Canal de Opinião
por Adelino Timóteo
Temos duas
aristocracias: uma super-poderosa, outra detentora de mais elementares
poderes, A primeira dispõe de amplos poderes, É uma aristocracia de esquerda,
que por vezes se confunde com uma multinacional, pela complexidade da sua
origem entre a oligarquia e um partido dominante, mas é muito mais do que
isso, A outra é de direita, A nossa aristocracia dominante é quem determina a
marca "Made in Mozambique". A todos os níveis de vida: social,
económica, cultural e política. E a mesma aristocracia que decide que tipo de
embalagem se deve produzir e que tipo de rótulo é adequado, para consumo
interno e externo, Decide que consciências compram, que consciências devem ser
apagadas dos ficheiros, que consciências devem ser silenciadas,
A nossa
aristocracia criou diferentes tipos de classes sociais, Há os acomodados
sempre, os acomodados incertos, os expurgados eternos e os repescados, Os
filhos da nossa aristocracia são os meninos de seda.
Os acomodados
sempre são aqueles que, embora não tenham lutado, fizeram algo para merecer
honrarias, pois ajudaram a consolidar a poder da aristocracia com o seu saber,
pois estudaram na Europa do Leste, em Cuba ou no Ocidente, Os acomodados
incertos são aqueles que, embora tenham feito algo pela super-poderosa
aristocracia, ainda não provaram serem suficientemente leais para merecerem a
confiança total da mesma aristocracia, por isso comportam-se como indivíduos
da ralé, incluso por meio de insultos, estigmas e teorias exclusivistas, para
demonstrarem lealdade aos donos da multinacional e levá-los a abrirem os
cordoes às bolsas.
Os acomodados
incertos vagam pela * mídia*, desdobram-se em entrevistas e intrigas, para
diabolizarem os bebés chorões, que vivem do outro lado da barricada, brincaram
juntos na infância, mas escolheram seguir um curso de vida algo tortuoso, por
manifesta convicção nos seus princípios, por isso filiaram-se num e outro
partido infame, daí se alimentando de pedras, por a opção náo lhes servir para
levarem uma vida faustosa. Os acomodados incertos ainda estão nos primeiros
passos da escola.
A classe de bebés
chorões são aqueles que foram bons estudantes na faculdade e acreditaram
demasiadamente nas ideias. Os bebés chorões são aqueles que viveram a ilusão de
que podiam fazer as coisas por outra via, apesar de terem tido cumplicidades
anteriores com os acomodados sempre e acomodados incertos e até terem
contribuído na transição de classe, aos meninos de seda, que se não lhe
recordam pela vergonha de vê--los do outro lado da barricada. Os meninos de
seda, os acomodados sempre e os acomodados incertos expurgaram-nos de todas as
formas de convivência social, após fracassarem na repescagem. Os bebés chorões
aspiram às benesses, mas, para os amigos, pecam por serem leais aos princípios
éticos e cívicos. Pecam por demasiadamente obsessivos compulsivos, obsessivos
famosos e obsessivos críticos do sistema. Alguns dos meninos chorões conseguiram
superar a exclusão imposta pelos amigos de infância e da faculdade, por isso
vivem à margem dos demais que cederam à sua lealdade, daí são credíveis, mas
recordados como nada de fiar, diferentemente dos outros que conseguiram uma
posição relevante, mas aprenderam que o facto de terem sido demasiadamente
leais aos seus princípios empobreceu-os.
Aprenderam que a
vergonha não conta, mas sim a fim, como ter um iate, oferecer banquetes e ser o
centro de atenção na “mídia", nem que isso implique oferecer a cabeça de
alguém, vilipendiar Os bebés chorões aprenderam a táctica de usar o verniz por
cima. Aprenderam que o mais importante é o poleiro, saquear o Estado e comprar
as débeis consciências. Por estas alturas, os bebés chorões sentem a
conveniência de flutuarem com o vento. Piscam para a direita e depois para a
esquerda da direita, porque julgam-se acomodados incertos. Estão ameaçados de
cair e vivem piores tormentos do que os acomodados incertos do outro lado. Esta
classe de bebés chorões mostra-se agora com certo sentido de oportunismo e é
passível de criar terramoto.
A sua lealdade pode
ser adquirida pela oligarquia emergente e a super-poderosa, consciente de que
estas pugnarão por obras de caridades, distribuindo-lhes o queijo como meninos
candidatos ao bem-estar, mas desde que renunciem aos seus velhos pactos, às
suas velhas amizades* (Adelino Timóteo)
Fonte: Canal de Moçambique – 15.02.2017
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