – num apagão definitivo do ténue elo à vida terrena. A hipocrisia dos sentidos pêsames serão a nota dominante em blogs e saites por esse mundo fora.

No entanto ficará por se concretizar a aplicação da justiça nos casos Siba-Siba e Carlos Cardoso e outros que eventualmente desconhecemos de prepotências várias. Com um profundo suspiro serão arquivados os dossiers. “Case closed” como diria um juiz em inglês na jurisprudência anglo-saxónica. E os intervenientes directos ou afastados destes casos Siba –Siba e Carlos Cardoso, dormirão com menos pesadelos.

Entretanto, os que se considerem mais justos que os outros ou injustiçados e desejem consolo, poderão ficar com o som e as imagens das “Mentiras da Verdade” no youtube, trabalho do jovem estudante universitário “kamikazi”, Azagaia: http://www.youtube.com/watch?v=b9IwDjrUNTE

João Craveirinha

(Simples escriba atento aos fenómenos da sociologia cultural nos comportamentos)

Anexo Texto antigo

21 Março 2003, sexta feira, n.6 – 355 W

Crónica de João Craveirinha

(escrita em Moçambique)

DIALOGANDO

Jornal Vertical e RDP

Texto lido por David Borges

– na altura director da RDP África - na data assinalada

FUTEBOL

O ÁRBITRO PAULÃO

E AS REGRAS DO JOGO

«JUDEX DAMNATUR QUUM NOCEM ABSOLVITUR»

(É CONDENADO O JUIZ QUANDO O CRIMINOSO É ABSOLVIDO)

IN MEMORIAM do ASSASSINADO

JORNALISTA CARLOS CARDOSO

Num particular jogo de Futebol um particular árbitro de primeiro nome, Paulão, teve uma tarefa árdua e difícil, em manter a disciplina no campo. O «match» foi entre a equipa dos Diabólicos, equipados a rigor de negro e roxo, obviamente, contra os Cinzentos com o símbolo da espada e da balança na camisola. Estes últimos são jogadores cautelosos por natureza.

A táctica dos Diabólicos foi entrar duro a «matar». Cinco de seus jogadores tiveram logo no início, cartões amarelos e um sexto foi expulso, com vermelho directo, por ter saído do relvado e agredido violentamente um espectador atento que protestava contra as regras do jogo.

De uma arrogância inaudita, o expulsado, abaixa os calções em sinal de protesto e o público assobiou em conformidade... O «desinfeliz» espectador foi levado em estado crítico para o Hospital. Levou uma cabeçada na testa e ficou incapacitado de protestar mais. O futebolista expulso é escoltado pela polícia para a sua protecção, não fosse o público «trucidá-lo», pelo acto bárbaro anti-desportivo.

Há inquietação no banco técnico dos Diabólicos. Os Cinzentos, pouco a pouco se impunham nas jogadas. O árbitro Paulão, às vezes calmo, às vezes impaciente e nervoso consultava o relógio. O tempo teimava em não passar rápido. O árbitro Paulão queria ver terminado este jogo de triste memória, o mais rápido possível. Mas o danado do tempo – relógio não colaborava…

…Com uma entrada de leão no início, a equipa dos Diabólicos, afrouxa o ímpeto. Entre si as jogadas sincronizadas pelo treinador e pela direcção do clube, falhavam. Entrada de leão, saída de pintos, mas pintos de abutres que um dia crescem e voam, se o diabo, senhor deles, quiser, e ajudar.

No lacónico e final relatório emitido, ficou registado que o árbitro Paulão, foi um bom juiz respeitador das regras do jogo… Lamentando apenas... o espectador agredido… nada mais de novo, havia a assinalar. Tudo voltaria aos «conformes» no reino do Futebol…

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