segunda-feira, outubro 04, 2010

“Temos que evitar injustiças que são a principal causa de instabilidades sociais”

Apela Dom Jaime Gonçalves, um dos mediadores das conversações de Roma

O Arcebispo da Beira acusa ainda o governo da Frelimo de ser autor da expressão “homens armados da Renamo”, para se referir “aos guardas da segurança da liderança do partido Renamo, segurança essa prevista no acordo de Roma.”
O Arcebispo da Beira, Dom Jaime Pedro Gonçalves, um dos mediadores das conversações de Roma que culminaram com a paz em Moçambique, esta preocupado com aquilo que considerou de falta de alguma cultura de paz no seio de alguns compatriotas, facto que nas suas palavras, não permite que o país goze de uma paz efectiva.
Para o Arcebispo da Beira, a paz não se consegue de uma vez para sempre. Ela, a paz, tem de ser desenvolvida e consolidada, feitos que se conseguem com uma série de actividades, como, por exemplo, o estabelecimento de “uma cultura de paz, senão a paz escorrega. Cultura de paz no relacionamento entre as pessoas, independentemente das suas cores politicas e religiosas, cultura de paz na imprensa e sobretudo uma cultura de paz no governo”.
Para se consolidar a paz, continuou Dom Jaime, tanto os governados assim os que governam precisam de superar muito as coisas que os apoquentam, como a pobreza e a analfabetismo. “É preciso perceber que a democracia pede uma certa formação das pessoas, portanto o país tem de apostar no ensino e numa boa governação”.
Para aquele prelado a conservação da paz exige, por outro lado, a renovação permanente do aspecto de reconciliação e uma boa administração da justiça. “Em suma, para consolidar a paz temos que apostar na paz preventiva”.
Dom Jaime explicou que a paz preventiva deve -se entender como um conjunto de atitude, ideias e pensamentos que se preocupam em não enveredar por actos que eventualmente podem levar as pessoas a provocarem uma instabilidade social, a violência, como, por exemplo, a retirada de liberdade das pessoas, opressão e repressão do povo.
Dirigindo-se especialmente aos dirigentes a todos os níveis, Dom Jaime apelou-os a reanalisar com frieza as decisões tomadas que podem implicar mudanças na vida das pessoas, mesmo que seja no futuro no sentido de evitar reacções violentas como as dos dias 1, 2 e 3 de Setembro passado, para não perturbamos a paz.

Manifestações de Setembro

“Aliás, aquelas manifestações, são a prova de que alguns compatriotas carecem de cultura de paz e que o país necessita efectivamente, de enveredar por uma paz preventiva. As manifestações foram sinónimos que indicaram claramente que a nossa paz precisa de ser trabalhada. Isso toca a cada cidadão e todos os dirigentes. Aqui eu volto a repisar que necessitamos de uma paz preventiva para evitar situações como aquelas ou piores. Aproveitemos este 4 de Outubro para reanalisar as nossas decisões antes de serem implementadas. Temos que evitar injustiças pois elas irritam a qualquer homem mesmo que não tenha muita ilustração académica”.
Continuo explicando que a paz não é só a ausência da guerra armada. Se o país viver uma instabilidade social provocada por alguma razão, como as de Setembro, então, não pode afirmar que se está em paz. Portanto, temos que evitar injustiças que são a principal causa de instabilidades sociais. Hoje podemos praticar uma injustiça mas a reacção aparecer só daqui a dois anos. Por isso, todos juntos temos que prever casos em que as acções do presente podem perturbar a paz no futuro. O dialogo para a explicação de certas coisas pode evitar tumultos no futuro”.
“Homens armados da Renamo”

O Arcebispo da Beira Dom Jaime Pedro Gonçalves, acusa o governo da Frelimo de ser autor da expressão “homens armados da Renamo”, para se referir “aos guardas da segurança da liderança do partido Renamo, segurança essa prevista no acordo de Roma”.
Dom Jaime explicou que a questão de segurança para ambas as partes foi duramente debatida durante as negociações em Roma tendo ficado acordado que as lideranças ficariam por algum tempo com a sua segurança de confiança que de forma gradual seria incorporada nas fileiras da policia, isto apos a realização das primeiras eleições gerais.
Para os negociadores de Roma, Segundo Dom Jaime, os então guerrilheiros de Afonso Dhlakama, não estavam em condições de serem filiados à policia sem antes beneficiarem de uma formação, pois, uma coisa é ser segurança em Maringue ou Gorongosa e outra é garantir a segurança das pessoas no seu todo.
“Desde as primeiras eleições até hoje, tal acordo alcançado em Roma não foi efectivado e ambas as partes podem explicar melhor o que aconteceu. Estranhamente, de um momento para outro, surgiu o governo a afirmar que Homens armados da Renamo para se referir a segurança da Renamo, prevista no acordo de Roma. Aproveito este 4 de Outubro para apelar ambas as partes a encontrar solução de um assunto que não é novo tanto no seio do governo assim como na Renamo. Acusações não nos levarão a lado nenhum e não adianta tentar resolver o assunto com recurso a armas de fogo que isso só pode piorar a situação. Apelamos a recorrerem o acordo de Roma ou outro dialogo para por fim a este diferendo” (Francisco Raiva)

Fonte: O País online - 04.10.2010

6 comentários:

V. Dias disse...

Corajoso este senhor.

Parabéns

Zicomo

Reflectindo disse...

Quem teve a possibilidade de acompanhar em directo, Rádio Mocambique, a reunião de Samora Machel com representantes das confissões religiosas, em Dezembro de 1982, na Beira, sabe de quão D. Jaime é corajoso.

Abdul Karim disse...

Entao...

Selecionamos ele pra Tribuna de Honra ?

Nelson disse...

Escutei anoite o D. Jaime no programa EM FOCO da R.M e tem um conceito interessante que ele apresentou. Chamou-lhe de PAZ PREVENTIVA

V. Dias disse...

Sim, seleccionado.

Ele é altamente corajoso.

Mais não digo.

Zicomo

Abdul Karim disse...

Confirmado,

Dom Jaime Gonsalves Selecionado pra Tribuna de Honra.

As Rolas Voam ! As Rolas Voam ! As Rolas Voam !

'E A Seleccao Nacional De Mocambique !

A Voar !