Dois anos após a invasão militar à casa do líder da Renamo, Afonso
Dhlakama, na rua das Palmeiras, na cidade da Beira, Lourenço do Rosá- rio dá a
sua versão dos factos. Ano passado, Do Rosário concedeu uma entrevista ao
SAVANA, tendo declinado tecer qualquer comentário sobre o assunto.
No entanto, esta semana, o SAVANA voltou à carga e o reitor d´A Politécnica
entendeu ter chegado o momento de contar a história. Lembrou que, depois da
emboscada que Dhlakama sofreu a 25 de Setembro de 2015, em Gondola (Manica),
que o fez regressar às matas, houve contactos entre o Governo e a Renamo no
sentido de viabilizarem a saída do líder da Renamo das matas da Gorongosa.
Nisto, conta o antigo mediador da paz, que foi contactado pela delegação da
Renamo para integrar a equipa que iria testemunhar a saída de Dhlakama. De
seguida, diz ter contactado o Governo para transmitir esta informação, uma vez
que era chefe da equipa dos mediadores nacionais.
Em resposta, o então chefe da delegação do executivo e ministro da
Agricultura, José Pacheco, tomou nota da comunicação e mandou que se
preparassem e que seriam acompanhados por uma delegação militar do Governo
chefiada pelo coronel Norton e outra da Renamo dirigida pelo falecido coronel
José Manuel. Chegados ao local no interior das matas da Gorongosa, encontraram
Dhlakama e com ele saíram até à cidade da Beira, local onde os mediadores se
despediram, referindo que dia seguinte estariam de regresso a Maputo.
De acordo com o académico, Dhlakama disse que iria seguir viagem a Maputo,
depois de conceder uma conferência de imprensa marcada para o dia seguinte, 9
de Outubro de 2015. Enquanto se preparavam para seguir viagem na referida
manhã, surgiu Ivone Soares, José Manteigas e António Muchanga comunicando-lhes
que a casa do seu líder estava sitiada por militares.
Lourenço do Rosário diz ter feito uma chamada telefónica para José Pacheco
para saber do que se tratava, tendo o governante dito que se tratava de uma
operação normal, que visava dar protecção governamental ao líder da Re namo.
Diz ter chamado a atenção a Pacheco, referindo que aquela operação em nada se
parecia com protecção, que regra geral é encabeçada pela polícia. Pelo
contrário, a operação estava a ser dirigida por militares fortemente armados.
Nesse instante, conta que Pacheco disse que iria consultar os seus colegas
sobre o que estava a acontecer e de seguida daria satisfações, facto que não se
verificou.
Preocupado com o assunto, o antigo chefe dos mediadores nacionais diz ter
contactado sem sucesso o ministro do Interior, Jaime Basílio Monteiro.
Dirigiu-se com os seus acompanhantes para a rua das Palmeiras, onde falaram com
o comandante da operação, que lhes disse que tinha a missão de recuperar as
armas que estavam em mãos alheias. Depois de terem levado algumas armas e terem
feito reféns alguns guerrilheiros da Renamo, o comandante insistia que havia
outras na residência e tinham de recolher todas. Nesse momento, Dhlakama disse
que só podia entregar as armas a uma pessoa do Governo e não a um comandante.
Assim, Lourenço do Rosário diz ter entrado em contacto com a governadora de
Sofala, Helena Taipo, que na ocasião disse que carecia de uma autorização do
Presidente da Repú-blica, Filipe Nyusi. Do Rosário diz que, através de Benvinda
Levi, conselheira do chefe de Estado, foi possível ter a referida autorização
e, deste modo, seguiu para em nome do Governo receber as armas. Acrescenta que,
fora as respostas de Pacheco, não houve outras e diz que não tem dúvidas que a
operação visava recolher armas.
Lourenço do Rosário diz que devido a esta situação não ficou bem na
fotografia aos olhos da Renamo e, daí em diante, rotularam-no juntamente com
outros mediadores, como coniventes da operação e isto por si só já denunciava
que não seria mais possível confiar na mediação nacional. Acrescenta que esta
situação é agravada pelo facto de que, na primeira saída de Dhlakama das matas,
ter sido acompanhado por embaixadores e não houve nenhum incidente e com os
nacionais sucedeu-se o contrário.
O académico diz que, apesar de ter sido rotulado de conivente, julga que
não ficaram mágoas com os dirigentes da Renamo e tomou como exemplo o gesto de
Dhlakama naquele dia, para que pudessem sair da sua casa. Recorda que naquele
ambiente em que a população estava em fú- ria e prometia linchar os mediadores,
o líder da Renamo subiu numa cadeira e com megafone mandou a popula- ção para
que se sentasse e disse: “Agora vocês vão deixar os meus amigos saírem” e assim
se sucedeu. A versão de Lourenço do Rosário coincide, em parte, sobretudo, na
parte dos telefonemas com o que o SAVANA havia avançado na edição a seguir ao
assaltado em casa do líder da Renamo na cidade da Beira.
Fonte: SAVANA – 10.02.2017
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