domingo, fevereiro 06, 2011

Recontagem de votos na Côte d'Ivoire é única solução

Maputo - O secretário executivo da SADC (Comunidade para o Desenvolvimento da África Austral), defende uma recontagem de votos, por uma entidade neutra, na Côte d'Ivoire, como forma de resolver um conflito que se arrasta desde Novembro.

Em entrevista à Agência Lusa, em Maputo, Tomaz Salomão afirma que o uso da força deve ser evitado, pois tal poderá mergulhar o país de novo numa guerra. O país vive numa crise depois de em Novembro passado as eleições terem ditado, tal como foi reconhecido pela maioria da comunidade internacional, a derrota do Presidente, Laurent Gbagbo, que se recusa a deixar o poder para Alassane Ouattara.

"Os processos eleitorais são válidos na medida em que acima de tudo respeitem as leis que os regem, os procedimentos e os processos. E neste caso da Côte d'Ivoire o processo que leva ao anúncio dos resultados é um processo ferido de inconstitucionalidade, e ninguém fala disso", disse Tomaz Salomão à Lusa.

De acordo com a leitura do responsável, Laurent Gbagbo não quer ficar indefinidamente no poder mas que uma equipa neutra conte os votos. E "os que se precipitaram a forçar o anúncio dos resultados, numa zona de tensão como a Côte d'Ivoire, têm de assumir as suas responsabilidades e aceitar que o processo que levou ao anúncio dos resultados não foi o mais correto, levando-se ao extremo de os resultados serem anunciados por alguém que não tem autoridade eleitoral".

Tomaz Salomão lembra que o país teve no passado uma guerra que o dividiu e teme que qualquer imposição de uma solução possa reacender conflitos.

Na última cimeira da União Africana (fim de janeiro) foi criado um painel para resolver o problema da Côte d'Ivoire, porque há soluções, ao contrário da Somália, que é "um Estado falhado" e outro grande problema que África tem por resolver, exemplifica.

Na entrevista à Lusa o responsável da SADC, moçambicano, economista de formação, diz que na Somália nem sequer há interlocutores e que nem estão lá os que ordenam a pirataria e negoceiam as libertações.

"A solução está em primeiro lugar em estabelecer-se com quem se deve falar, quem são essas figuras invisíveis, e há formas de se chegar a elas. Em segundo lugar é o processo de reedificação da moral e da integridade de um Estado e do refazer de uma geração que hoje encontrou nas armas uma forma de sobreviver", diz.

E conta que visitou recentemente alguns piratas presos nas Seychelles e que ficou "traumatizado": "São jovens de 14, 15, menos de 20 anos, que estão envolvidos, que não têm nada a perder e a quem é dito 'a tua função é voltar aqui com presos, reféns, para negociarmos, enquanto não tiveres isso não voltas aqui'".

Mas a própria SADC (15 países) tem problemas, a começar pelo Zimbabwe, onde considera que não há condições para a realização de eleições este ano, devendo antes continuar-se o processo de estabilização e recuperação económica, ao mesmo tempo que se consolidam as instituições encarregues de gerir os processos eleitorais.

No Lesotho, em clima de instabilidade há cinco anos, Tomaz Salomão espera que se realizem eleições em 2102 e que só depois disso o povo decida se quer ou não continuar independente, sendo que há opiniões de que o país se devia integrar na África do Sul.

E Madagáscar, em crise há dois anos e para onde o secretário executivo da SADC espera uma solução em breve, assim as "pessoas imprevisíveis" envolvidas no processo de reconciliação aceitem o que elas mesmo assinaram.

Fonte: Angolapress - 06.02.2011

Reflectindo: 1) Creio que é 2012 em vez de 2102. 2) O Clube da SADC sabe melhor lidar com processos eleitorais que a CEDEAO, não será? E dirá Tomaz Salomão que não sabe disto aqui?  Como é que a SADC sabe que Gbagbo não quer ficar indefinivamente no poder? E se essa proposta de recontagem dos votos foi feita e acolhida para eleições de 1999 em Moçambique?

1 comentário:

JOSÉ disse...

Esta postura da SADC não surpreende ninguém, sentem-se incomodados quando o Povo rejeita os governantes.

O moçambicano Tomaz Salomão afirma:

"Os processos eleitorais são válidos na medida em que acima de tudo respeitem as leis que os regem, os procedimentos e os processos".

A sério, Senhor Salomão? E o que se passou no Zimbabwe? Este mesmo Tomaz Salomão afirmou na altura que as eleições no Zimbabwe tinham sido livres e justas!

Porque a SADC nunca sugeriu uma recontagem de votos quando foram verificadas falcatruas em muitas mesas de voto em diversas eleições em Moçambique?