quarta-feira, dezembro 08, 2010

Costa Do Marfim: Isto Assim Nos Poderá Levar Ao ‘Guinnesses Book’!

Por Gento Roque Chaleca Jr., em Bruxelas


“Cada vento com a sua tosse / cada tosse com a sua terapia: ou seja, cada doença com o seu remédio, e cada remédio com a sua doença” – Francisco Z. Mataruca, poeta e historiador moçambicano.
Os ventos da fraude eleitoral voltaram a constipar o nosso continente. É mesmo assim a nossa África Rainha: é um pêndulo que oscila entre a pobreza extrema e a corrupção generalizada, incluindo a questão da fraude eleitoral.

Exceptuando as raras ocasiões em que o “Desporto Rei” (futebol) consegue embalsamar as contendas, os restantes momentos em África são de intensos conflitos de colocar em causa a nossa inteligência humana como africanos, mas sobretudo, como seres pensantes. Salazarismo e hegelianismo à parte. “O analfabetismo não tem etnia nem nacionalidade, muito menos se resvala na pigmentação da cor. É um mal de todos nós”, disse o historiador moçambicano Francisco Z. Mataruca.

É uma coisa incrível o que está a acontecer com o nosso continente. A maioria dos nossos líderes africanos, salvas raras excepções, antes de serem eleitos pelo povo comportam-se como emissários de Deus que, de tão milagrosas quanto proféticas as palavras que emitem, até seriam capazes de curar um enfermo! Uma vez no poder é para sempre. O vírus do poder e do autoritarismo exasperado corre-lhes nas veias como correm as águas do Zambeze em tempo pluvioso, e depressa se tornam em filhos genuínos de Lúcifer. Nem o soro curativo seria capaz de purificar aquelas mentes para quem o poder é o ar que respiram.

Nada neste mundo os demove do poder. Mesmo doentes, incapazes ou inválidos, arranjam uma forma de se perpetuarem no poder. São assim os piores ditadores como é o caso deste “micróbio”, Laurent Gbagbo, candidato derrotado na segunda volta das eleições presidenciais de 28 de Novembro. Para Gbagbo e a sua claque, o veredicto popular não tem nenhuma expressão nem pode ser digno de respeito, porque, como tem sido hábito em África, a culpa recai mais uma vez para os doadores, estes que não muito tempo antes possuíam “estatutos de salva vidas”, eis a principal razão por que os ditadores se mantêm no poder de pedra e cal.

Quando Gbagbo se recusa em aceitar o veredicto do povo e da Comissão Eleitoral In-dependente da Costa do Marfim está a assumir claramente que aquele país (Côte d'Ivoire, em francês) não existe, é apenas uma propriedade sua e da sua claque. Penso que este tipo de atitude deve ser severamente condenado pela Comunidade Internacional e não basta, apenas, apelos ou mensagens cíclicas. Um ditador como Gbagbo, que não respeita a decisão dos órgãos eleitorais e a vontade popular, pelo contrário, faz do povo carne para calhau, não pode continuar no poder ao seu belo prazer.

A União Africana (UA) e a Comunidade Económica dos Estados da África Ocidental (CEDEAO), bem como outros tantos organismos africanos que velam pela paz no continente não deviam, a meu ver, compactuar com Gbagbo em “nome da velha aliança”. Quando digo “compactuar” refiro-me exactamente a inércia que se verifica nas fileiras das diplomacias africanas. É preciso mais do que apelos para “arrancar o mal pela raíz.”

Apelos não removem ditadores. É preciso um bom guindaste para expulsar Gbagbo da presidência costa marfinense.

Nem sempre socorrer não é salvar. A questão da Costa do Marfim não se pode resolver por via de apelos (perdoe-me o leitor a insistência no uso do verbo “apelo”, às vezes uma boa dose do verbo pode curar um mal maior).

O caso da Costa do Marfim é grave.

É, na verdade, daquelas situações em que o poder económico e força da paz devem intervir rigorosamente. Deixar que o ancião Bbagbo viole os Direitos Humanos (a fraude eleitoral é também uma questão de Direitos Humanos, porquanto amputa à liberdade de expressão dos povos) é catalogar uma receita para seguidores do autoritarismo.

Como é sabido, em África, os maus exemplos criam escolas e seguidores.

A caminhar assim: com a Madagáscar a jorrar sangue (nem o nosso diplomata-mor, Joaquim Chissano, foi capaz de colocar aqueles políticos a se entenderem); a Somália que já leva meio século de carnificina, cujas vítimas e consequências deixaram de ser notícia nos receptores do mundo; a nossa “irmã” Guiné-Bissau já se sabe: é um Estado doente; o nosso vizinho Malawi anda a ziguezague e não falta muito para a pólvora arrebentar; o Sudão é um palco de tragédias; o nosso “compadre” Zimbabué é um caso de terapeutas e de psicólogos; o Congo, a Nigéria e a nossa amiga Angola (entre um país rico e pobre a irmandade é uma questão de discurso enfadonho) continuam a mostrar que são alérgicos ao progresso; finalmente, o nosso país, Moçambique, onde o executivo já tenciona criar uma monarquia com a revisão da Constituição da República. A África corre o risco de um dia vir a ser o primeiro continente no mundo inteiro a constar do livro dos recordes mundiais (Guinnesses Book).

Assim vai o país de Didier Drogba! Assim vai a Costa do Marfim! Assim vai a nossa África!

Fonte: O AUTARCA – 08.12.2010

1 comentário:

Anónimo disse...

XIPÁ!
Guinesses book é o que está a dar.
Graça virou Machel para Mandela.2 Presidentes de Países diferentes.Adiantou-se primeiro a alma do marido, que lavrou a terra com sangue (perdão, com rodas de Ilyushin), libertou o Nelson ..estava escrito...e o homem ainda de pé com 90 anos-valeu a pena cadeia-porque se estivesse fora, já tinha morrido em rixas, doença, acidente,HIV ou cansado de ser escravo-explorado.Mas entretanto, transformou-se no africano de todos os tempos-a cadeia temprerou-lhe e deu-lhe boas luzes.Guiness vencido.
Agora Cote de Ivoire-2 PR e 2 PM-Guiness vencido.
Recentemente em disputa de gigantes-Guiné ou Moçambique-quem tem o "corredor da casa mais larga"
em África?Quem será vencedor do Guiness do "corredor"?