Polícia inicia ladainha do “estamos a trabalhar”
- A ocorrência acontece numa altura em que o grupo dos
antigos secretas do governo continua a reunir-se duas vezes por semana para
concertar posições
Naquilo que pode ser mais um caso de “queima de
arquivo”, foi assassinado na madrugada de sexta para sábado, o cidadão Inlamo
Ahamada Ali Mussa, figura que, apesar de marginalizada, ainda pertencia aos
quadros operativos dos Serviços de Informação e Segurança do Estado (SISE). Sem
medo e sempre na perspectiva de exigir os direitos que dizia estarem-lhe a ser
negados por parte do governo, Inlamo Mussa vinha sendo, nos últimos 10 anos,
uma pedra no sapato do executivo de Maputo.
Inlamo Mussa denuncia tudo e todos, particularmente o
comportamento dúbio e promíscuo de altas patentes das Forças de Defesa e
Segurança (FDS), com especial atenção para os Serviços de Informação e
Segurança do Estado.
Na mídia independente nacional, dezenas são os
documentos existentes, resultantes do punho de Inlamo Mussa, denunciando e
exigindo que o Estado lhe pague o devido, em resultado da sua participação em
várias missões de risco ao serviço do Estado moçambicano. Uma das missões de
alto risco assumido por Inlamo enquanto operativo do SISE foi infiltrar-se na
Renamo. A missão era buscar preciosas informações para o governo,
particularmente nas vésperas do Acordo Geral de Paz. Ele entrou para os quadros
do SISE em 1988.
Estamos a trabalhar
Depois de ao longo do fim-de-semana e na
segunda-feira, ter negado confirmar a identidade do cidadão assassinado, só
nesta terça-feira, a Polícia da República de Moçambique ao nível da província
de Maputo confirmou que efectivamente se trata de Inlamo Ahamad Ali Mussa.
Em relação às circunstâncias do assassinato, a Polícia
pura e simplesmente rejeita partilhar qualquer informação, com base no velho
argumento da necessidade de preservar a informação para, alegadamente, não pôr
em causa o andamento das investigações.
“A identidade que temos é efectivamente Ahamad Ali.
Neste momento estamos a trabalhar com base nas informações que pudemos colher
no local da ocorrência e com base nas informações que vamos recolhendo dia após
dia” – disse Emídio Mabunda, porta-voz da Polícia da República de Moçambique,
ao nível da província de Maputo, quando questionado pelo mediaFAX sobre as
circunstâncias do assassinato.
Entretanto, as populações residentes nas proximidades
do local onde foi morto o antigo secreta não tem dúvidas de que se tratou de
uma execução extra judicial. Ou seja, o homem foi capturado nalgum sítio e
levado por agentes policiais à paisana para o local da execução sumária.
Segundo testemunhas, foram dois tiros certeiros na
cabeça, o que denuncia uma clara execução. Aliás, Inlamo Mussa foi executado
algemado.
Os executores não tiveram nem tempo de retirar as
algemas depois de consumar o acto.
“Estamos a trabalhar com todas as pistas, inclusive
estamos a trabalhar com a família do assassinado”- repetiu Emídio Mabunda,
quando o mediaFAX insistiu querendo saber das reais circunstâncias da execução,
incluindo o facto de ter sido algemado antes da consumação da acção criminosa.
Antigos secretas continuam a exigir seu dinheiro
O assassinato de Inlamo Mussa acontece numa altura em
que o grupo dos antigos secretas do governo moçambicano continuam em reuniões
bi-semanais concertando posições e definindo estratégias para o sucesso das
suas reivindicações.
O grupo reivindica pagamento de subsídio de reinserção
social e ainda a necessidade de aumento da pensão, pois a actual é por eles
considerada como “pensão de fome”.
Durante o reinado de Armando Guebuza, o grupo de cerca
600 antigos espiões conseguiu por diversas vezes manifestar-se em frente às
instalações da Presidência da República, realidade que obrigou o antigo
presidente a enviar seus representantes para dialogar com o grupo.
No âmbito das reivindicações, o coordenador do grupo,
Adolfo Beira, chegou a ser detido pelas autoridades policiais e mantido por
cerca de quatro meses nas celas da Brigada Operacional da Machava. Liberto,
Adolfo Beira continua a comandar o seu grupo de antigos espiões.
Fonte:
mediaFAX - 12.08.2015
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