domingo, fevereiro 06, 2011

A hora do continente "está a chegar"

Maputo - A hora de África "está a chegar" mas terão de ser os próprios africanos a "assumir essa responsabilidade", diz o secretário executivo da SADC (Comunidade para o Desenvolvimento da África Austral), Tomaz Salomão.

Em entrevista à Lusa, Tomaz Salomão, das personalidades mais influentes na África Austral, fala do passado e futuro do continente e diz que as revoltas que estão a acontecer em países do norte eram inevitáveis e fazem parte de um processo histórico.

No geral traça um quadro otimista do continente, do qual se fala na maior parte dos casos aliado a guerras e conflitos, fome, miséria e corrupção.

O responsável, moçambicano de origem, economista de formação, lembra que passaram 50 anos sobre as primeiras independências e que há países que são livres há apenas três décadas, e recorda também que o continente foi desde então "assolado por uma série de conflitos" e metade dos seus habitantes vive abaixo da linha da pobreza.

"É isto que induz a que se olhe, correta ou incorretamente, para África como um continente de fome, pobreza, golpes, corrupção, ausência de saúde, falta de governação. E quando se pinta o continente é apenas isto que se apresenta, não se apresenta o que os africanos estão a fazer de positivo e aquilo que África pode oferecer como potencial para amanhã se poder transformar num parceiro internacional", diz.

Mas avisa: "ninguém virá aqui resolver os problemas".

"Chegou a hora, e esta é a apreciação e perceção da nova geração, em que os africanos têm de pegar no destino do continente pelas suas próprias mãos e assumir as responsabilidades nas questões que dizem respeito à governação, democratização, consolidação da democracia, lançamento das bases para o processo de desenvolvimento, e apresentarem o continente como um destino obrigatório para o investimento", afirma, garantindo que África é um continente "de esperança".

O continente está numa fase de "consolidar processos democráticos", pelo que nem sequer o assusta o facto de só este ano haver em África 17 processos eleitorais, por norma momentos geradores de tensão. "Se dos 17 acontecerem um ou dois pontos de tensão acho normal, na rota em que estamos de consolidação".

Tomaz Salomão considera natural os protestos que estão acontecer no norte de África, primeiro na Tunísia e depois no Egipto, resultado da aldeia global em que o mundo se transformou, onde toda a gente tem acesso informação sobre valores, direito de reunião, de ser ouvido, de ver os seus direitos respeitados

"Não temos a certeza para onde isto caminha mas o que se deve dizer é que, contrariamente ao que aconteceu na Tunísia, onde as manifestações foram de alguma forma pacíficas, hoje assiste-se a confrontos (no Egipto) que já levaram a perdas humanas, esta é a parte triste", diz.

Mas é também "parte de um processo histórico que havia de acontecer um dia" e que não deve ter reflexos na África subsahariana, onde os países já tiveram as suas revoltas, e algumas muito violentas, diz Tomaz Salomão, acrescentando que aquilo que os africanos (do sul) precisam "é um pouco de paz, de tranquilidade" para se concentrarem no processo de desenvolvimento.

Fonte: Angolapress - 06.02.2011

4 comentários:

Abdul Karim disse...

Aqui concordo com Tomaz Salomao,

Esta mesmo chegar a "Hora de Africa"

Vamos la ver se temos maturidade suficiente para nao deixar passar a Hora, e ainda posicionarmo-nos como "um pais do futuro" em Africa,

Isso vai requerer muita humildade, boa vontade, muito trabalho de todos Nos, Mocambicanos, Juntos, Unidos.

Anónimo disse...

Abdul,

Discordo com Tomáz Salomão, que se esconde por trás da hipocrisia dos chefes de Estado e de governo da Comunidade de Desenvolvimento da Africa Austral (SADC), um organismo que repetidamente mostrou a sua falta de vontade na implementação dos próprios valores e princípios. Mesmo o secretário-geral da SADC deve ser julgado pelo desempenho na implementação da democracia, dos Direitos Humanos e do Estado de Direito na Africa Austral, incluindo o Zimbabué. Porque o senhor Salomão sempre fugiu à realidade dos problemas daquele país (“não há crise política no Zimbabué”, foram seus palavras no mês de Junho de 2008)?

Se ele considera natural os protestos na Tunísia e no Egipto, porque não considerou aceitável os confrontos de Maputo? De onde ou de quem o Salomão sabe que as revoltas populares de Maputo não são partes “de um processo histórico que havia de acontecer um dia"? A Africa Subsaariana precisa de paz e tranquilidade, disse o amigo de Mugabe. Que a União Africana (ou a SADC) seja por vezes dirigida por ditadores, é quase normal, adiantou, ignorando a carta da SADC sobre eleições livres e justas. Mas como se sabe, reflexos são reacções inevitáveis de um ser humano a estímulos periféricos, como desemprego, pobreza ou injustiça social. Mesmo no sistema nervoso da Africa Austral, os nervos de estudantes, trabalhadores e desempregados, jovens e velhos, afinal coordenam a actividade dos músculos políticos. Não a hora de África "está a chegar", está a chegar a hora dos povos africanos, gente como tu e eu.

Um abraço
Oxalá

Abdul Karim disse...

Oxala,

Tens razao,

"Esta a chegar a hora dos Povos de Africa", sem duvida, tens muita razao, 'e isso mesmo.

Reflectindo disse...

O grande problema é mesmo esse, SADC não é democrática. O SG foi/é indicado por um partido e não pelo povo. Nada podemos esperar desse SG senão defender o seu partido e os partidos amigos do seu próprio partido. Se fizer isso, já sabe quando regressar de Gaborone.
Na minha opinião, temos que exigir que SADC seja um organismo democrático e não continuar como clube de líderes dos movimentos independistas.