quarta-feira, fevereiro 02, 2011

REFLECTINDO SOBRE “O ANO SAMORA MACHEL” (Conclusão)

Por: CRÓNICA Por: Gento Roque Cheleca Jr., em Bruxelas
Um incompetente não está em condições de dirigir e organizar. Para manter a sua posição imporá decisões, e como estas terão de ser erradas, ele impedirá a discussão e a crítica. Ao mesmo tempo ele oprimirá todos aqueles em quem sente qualidades superiores, porque conhecendo apenas a sua ambição, ignorando as necessidades do conjunto, ele vê na competência dos outros «concorrência». Samora Machel
A Companhia de Teatro Gungu do nosso conhecido ‘Tiririca’ doméstico, Gilberto Mendes, pode-se queixar de ter como seu figadal rival o partido no poder (a Frelimo) que, mesmo sem parecer um partido cénico, age politicamente como se fosse uma companhia de teatro. Exagera num ponto e noutros simplesmente passa a mão pela cabeça.
Vem este prólogo a propósito do partido no poder estar a perfumar a figura do primeiro presidente de Moçambique independente, Samora Machel, com discursos dourados e de querer agendar ‘homenagens de arco-íris’ como se na verdade os seus discípulos, os actuais tocadores do batuque e comedores da maçaroca, comungassem dos seus ideais.
Tudo não passa de uma peça teatral mal ensaiada para uma plateia de acólitos infiéis.
O autor destas linhas não tem a menor dúvida, se as lucubrações de Samora Machel fossem levadas à letra por quem de direito e as suas políticas de combate à corrupção um imperativo nacional, talvez já tivéssemos conseguido arquitectar um “governo farmácia”, único neste mundo em derrame dos valores culturais e éticos, capaz de curar todos os males que enfermam o nosso belo e maravilhoso país.
No interior do meu baú (daqueles que nem os cofres dos bancos suíços substituem a fibra da madeira nacional, a mesma que é enviada para as terras do antigo compadre do partidão, Mao Tsé Tung, no lugar de colocarem à disposição das nossas crianças que clamam por carteiras nas escolas públicas), rebusquei apenas três de um universo indescritível de “destilações samorianas” que merecerá a minha apreciação, sem antes abrir uma brecha para os que tiverem óculos com lentes de vidros (porque os meus serão provavelmente de madeira!), querendo, possam também dar as suas possíveis achegas em torno da interpretação destas lucubrações e/ou sobre este assunto.
Temos que compreender que a ignorância de um é ponto fraco colectivo e afecta o trabalho de todos. Como podemos aceitar por exemplo, que o nosso companheiro continue analfabeto, sem falar português? Será necessário, para alfabetizarmos esse camarada, para lhe ensinarmos português, que se reúna o Comité Central e vote uma resolução sobre isso?
Para quem anda distraído com os saldos da vida, recordo que este ano, à semelhança dos anos lectivos anteriores, milhares de estudantes (sendo que grande parte destes são crianças em idade escolar) foram empurrados para a ociosidade pelo Ministério da Educação alegadamente por falta de vagas nas escolas públicas. A plenitude do problema não esconde o tumor pernicioso que carcoma este Sector chave da sociedade moçambicana, sobretudo no que diz respeito à insuficiência de salas de aulas para absorver o “exército de estudantes” afunilados das escolas públicas, outrossim, o crónico problema de exiguidade de verbas para a contratação de novos professores. Isto para não falar da bagunçada do actual Currículo Nacional de Educação. A história moçambicana do analfabetismo não esconde um “réu”: o Governo. O Direito à Educação (disse bem Samora) não depende da vontade da Comissão Política, é um Direito inalienável de todos os cidadãos moçambicanos, independentemente da respectiva circunstância etária, social, profissional, económica, cultural, partidária ou territorial.
Um responsável que recuse ter calos nas mãos poderá fazer centenas de reuniões sobre a produção, mas isso não levará ninguém a produzir e não organizará uma só cooperativa.
Machel tinha noção das coisas que dizia, sabia perfeitamente quais eram as consequências dos seus débitos.
Compreendera, naquela atmosfera de tempo, que o ‘estômago do futuro’ não se alimentaria mais de discursos inflamados, mas sim de acções concretas. Não hesitava em colocar a mão na lama porque para ele, mão suja não significava ter que amputar o braço. “A sujidade lava-se em casa”, dizia. Infelizmente esta verdade é muitas vezes pontapeada pelos seus discípulos, razão pela qual famosíssimos projectos como é o caso da “Revolução Verde”, do FIL - Fundo de Iniciativa Local (vulgarmente conhecido por 7 milhões de meticais), da Jatrofa, etc., perderam o norte. As famosas “presidências-abertas”, que antes das manifestações de 1 e 3 de setembro eram feitas em frotas de helicópteros, não foram suficientemente fortes para mobilizar as massas a produzirem mais do que produzem. O povo outrora macambúzio percebera que discursos políticos carregados de demagogias são soros estéreis. Quantos “talhões de discursos” não jazem nas povoações onde o chefão fazia-se exibir nos céus e nas paupérrimas localidades do nosso país com aqueles ‘pássaros gigantes’? O exemplo vem de cima, dizem os cenobitas (os monges).
Costumamos dizer duma maneira vulgar, que aquele que tem bife na boca não pode falar. Por outras palavras, um responsável que é indisciplinado, por muito que fale de disciplina, só explicará na realidade a indisciplina e com a sua indisciplina vai fomentar liberalismo e anarquia.
E quem tem bife na boca? A minha resposta é: o Aparelho da Justiça, pronto está dito! A nossa Justiça funciona mal.
Em certos casos a Justiça moçambicana coloca tampões nos ouvidos, principalmente quando se trata de proteger figuras do poleiro partidário, por outro lado, coloca a boca na ‘vuvuzela’ para reivindicar a prisão de meia dúzia de desenrascados, coitados! O papel da justiça não é, na minha modéstia opinião, equilibrar a balança (quando a justiça envereda por esses caminhos demagógicos e estatísticos perde a sua essência e expõe-se ao poder político), mas sim zelar pelo cumprimento rigoroso da lei. Num Estado de Direito pode faltar e falhar tudo, menos a lei. Os males do nosso país acontecem porque a justiça funciona em ziguezagues. Como pode um governo falar de disciplina quando um dos seus pupilos chamou de vândalos ao seu próprio povo?
Dizem os botões da minha camisa que o 2012 será atribuído a Joaquim Chissano, sendo assim e porque ‘não se dança o tango sozinho, são preciso dois parceiros’, sugeria que dessa vez não esquecessem o general Afonso Dhlakama, afinal de contas estamos perante duas importantes figuras da gesta nacional. O líder da Renamo pode ser tudo e ter mil e um defeitos que  lhe são característicos e que todos nós conhecemos, mas merece um reconhecimento público por parte do governo, até porque é graças a ele que certos dirigentes do poleiro partidário ostentam uma riqueza de bradar os céus.
‘Kochikuro’ (Obrigado)
gentoroquechaleca@gmail.com
PS: Esta crónica termina com o desejo de rápidas melhoras ao Madiba (Nelson Mandela). Penso que é altura certa do nosso governo prestar uma singela homenagem a esta grande figura mundial que transcende a dimensão do seu tempo. Assim seja!!!

Fonte: Wamphula Fax – 02.02.2011

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