Por António Antique
A chamada à reflexão é oportuna e reflectir é lembrarmo-nos primeiro, do trajecto percorrido e projectarmos o trajecto a percorrer no âmbito da emancipação da mulher. Concordo plenamente com a Linette que a emancipação da mulher é o dever dos homens e o direito das mulheres. Tal dever nosso, eu também como homem, não significa fazermos ao que até hoje fazemos – uma emancipação de o inglês ver – que na realidade significa termos a mulher como flores ou para convencermos ao mundo que lutamos pela igualdade. Nós temos que abandonar as posições que das mulheres usurpamos, deixar a mulher a ter a mesma “maioridade” que nossa.
Lembro-me que nos meiados da década 80, um administrador dum posto administrativo em Nampula, disse em conversas que nunca deixaria à sua mulher a trabalhar fora da casa, isto é, a tomar um trabalho remunerável. Contudo, trata-se de um homem que tinha que ter mulheres ao seu lado nas suas “banjas”. Esta experiência, penso que exige-nos a reflectir sobre o que é emancipação. Será trabalhar para emancipação da mulher, quando fazemo-la representante em trabalhos não remuneráveis e sobretudo tocar “elulu” (alaridos em macua) para mobilização ao poder do homem, prejundicando nas suas actividades de subsistência?
Mais um caso de reflexão, foi um despacho do Ministro da Educação, em 2004. No despacho se impunha ou se impõe, pois que nunca ouvi que o fora revogado, que as raparigas grávidas deviam ser expulsas do curso diurno ou da escola. Primeiro, nesse despacho não dizia nada sobre os rapazes que engravidam, provavelmente são em número superior se se pudessem detectá-los.
Segundo, a tal medida não tem em conta à situação dum grupo vítima do homem. Afinal quem engravida as raparigas? Entre elas é que não. Então, porquê penalizar à vitima?
Terceiro, a medida não deu/dá conta que prejudica a toda uma sociedade. Parece que até hoje, nós homens não entendemos que o combate à pobreza absoluta passa primeiro pela educação da mulher ou usando uma expressão mais simples que o combate ao analfabetismo passa primeiro pela educação da mulher. Talvez podessemos provar os dois casos: um agregado familiar onde a mulher tem salário ou o contrário; um agregado familiar onde a mulher sabe ler ou o contrário.
É sem fundamento o argumento de que uma rapariga grávida na escola, constitue um escandâlo. Como professor e director de diferentes escolas já tive alunas grávidas e não escapei a aplicar a tal medida, embora na altura fosse informal, mas tive uma boa experiência em 1984, quando estando prestes a retirar da escola uma rapariga por motivos de gravidez, uma professora e irmã de caridade me aconselhou que a deixasse fazer os exames da sexta-classe. De facto, ninguém se sentiu escandalizado excepto umas duas pessoas que queriam usar ou abusar o poder para reduzir o número de moçambicanos e, em particular, de mulheres com o nível da sexta-classe.
Porém, dá para reconhecer que Moçambique não é dos piores países quanto à luta pela igualdade entre os homens e as mulheres. Em algumas áreas, por exemplo, na política, Moçambique é estatísticamente melhor que muitos países economicamente melhores como por exemplo a França, Estados Unidos da Ámérica, Itália e Portugal. Moçambique ocupa hoje o 100 lugar dos países com maior número de legisladores. Moçambique tem uma mulher Primeira-Ministra; Uma mulher chefe duma bancada parlamentar, ministras, governadoras, delegadas provinciais do principal partido da oposição, etc. Essas são coisas que orgulham a quem é pela igualdade em direitos entre homens e mulhres, de quem luta pela emancipação da mulher. Mas reconhecendo a importância da igualdade e das tarefas da mulher, temos ainda um caminho longo a percorrer. Nós temos que nos lembrar que os países que em termos gerais estão no topo, quanto ao número de mulheres no Parlamento (Ruanda, Suécia, Noruega, Finlândia, Dinamarca, Holanda, etc.,) trabalham ainda arduamente neste âmbito.
Para que o nosso esforço seja efectivo, repito, nós os homens temos que deixar as mulheres a decidirem por si, porque elas são maiores precisamente como nós somos; a nossa sociedade deve priorizar à educação da mulher, porque só ela [educação] lhe permite à verdadeira emancipação. Precisamos de sair da teoria de igualdade de direito entre homens e mulheres à prática. A questão de quotação em todos sectores vitais, sobretudo no governo e nos partidos deve estar na ordem do dia. A quotação é melhor na medida em que ela é meta claramente definida para atingir. A quotação torna-nos conscientes, sobretudo a nós, homens, que tantos lugares são para se ocuparem pelas mulheres. Há que notar que a questão de quotação não tem a ver se um partido é da esquerda ou da direita. Na Suécia e noutros países nórdicos, quase todos os partidos aplicam este método.
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2 comentários:
MUAPARA AMUZI, estava de passagem mas fiquei surpreendido com este teu post sobre a emancipacao da mulher, confesso com todo gosto e humildade que gostei muito e ate te peco par te citar ou postar no meu blog e assinar em seu nome. As suas abordagens ha um casamento com os meus.
A questao da mulher, os seus direitos a sua abertura e o seu enquadramento na esfera social sao minhas areas.
Ola encontrei este artigo seu muito bom aquando das minhas pesquisas sobre a medida de suspensão temporaria das alunas gravidas da escola. Em Cabo Verde ate esta data passa-se o mesmo. Gostaria que me informasse caso saiba e conhece um estudo sobre a avaliação dessa medida de suspensão das gravidas em Moçambique, pois me disseram que a medida foi abolida aí. Estou a fazer uma pesquisa sobre boas praticas nessa materia em Africa e gostaria de ter info sobre a situação de Moçambique. Obrigado : )
O meu email isaelias@gmail.com
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